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Capítulo 6

Author: Estela Vieira
Quando Luiza saiu da Mansão dos Marques, estava mancando ainda mais.

Nos últimos três anos, sempre que Ethan não a acompanhava de volta para lá, ela invariavelmente acabava sendo punida. Para ela, isso não era nenhuma surpresa.

O que Ethan não sabia era que, toda vez que ele tentava provar sua lealdade à sua querida Gabriela, ele a empurrava ainda mais para um beco sem saída.

Afinal, a família Marques não tinha interesse em uma mulher inútil, incapaz até mesmo de manter o coração de seu próprio marido.

O mordomo George suspirou profundamente e comentou:

— Você não precisava ser tão sincera. Se ao menos inventasse uma desculpa mais convincente, mesmo que fosse uma mentira, teria evitado esses ferimentos.

Luiza, com o rosto sereno e sem demonstrar nenhuma mágoa, respondeu suavemente:

— George, a vovó me criou. Posso mentir para qualquer pessoa, menos para ela.

— Ah... — O olhar de George suavizou, revelando um pouco mais de sinceridade em sua preocupação. Ele olhou para as palmas das mãos dela, agora avermelhadas e inchadas, e disse. — Não demore. Vá logo ao hospital cuidar disso.

— Tudo bem. — Luiza concordou com um aceno de cabeça e não disse mais nada.

O motorista Joaquim já havia sido dispensado, e cada passo que Luiza dava era acompanhado por uma dor intensa.

Desde pequena, ela sempre achou que Dona Joana era a personificação da famosa vilã Odete Roitman, da novela Vale Tudo.

Dona Paula, pelo menos, apenas ordenava que Gabriela se ajoelhasse no quintal. Já Dona Joana fazia com que os empregados levassem Luiza até uma estrada coberta de pedrinhas afiadas para ajoelhar-se ali.

No começo, com a neve, a sensação até era suportável. O frio fazia com que o corpo ficasse dormente, o que mascarava um pouco a dor. Mas, à medida que a neve derretia, tudo o que restava eram as pedras afiadas e irregulares.

Quando o corpo dela estava completamente gelado, os empregados apareciam com uma régua de madeira para bater nas palmas das mãos dela. Nesse momento, a dor era insuportável, cortante, a ponto de a pele rachar.

A Mansão dos Marques ficava em uma estrada sinuosa, cercada por montanhas e com uma vista deslumbrante para um lago. Apesar da beleza do lugar, sair dali era sempre um desafio.

Luiza finalmente conseguiu chamar um carro por aplicativo, mas, por causa do horário avançado e da neve, o motorista concordou apenas em esperá-la no sopé da montanha.

Cada passo que Luiza dava para descer era uma tortura. Embora fosse inverno, suas costas estavam cobertas de suor por causa da dor lancinante.

À distância, um Bentley preto alongado se movia lentamente pela estrada escorregadia.

O motorista, atento, aumentou a velocidade ao notar algo:

— Senhor, acho que aquela ali na frente é a Sra. Luiza.

No banco de trás, um homem estava recostado no assento, com as longas pernas cruzadas de maneira relaxada. O rosto dele, escondido pelas sombras da noite, era forte e imponente, e sua aura carregava um peso quase sufocante.

Ao ouvir isso, ele sequer levantou os olhos, mas respondeu com um breve e indiferente:

— Hum.

Era impossível decifrar suas emoções.

O assistente, sentado no banco da frente, não conseguiu mais conter-se e perguntou:

— Senhor, não vamos fazer nada?

A voz grave e fria do homem ecoou no carro, carregada de uma ameaça sutil:

— Você quer resolver isso?

O assistente imediatamente ficou em silêncio.

Por alguns instantes, o homem permaneceu imóvel, mas, ao olhar através do para-brisa, seus olhos se estreitaram ao ver a figura cambaleante de Luiza à frente.

— Descubra onde Ethan está agora. — Ele ordenou.

O assistente respondeu prontamente:

— Já investigamos. Ele provavelmente está com Gabriela, como sempre, curtindo a vida de casal.

Ele fez uma pausa, antes de acrescentar.

— Senhor, a Sra. Luiza provavelmente ficou ajoelhada na neve por horas. Acho que ela está prestes a desmaiar.

Assim que ele terminou de falar, a figura frágil de Luiza caiu no chão.

— Senhor, eu disse que...

Bang! O som da porta do carro sendo violentamente fechada interrompeu o assistente.

Com o rosto escurecido e uma expressão fria, o homem desceu do carro e rapidamente envolveu o corpo frágil de Luiza em seu casaco de lã, pegando-a nos braços.

O assistente correu para abrir a porta de trás do carro e perguntou:

— Vamos para o hospital ou para outro lugar?

— Primeiro, para a casa.

— Entendido.

— Avise o médico para estar lá quando chegarmos.

— Já entrei em contato.

O motorista, atento, aumentou a temperatura do ar-condicionado para aquecer o ambiente.

Com as luzes internas do carro acesas, o homem pôde ver com mais clareza o estado deplorável dos joelhos de Luiza. Seus olhos escuros brilharam com um traço de fúria contida.

— Pegaram pesado. — Ele comentou com a voz baixa, como se estivesse falando consigo mesmo.

O assistente, quase murmurando, acrescentou:

— Quando é que a Dona Joana não pega pesado...

