Capítulo 2

Até mesmo Maia e os outros riam animadamente.

Meu coração parecia estar sendo agarrado por uma mão gigante, que o apertava e torcia sem piedade.

Fernando, meu irmão Simão e o amigo de infância Otávio já haviam planejado me pregar uma peça, e eu sabia disso há algum tempo.

Alguns dias atrás, Fernando me ligou:

— Nilda, você não quer se casar e virar noiva? O local da cerimônia será aquele que você escolheu. Não falte, hein.

Meu coração deu um salto inevitável. Fernando me conhecia bem e sabia que eu sempre sonhei em me casar.

Após a morte da minha mãe, eu passei a viver apenas com minha avó. Agora, ela também estava doente, gravemente doente. O único desejo dela era me ver casada e conquistar a minha própria felicidade.

Eu já havia reservado o local para a cerimônia de casamento há muito tempo. Incontáveis vezes, implorei a Fernando que se casasse comigo, mesmo que fosse apenas um casamento de mentira, só para que minha avó pudesse ver isso e sentir-se tranquila.

A ligação de Fernando bagunçou completamente meus pensamentos.

Eu queria ir até o escritório para conversar com Simão, mas acabei ouvindo, sem querer, eles discutindo animadamente sobre como organizar a “brincadeira” no dia do meu casamento.

Fernando ria alto:

— Acabei de ligar para a Nilda, dizendo para ela se preparar para o casamento. Acreditam? Ela realmente achou que eu ia me casar com ela! Dá pra acreditar no quanto essa mulher é burra?

Simão respondeu:

— Ela não sabe de nada. É isso que vai tornar tudo mais divertido. O melhor é ver a reação espontânea dela. Maia vai adorar!

Eu não conseguia acreditar no que ouvia e levei a mão à boca, tentando conter o choque. Até meu meio-irmão agora parecia estar do lado da Maia.

Otávio logo completou:

— Que tal trocarmos os confetes por balões de água? Imagina ela toda ensopada! Mas não contem nada para Maia antes da hora, senão perde a graça.

Eles pareciam extremamente satisfeitos com o plano de me humilhar. Os rostos deles estavam cheios de uma confiança cruel, como se não houvesse a menor chance de falharem.

Eu fiquei paralisada na porta, incapaz de dar um único passo. O casamento pelo qual eu tanto esperei não passava de uma brincadeira para divertir Maia.

Os três, que antes percorriam a cidade inteira só para comprar um pedaço do meu bolo favorito e me faziam sorrir, simplesmente não existiam mais.

Quando foi que eles mudaram tanto assim?

Nas minhas lembranças, meu irmão, Fernando e Otávio eram as pessoas que mais se importavam comigo, que mais me protegiam.

Mas tudo mudou desde que Maia chegou à nossa casa.

Maia sofria de uma depressão severa. Tão severa que, sempre que ela me via, parecia afundar ainda mais na tristeza. Nos momentos de crise, ela implorava pela companhia de Fernando.

No começo, eles adotaram uma atitude de desprezo, dizendo que essa doença era apenas fingimento de Maia.

Mas, aos poucos, os olhares deles começaram a se desviar de mim e se concentrar inteiramente em Maia.

Fernando, o homem que eu amei durante sete anos, meu irmão, que cresceu ao meu lado, e Otávio, meu amigo de infância... Agora eles estavam dispostos a transformar meu casamento em uma brincadeira, tudo para arrancar um sorriso de Maia.

O sorriso dela virou o maior objetivo deles, mesmo que isso custasse minha humilhação.

Eles cuidavam de Maia com tanta delicadeza, mas não hesitavam em me transformar em motivo de chacota.

Pensar nisso fazia meu coração doer de forma lenta e entorpecida.

Hoje, era o dia do meu casamento. Só que o noivo não era Fernando.

Eu respirei fundo e arrumei o cabelo, tentando parecer o mais digna possível. Peguei o microfone e anunciei para todos:

— O que aconteceu agora há pouco foi apenas um pequeno contratempo. Por favor, aguardem mais um momento.

Depois, segurei o vestido de noiva, que estava pesado por causa da água, e olhei para eles com firmeza:

— Vou trocar de vestido. Se meu marido entrar, não vai dar tempo.

Por sorte, eu já tinha previsto o que poderia acontecer hoje. Por isso, não usei o vestido de noiva que eu mais gostava.

Mas, para minha surpresa, Fernando me olhou como se eu fosse uma louca:

— Nilda, você enlouqueceu porque eu não vou me casar com você, né? Eu já disse que esse casamento é uma brincadeira! Não existe noivo algum!