Capítulo 1

O mestre de cerimônias terminou de ler os votos no palco, mas o noivo não subiu para continuar a cerimônia. Os convidados começaram a cochichar entre si, trocando olhares curiosos e confusos.

Eu logo percebi que aquilo era mais uma armadilha, mais uma cena criada para me humilhar.

E, de fato, Fernando, sentado entre os convidados, brincava distraidamente com as alianças em suas mãos. Ele se virou para minha meia-irmã, Maia Penha, e abriu um sorriso cheio de malícia:

— Maia, você não vive dizendo que casamentos são chatos, cheios de formalidades? Que é só duas pessoas lendo votos e trocando alianças? Pois hoje eu te trouxe uma coisa diferente: um casamento de uma pessoa só. O que acha? Não é muito mais divertido?

Meu irmão, Simão Penha, entendeu o jogo imediatamente. Ele pegou o microfone e anunciou, com uma voz clara e provocadora:

— Casamento suspenso!

Meu amigo de infância, Otávio Cabral, gritou:

— Maia! Olha pra cá!

No mesmo instante, o balão de água, que já estava preparado acima da minha cabeça, estourou com um som alto. Mesmo eu tentando desviar rapidamente, fui pega de surpresa.

Meu cabelo ficou completamente encharcado, com os fios grudando nas laterais do meu rosto, enquanto a água escorria do vestido, pingando sem parar.

Eu apertei as laterais da saia com força, tentando conter a frustração.

Só então Maia soltou uma risadinha.

Fernando se levantou com toda a calma e veio na minha direção. Ele tinha um sorriso falso no rosto, como se estivesse preocupado, mas sua voz era carregada de sarcasmo:

— O que foi, Nilda? Não tá feliz?

Enquanto falava, ele se virou para Otávio e, com um tom de brincadeira, deu um leve soco no braço dele:

— Você exagerou, hein? Não pensou que hoje Nilda é a noiva?

Eu quase acreditei que ele estivesse começando a perceber que a brincadeira tinha ido longe demais. Fernando pegou a aliança que deveria estar no meu dedo anelar e, ainda dentro da caixinha, entregou para mim.

— Você não queria casar? Não queria ser noiva? Pois aí está. Eu realizei o seu sonho! Chamei o mestre de cerimônias, os padrinhos e até os convidados.

Quando meus olhos se encontraram com os dele, gelados e cheios de decepção, Fernando apenas soltou uma risada curta:

— Você tá me olhando assim... Não vai me dizer que acreditou que eu ia me casar com você, né? Eu só tô realizando o seu desejo, e nunca disse que eu seria o noivo.

Ele ainda teve o descaramento de acrescentar:

— Guarda bem essa aliança, viu? É melhor não perder, porque o seu noivo vai precisar dela. Ah, é verdade... Quase esqueci: essa festa nem tem noivo!

— Não acredito! Esse casamento nem tem noivo! — Otávio exclamou, sem esconder o tom de deboche na voz. — Mas, olha, eu acho que a Nilda já tá pronta pra casar com você! Vocês viram como ela tá arrumada? Toda elegante!

As palavras de Otávio imediatamente atraíram os olhares de todos para mim e para o meu vestido de noiva, agora completamente encharcado.

Se fosse antes, eu com certeza teria segurado as lágrimas e suplicado baixinho para que Fernando não me humilhasse na frente de tantas pessoas.

Mas agora, tudo era diferente. Eu apenas limpei o rosto calmamente, secando os respingos de água e tentando salvar a maquiagem.

Com a voz firme e serena, agradeci:

— Obrigada por me ajudarem a passar por esse ensaio de casamento. Eu estava um pouco nervosa, mas agora estou bem mais tranquila. Tenho certeza de que, na hora da cerimônia oficial, tudo vai sair perfeito.

Fernando ficou surpreso por um instante. E logo ele soltou uma gargalhada alta e cheia de desdém:

— Você é burra ou só está se fazendo de inocente? Ainda acha que eu vou me casar com você? Você não percebeu ainda? Eu só fiz isso pra divertir a Maia! Mulheres que se jogam desse jeito só conseguem uma coisa: parecerem baratas.

A expressão debochada dele era tão evidente que ele nem se preocupava em escondê-la, mostrando claramente que ele não dava a menor importância para o quanto suas palavras poderiam me ferir.