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Capítulo 3

Author: Pequeno Ouriço
Eu já não sentia frio, mas, ainda assim, um arrepio percorreu por todo o meu corpo. Nunca imaginei que Vinícius pudesse me odiar a tal ponto. Se ele visse o meu cadáver agora, talvez sentisse até prazer.

Como um fantasma, segui Vinícius até o escritório.

Ele não ligou o computador para trabalhar de imediato, ficou um tempo em silêncio, pensativo diante da mesa, e então pegou o telefone para fazer uma ligação.

— Manda alguém lançar alguns suprimentos na floresta, para que ela não seja burra o bastante a ponto de morrer de fome e depois me culparem.

Quase ri. Por um instante pensei que ele estivesse com pena de mim, mas não, era só medo de ser responsabilizado pela minha morte.

Depois de dar essas ordens, Vinícius pareceu relaxar um pouco.

De repente, a porta do escritório se abriu. Laís parou na entrada.

— Vini. — A voz dela era suave. — Desde que voltei, ainda não vi a Alice. O que aconteceu com ela?

— Aquela mulher ousou atrasar o seu tratamento. — Vinícius balançou a cabeça, sem dar importância. — Isso é imperdoável. Só quis dar uma lição nela. Fica tranquila, em alguns dias ela volta.

— Que bom. Mesmo assim, ainda fico um pouco preocupada com ela.

— Laís, é justamente por você ser boa demais que você sofre. Foi essa sua bondade que deixou Alice tão cruel. — Vinícius envolveu Laís nos braços, consolando-a com voz terna.

A recuperação de Laís foi considerada uma grande bênção, motivo de celebração. Vinícius decidiu leiloar parte de sua coleção particular e doar todo o dinheiro arrecadado.

Naturalmente, muitas pessoas compareceram ao jantar de caridade. Naquela noite, Laís usava um vestido preto elegante e justo, com o corte de cauda de sereia, enquanto Vinícius usava um terno preto combinando. Lado a lado, ambos formavam um casal perfeito.

No entanto, todos ali sabiam que a esposa de Vinícius era eu. Por um instante, o salão mergulhou em silêncio, olhares trocados, murmúrios contidos. Ainda assim, ninguém ousou comentar.

Entre a multidão, avistei os meus pais. Os dois estavam vestidos formalmente, sorridentes, recebendo os cumprimentos dos convidados com orgulho e satisfação.

Pelo visto, a filha abandonada na floresta nem lhes passava pela cabeça.

Desde que Laís voltou, todo o carinho que antes era meu passou a ser dela. Eu não os culpo, afinal, desfrutei durante anos do título de filha da família Lacerda, e devolver o que era dela parecia justo.

Mesmo negligenciada, só sentia uma leve tristeza, nunca quis competir. Mas nunca pensei que chegariam ao ponto de nem sequer perguntarem por mim.

Meus pais se aproximaram de Vinícius e Laís.

— Vini, por favor, cuide bem da nossa Laís. Ela sofreu tanto, meu coração dói por ela. — Com lágrimas nos olhos, a mãe de Laís pediu enquanto segurava a mão de ViniciusQue ironia. Quem não soubesse da verdade até pensaria que aquilo se tratava de uma cerimônia de casamento.

Vinícius, com a mesma calma de sempre, apenas assentiu, aceitando o pedido como um noivo.

— Tio, tia, fiquem tranquilos. Vou cuidar bem da Laís. Quanto à Alice, depois que ela aprender a lição, eu a libertarei.

No rosto dos meus pais surgiu uma expressão indecifrável.

— Vini... — Depois de um breve silêncio, meu pai falou, hesitante. — Há algo que nunca te contamos. Na verdade, Alice sempre teve alguém em seu coração, e esse alguém não era você.

Fiquei perplexa.

Por que ele estava dizendo isso? Eles sabiam muito bem que eu era apaixonada por Vinícius desde a primeira vez que o vi na universidade. Como poderiam inventar que eu amava outra pessoa?

— Enquanto você estava fora com a Laís por causa do tratamento, Alice saiu para se encontrar com esse homem várias vezes. — Minha mãe completou, com voz firme. — Como pais, nós não podemos continuar mentindo para você. Achamos que você devia saber a verdade.

As mãos de Vinícius se fecharam com força, seus olhos ficaram vermelhos enquanto ele encarava os meus pais.

— Vocês estão dizendo que Alice me traiu?
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