LOGINEduardo e Isabela estavam aos pés da cama, revezando-se em tentativas incansáveis de convencê-lo. Lucas, outrora arrogante e imponente, agora permanecia deitado em silêncio, aguardando a morte com uma tranquilidade perturbadora. O sol do início de agosto, tingido de vermelho pelo entardecer, atravessava a janela e iluminava o rosto de Lucas. Mas aquele brilho rubro era incapaz de trazer cor à sua pele, pálida como papel. Do lado de fora, ouviu-se o som de um carro. Era Gustavo, que acabara de chegar. Logo, passos apressados ecoaram pelo corredor, ficando cada vez mais altos, até que a porta do quarto foi escancarada. Gustavo entrou, ofegante, segurando o álbum de fotos que Valentina havia lhe dado. — Sr. Lucas! Sr. Lucas! Gustavo raramente agia de forma tão impulsiva. Lucas, que estava prestes a mergulhar em um sono profundo, foi despertado pelo barulho. Lentamente, ele ergueu as pálpebras e dirigiu o olhar para Gustavo, que agora estava parado ao lado da cama. A testa de
— Hoje a Isabela veio me procurar. — Disse Valentina, percebendo a hesitação de Gustavo. Gustavo ficou surpreso por um momento, mas logo perguntou: — Então... A senhora já sabe de tudo? — Sei. Já estou ciente da situação do Lucas. Os olhos de Gustavo brilharam com esperança. — E a senhora estaria disposta a tentar convencer o Sr. Lucas? Valentina manteve-se com a expressão tranquila e respondeu de forma direta: — Sinto muito, mas não. A esperança nos olhos de Gustavo desapareceu instantaneamente. Ele sabia que Valentina não tinha nenhuma obrigação de ajudar Lucas. Além disso, ele também sabia que Lucas não queria que Valentina soubesse do seu estado. Se Lucas descobrisse que eles haviam procurado Valentina em segredo e que ela agora sabia de tudo, certamente ficaria furioso. Gustavo reprimiu os sentimentos que borbulhavam em seu peito e fez um gesto educado com a cabeça. — Nesse caso, vou indo agora. Valentina o chamou antes que ele saísse. — Espere um pouco.
— Não. — Respondeu Valentina, com um leve sorriso. — Na verdade, ela não é uma pessoa ruim. — Não é ruim? — Marcos, dirigindo o carro, lançou-lhe um olhar rápido. — Valentina, eu sugiro que você tire um tempo para revisar a sua cabeça. Valentina riu da provocação dele. — Por que você tem tanta hostilidade contra ela? — Porque ela te maltratou! — Aquilo tudo foi encenação. — Encenação? — Marcos soltou uma risada seca. — Mesmo que fosse só encenação, eu continuo detestando! — Não seja assim. Ela é órfã, e tudo o que aconteceu antes foi porque ela estava colaborando com o Lucas. — Mesmo assim... — Marcos lembrou-se das cenas de Isabela e Vasco trocando olhares sugestivos, o que o deixou ainda mais incomodado. Ainda que não concordasse com as atitudes de Isabela, especialmente por ela ter usado o próprio corpo para cumprir certas missões, a criação de Marcos o impedia de julgá-la abertamente. Ele sabia que falar mal dela pelas costas não era algo digno. Afinal, nem amigos
— Entre nós já não há mais nenhum vínculo emocional. — Disse Valentina, com a voz calma e serena. — Perdoá-lo ou não, para mim, não faz diferença. Se ele estiver vivo, as crianças terão um pai, e isso será bom para elas. Se ele morrer, é claro que elas sentirão a perda, mas um dia crescerão e entenderão que a morte é algo inevitável para todos. — Você não quer perdoá-lo por causa da Cecília? — Perguntou Isabela, com um tom um pouco ansioso. — Na verdade, o Lucas nunca foi tão bom assim com a Cecília. Muitas coisas que ele fez por ela foram apenas parte de uma encenação! Valentina virou o rosto para olhar pela janela, sem responder. Isabela continuou, insistindo: — A volta da Cecília ao país não foi uma coincidência. Tudo fazia parte do plano do Lucas... — Não diga mais nada. — Interrompeu Valentina, virando-se para encarar Isabela. — No passado, eu me importava com a Cecília porque eu amava o Lucas. Mas agora que eu não o amo mais, se o que ele teve com a Cecília foi real ou
— Na época em que estavam no País K, ele pediu que você levasse o Noah e fosse embora enquanto ele ficava para negociar com o Rivaldo. — Começou Isabela, fazendo uma pausa breve antes de continuar. — Rivaldo culpava o Lucas pela morte do Gael. Ele exigiu que o Lucas cortasse um dedo da própria mão. Sem hesitar, o Lucas pegou uma faca e cortou o dedo mínimo. Rivaldo, na frente dele, deu o dedo cortado para os cães comerem. Valentina franziu levemente a testa. De repente, lembrou-se de como, durante um período, o Lucas sempre usava luvas pretas. Agora fazia sentido. Isabela prosseguiu: — Depois que a ferida cicatrizou, ele mandou fazer uma prótese de dedo. Sempre que saía, ele a usava. Se você não olhasse de perto, nem perceberia. Estou te contando isso porque quero que você saiba que ele realmente ama esses dois meninos. — Eu já percebi. — Respondeu Valentina, sem hesitar. Ela não negava o carinho que Lucas demonstrava pelos filhos. — Neste mundo, poucos pais conseguem dar tanto
Olhando para o rosto calmo de Valentina, Isabela sentiu um leve desconforto, quase como medo. — Quando você descobriu? — A Marina comentou, em algum momento, que achava que o pai dela estava doente. — Respondeu Valentina, com sinceridade. — Além disso, no dia da reunião com os acionistas, o Lucas levou um soco do Bastian e ficou com a boca cheia de sangue. Eu não sou médica, mas a quantidade de sangue estava visivelmente anormal. Notei marcas de agulha na mão dele, como se ele estivesse recebendo medicação intravenosa. Depois, quando desci e fiquei esperando no carro, vi ele vomitando sangue. Isabela ouviu tudo com atenção e, no final, ergueu o polegar, admirada. — Você não só é observadora como também tem nervos de aço! Valentina continuou, sem alterar o tom de voz: — Ele fez de tudo para esconder que estava gravemente doente. Ao mesmo tempo, ele provocou o Vasco ao mencionar a Cecília novamente e ainda me humilhou na frente de todos. Qual é, afinal, o problema entre Vasco