O homem desviou os olhos para o assistente e mudou de assunto com frieza:

— Ronaldo vai voltar ao país nos próximos dias, né?

— Sim.

— Organize tudo para recebê-lo.

— Organizar até que ponto?

O olhar afiado do homem pousou sobre ele, carregado de uma intensidade quase cruel.

— O que você acha?

Quando Luiza acordou, sentia o corpo tão fraco que não conseguia reunir forças para se levantar, mas, curiosamente, não estava particularmente desconfortável.

As palmas das mãos e os joelhos, que deveriam estar inchados e doloridos, já não doíam tanto, apesar de ainda parecerem assustadores. Até o cóccix, que a incomodava há dois dias, agora estava consideravelmente melhor.

No entanto, ela sabia que não deveria estar ali.

Luiza franziu levemente as sobrancelhas e estendeu a mão para pegar o celular, pronta para ligar para a recepção do hotel e entender o motivo de estar naquele lugar. Porém, no movimento, um leve aroma de sândalo chegou até ela. Era um cheiro familiar, que a deixou momentaneamente perdida em pensamentos.

Recuperando os sentidos, Luiza apenas curvou os lábios em um sorriso irônico. Pegou o pequeno tubo de pomada especial que reconheceu imediatamente no criado-mudo, colocou na bolsa e deixou o quarto após fazer o check-out.

Quando ela chegou em casa, o ambiente parecia estranhamente harmonioso. Era como se todo o clima estranho dos últimos dias tivesse desaparecido.

Talvez o problema fosse apenas a presença dela mesma ali.

— Luiza, você voltou! — Gabriela a cumprimentou com um sorriso radiante.

Era óbvio que Ethan havia conseguido agradá-la na noite anterior.

Luiza não estava com disposição para responder e passou direto, ignorando-a.

No entanto, Gabriela parecia determinada a não deixar o encontro terminar assim. Com passos rápidos, ela se aproximou, puxando o cabelo para trás da orelha, revelando um par de brincos de diamantes rosa tão brilhantes que chegavam a ofuscar os olhos.

Eram raríssimos diamantes rosa de coleção, parte de um conjunto de joias que Luiza havia admirado por muito tempo. Ela sabia o quanto foi difícil aquela peça voltar ao mercado, e Ethan havia prometido que iria arrematá-la para presenteá-la. Ele até comentou que o tom suave de rosa combinava perfeitamente com ela, dizendo que ficaria deslumbrante ao usá-los.

Luiza pensou que, provavelmente, ele tinha dito exatamente as mesmas palavras para Gabriela ao entregá-los.

Gabriela percebeu a sombra de decepção que passou pelo rosto de Luiza e ergueu o queixo, exibindo um sorriso provocador.

— Eu ouvi dizer que você entende um pouco de joias. Dá uma olhada nesses brincos. O que acha? O Ethan pagou mais de dez milhões para arrematá-los. Você acha que valeu a pena?

— São bonitos. — Luiza respondeu com um sorriso calmo, reprimindo qualquer traço de autodepreciação que pudesse surgir. Então, acrescentou. — Ah, só para lembrar, eu ainda sou a esposa legítima dele. Então, tecnicamente, metade desse valor faz parte do patrimônio comum do casal.

Ela fez uma pausa, como se estivesse calculando mentalmente, e continuou casualmente:

— Se não estou enganada, o valor foi exatamente doze milhões.

Pegando o celular, Luiza começou a digitar algo rapidamente.

— Gabriela, por favor, transfira seis milhões para esta conta antes da meia-noite. Caso contrário, irei pedir esse valor diretamente para a Dona Paula.

Assim que Luiza terminou de falar, o celular de Gabriela vibrou com a chegada de uma mensagem. Era o número da conta bancária.

Ao ver aquilo, Gabriela ficou tão furiosa que sentiu sua visão escurecer por um momento.

Luiza, essa desgraçada! Essa mulher estava sempre usando a velha senhora como ameaça! Gabriela pensou, cerrando os dentes.

Seis milhões!

Os irmãos da família Soares ainda não haviam dividido oficialmente a herança, e, mesmo após a morte de Antônio, Gabriela só conseguira ficar com cinco milhões.

Luiza, no entanto, não se importava nem um pouco se Gabriela podia ou não arcar com aquele valor.

Depois de um banho relaxante, Luiza, sem muito o que fazer, começou a organizar e se livrar de coisas que não precisava mais. Era uma espécie de preparação para a partida inevitável, uma forma de facilitar sua saída quando o momento chegasse.

Com uma lixeira ao lado, ela jogou fora várias coisas sem hesitação. Ela nunca foi uma pessoa apegada. Até mesmo o vestido de noiva, que um dia teve tanto significado, foi embalado e deixado ao lado da porta, pedindo que Maia o levasse para jogar fora.

Quando Ethan chegou, a primeira coisa que viu foi a caixa com o vestido de noiva, jogada de qualquer jeito. Uma sensação de desconforto tomou conta dele.

— Por que você tirou o vestido de noiva? — Ele perguntou, sem conseguir esconder a inquietação na voz.

Luiza levantou os olhos, sem qualquer traço de evasão ou hesitação no olhar. Ela respondeu com serenidade:

— Para jogar fora.

Coisas que não tinham mais utilidade deviam ser descartadas.
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