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Capítulo 7

Author: Estela Vieira
Ao ouvir a voz de Luiza, tão calma e despreocupada, Ethan sentiu como se algo tivesse perfurado seu coração.

Ele franziu as sobrancelhas, desconfiado:

— Por que você quer jogar fora assim, de repente? Não era você que cuidava tanto desse vestido de noiva?

Luiza não negou.

Nos últimos três anos, ela havia reservado um lugar especial no closet para aquele vestido, sempre o enviando para limpeza e manutenção uma vez por ano.

Mas o motivo pelo qual ela cuidava tanto dele era porque acreditava que uma pessoa só se casava uma vez na vida. E, por isso, aquele vestido merecia ser guardado como uma lembrança preciosa.

Agora que estavam prestes a se divorciar, e com Ethan provavelmente a um passo de trazer sua amada Gabriela para dentro de casa, aquele vestido, assim como ela, se tornara apenas um objeto desnecessário naquela família.

Luiza sorriu de leve:

— Está estragado. Descobri outro dia que ele tem um buraco enorme.

— Mesmo assim, não dá para simplesmente jogar fora. — Ethan respondeu, observando o sorriso forçado dela, achando que, no fundo, ela ainda tinha apego ao vestido. — Olha, posso pedir para a loja de noivas buscar e ver se eles conseguem consertar.

— Não precisa. — Luiza balançou a cabeça, olhando diretamente para Ethan com uma expressão firme. — Coisas quebradas não têm conserto.

Ela não estava falando apenas do vestido. Referia-se ao coração dela, a esse casamento.

Sem esperar por uma resposta dele, Luiza virou-se e entrou em casa.

Ethan percebeu que ela ainda mancava levemente ao andar e, só então, lembrou-se de perguntar:

— Ei, você está machucada? O que aconteceu? Já faz dois ou três dias que você está assim, andando desse jeito.

Era como chover no molhado. A preocupação tardia dele não fazia diferença alguma.

Mas, ainda assim, ela precisava da culpa dele.

Luiza abaixou os olhos e respondeu com sinceridade:

— Já estava melhorando, mas ontem à noite, na Mansão dos Marques, fiquei de joelhos na neve por quatro horas.

— O quê? — Ethan ficou atônito. Ele olhou para as mãos dela, notando pela primeira vez as palmas vermelhas e inchadas. Seus olhos se estreitaram. — Suas mãos também... O que aconteceu?

Luiza piscou, como se aquilo não fosse nada demais.

— Foram batidas.

A voz dela era tão indiferente, tão tranquila, que não havia qualquer traço de sofrimento.

Ethan franziu o cenho, claramente incomodado.

— Por que você ficou ajoelhada por tanto tempo? E ainda... — Ele hesitou, incapaz de terminar a frase.

Luiza não era, afinal, uma completa estranha para a família Marques. Como alguém que sempre foi tratada como parte da casa, como ela poderia ter sido punida daquela forma?

Ele não ousava levar o pensamento adiante.

Ela ergueu o rosto, encarando-o por um momento. Por alguma razão, flashes do passado inundaram sua mente — o quanto ela havia sonhado em se casar com ele, acreditando que poderiam envelhecer juntos.

Por um longo momento, ela não disse nada. Reprimiu a pontada amarga em seu coração e, finalmente, respondeu com um sorriso:

— Porque você não voltou comigo.

Ethan sentiu algo pesado no peito, um incômodo que ele não conseguia definir. Ele engoliu em seco e perguntou:

— Você ainda consegue sorrir. Não dói?

— Dói. — Luiza assentiu. — Mas eu já me acostumei.

— Acostumou?

— Sim. — Luiza apertou levemente as palmas das mãos, como se estivesse testando os limites da dor. — Sempre que você não vai comigo, isso acontece.

Na verdade, não era só isso. Desde que era pequena, qualquer coisa que ela fizesse e desagradasse Dona Joana resultava em algum tipo de punição.

Aquela estrada coberta de pequenas pedras pontiagudas havia sido projetada especificamente para ela.

Luiza tinha menos de um ano na família Marques quando, aos seis anos, aprendeu como se ajoelhar de forma que Dona Joana ficasse satisfeita. Os joelhos, as canelas e o peito dos pés precisavam estar perfeitamente alinhados, ajustando-se às pedras como se fossem feitos para aquilo.

Ethan se agachou, levantando suavemente a barra do vestido dela. O que viu fez seu estômago revirar. Os joelhos de Luiza estavam inchados, cobertos de hematomas enormes. As canelas, profundamente machucadas, exibiam marcas roxas que destoavam violentamente contra a pele clara e delicada dela.

Era uma cena tão brutal que fazia os leves arranhões nos joelhos de Gabriela, dias atrás, parecerem uma piada.

A raiva borbulhou dentro de Ethan. Sem pensar, ele a pegou nos braços e a carregou até o sofá. Ele franziu as sobrancelhas e perguntou, claramente indignado:

— Por que você não me ligou quando isso aconteceu?

