Capítulo 2

Vinícius olhou para o pátio sem acreditar. A silhueta do corpo delicado de Laís estava ali, em silêncio, em pé. Seu rosto delicado estava corado e radiante, sem vestígio daquela palidez doente de antes.

— Laís, você resolveu voltar? Não importa qual seja a sua doença, eu vou fazer de tudo para te curar. Por favor, não vá embora de novo.

Eu nunca o tinha visto ser tão doce e afetuoso, era como se ele estivesse contemplando o seu bem mais precioso. Quando ele olhava para mim, seu olhar carregava apenas uma frieza cortante.

Se ele não me amava, por que então se casou comigo? Por que me arrastou para esse casamento tenebroso?

Laís aninhou-se no peito de Vinícius.

— Vini, na verdade, eu estou curada.

Ela contou a ele as aventuras que teve no estrangeiro. Ao que parece, após ir para fora, ela caiu num profundo desespero e quase pôs fim à própria vida. Até encontrar um médico excepcional local que, com apenas alguns remédios, conseguiu curar a doença renal que a atormentava há anos.

Radiante por ter sua amada de volta, Vinícius não desconfiou de nada.

— Que bom que você está curada. Daqui para frente, nada nem ninguém vai nos separar. — Ele abraçou-a com força e murmurou.

Que cena bonita, eles pareciam um casal perfeito.

Eu apenas observei tudo aquilo, sentindo meu coração apertar até faltar ar.

Todos tiveram um final feliz, menos eu, que morri tragicamente no meio do nada.

Eu chorei e gritei perguntas para o Vinícius, mas nós já estávamos separados pela morte. Ninguém podia me ouvir.

Não notei, mas Vinícius lançou um olhar estranho na minha direção, como se pressentisse algo.

Ele levou Laís para o nosso quarto principal e, carinhosamente, puxou o cobertor para cobri-la.

— Você acabou de se recuperar, Laís. Fique aqui e descanse um pouco.

— Vini, eu estou com medo. Você pode ficar aqui comigo? — Laís disse com voz melosa e segurou a mão de Vinícius.

Eu sabia que Laís nunca teve medo do escuro. Só eu, que, na infância, fui abusada num quarto escuro do orfanato, nunca ousei dormir com as luzes apagadas.

Quando eu pedia ao Vinícius a mesma atenção, ele franzia a testa e dizia que eu era dramática e estava exagerando.

Não fica com ela, Vinícius. Se ficar, eu terei a certeza de que você nunca me amou de verdade.

Ele não respondeu a Laís, apenas sorriu indulgente.

— Ah, você... — Disse e, sem hesitar, puxou o cobertor e deitou-se ao lado dela.

Fiquei ali, parada, boquiaberta. Fui tão tola, imaginando que poderia me comparar a Laís. Deveria ter imaginado.

Laís olhava para Vinícius com os olhos encantados. Seus dedos deslizaram pelo rosto dele, da bochecha para baixo, num gesto sugestivo.

— Você acabou de se recuperar, para de graça. — Vinícius disse e segurou sua mão.

Enquanto os dois caíam no sono, a minha consciência foi, aos poucos, ficando turva. Felizmente, como espírito, eu não precisava dormir e nem me sentia cansada.

Quando recuperei a consciência, já estava no andar de baixo, seguindo Vinícius.

A equipe de segurança, que guardava a entrada da floresta, relatava a situação.

— Sr. Vinícius, a Sra. Alice não deu sinal de vida há dois dias. Os rapazes estão preocupados. Devemos procurá-la e trazê-la de volta?

O homem que, há pouco, deu um beijo de boa noite na testa de Laís, agora tinha um semblante frio, carregado de ódio.

— Pra quê trazê-la de volta? Para deixar Laís doente de novo?

— Mas e se algo aconteceu com a Sra. Alice?

— O que poderia acontecer? Se ela estiver com fome, pode encontrar frutas para comer. Se estiver com sede, que beba o orvalho. E se ela tiver medo a noite, que suba numa árvore. Deixem-na lá para aprender a lição e nunca mais inventar mentiras.