As famílias Marques e Soares sempre foram equivalentes em status.

Nos últimos anos, com Gustavo assumindo a liderança da família Marques, ele havia implementado mudanças agressivas e radicais, criando uma lacuna entre as duas famílias.

Mas, mesmo assim, a esposa de Ethan não deveria ser tratada como alguém que qualquer um poderia humilhar.

Os olhos claros e calmos de Luiza brilharam enquanto ela perguntava, como se não soubesse a resposta:

— Quando você saiu, disse que tinha algo urgente para resolver, não foi? Pensei que fosse algo muito importante e que eu não deveria te incomodar.

Ethan ficou sem palavras. Por um breve instante, ele se perguntou: se o preço de impedir Gabriela de ir a um encontro fosse o sofrimento de Luiza, ele ainda teria ido?

Enquanto hesitava, levantou os olhos e encontrou o rosto dócil e submisso de Luiza.

O peito de Ethan pesava como se algo estivesse oprimindo. Ele pegou a caixa de medicamentos, sentou-se ao lado dela e, enquanto aplicava pomada nos ferimentos, perguntou com uma voz suave:

— Por que você nunca me contou antes que foi machucada?

Luiza permaneceu em silêncio. No passado, ela realmente tentou ser a melhor nora da família Soares. Ela acreditava que Ethan poderia ser um bom marido.

Na visão de todos, a família Marques e sua família de origem eram praticamente uma só. Quem seria tolo o suficiente para reclamar do tratamento recebido pela própria família diante do marido? Ela certamente não era. Além disso, ela sabia que nunca foi a favorita de Ethan.

Na verdade, ela sempre soube que Ethan não a amava muito. Mas foi apenas alguns dias atrás que ela percebeu que ele nunca a amou.

Felizmente, ela jamais planejou depender do amor de alguém para sobreviver.

As mãos dela descansavam sobre as pernas, enquanto seus dedos arranhavam levemente o polegar. Sua voz saiu baixa:

— Eu não queria que você ficasse entre mim e a família Marques. Afinal, você ainda precisa manter os negócios com eles.

Ela não podia dizer a verdade. Então, falou algo que soava verdadeiro o suficiente, mesmo que fosse apenas uma desculpa.

Ethan ouviu as palavras dela e sentiu como se algo estivesse preso em sua garganta. A sensação de culpa o dominou.

A capacidade de Luiza de compreender e aceitar as situações não deveria ser usada como justificativa para machucá-la.

Ethan respirou fundo, tentando afastar a sensação sufocante, e levantou a mão para bagunçar gentilmente os cabelos dela, como se fosse um gesto de consolo.

— Me desculpe. Dessa vez, foi culpa minha. Até esqueci do nosso aniversário de casamento. Tem algo que você queira ganhar? Eu prometo que vou te dar.

Casa, carro, joias, bolsas... Qualquer coisa. Nisso, ele sempre foi generoso.

— Hmm... — Luiza pensou por um momento, antes de responder com uma voz suave. — Eu só quero que você goste do presente de aniversário que eu te dei.

— Só isso?

— Isso. — Ela assentiu levemente.

Quando tinha vinte anos, o desejo de aniversário de Luiza era se casar com Ethan.

Agora, aos vinte e quatro, o desejo dela era deixar Ethan. Deixar de forma limpa e definitiva.

No entanto, quando os olhos dela encontraram o olhar genuíno de Ethan, Luiza, por um instante, sentiu um raro traço de hesitação.

Mas, no momento seguinte, o celular de Ethan começou a tocar. O toque era diferente do habitual. Era um toque especial, reservado.

Com apenas um olhar, Luiza viu o nome “Gabi” aparecer no visor.

Ethan atendeu rapidamente. Não se sabia o que foi dito do outro lado, mas ele se levantou de repente, com expressão séria.

— É grave? — Ele perguntou, preocupado. — Como assim você não pediu para o motorista te levar? E ainda torceu o tornozelo? Me manda sua localização, estou indo agora!

Ele desligou a ligação e já estava pronto para sair, mas percebeu que ainda segurava o cotonete com pomada, o que o deixou momentaneamente sem saber o que fazer.

Luiza estendeu a mão, pegou o cotonete e, com um sorriso compreensivo, disse:

— Eu mesma cuido disso. Vá resolver o que precisa.

Diziam que quem chora consegue o que quer. Mas Luiza sabia que, na vida dela, chorar nunca trouxe nada além de mais punições.

Ainda assim, ela guardava uma certeza silenciosa: um dia teria algo só dela, algo doce o bastante para compensar todas as amarguras.

— Certo... — Ethan suspirou aliviado, mas ainda assim tentou explicar. — É que a Gabi se machucou. Ela está sozinha com o filho e não tem como se virar. Vou lá ajudar.

Depois de dizer isso, ele deu meia-volta e saiu rapidamente.

Por impulso, Luiza chamou por ele:

— Ethan, por que você chama a cunhada de um jeito tão íntimo?
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