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capítulo 3

Penulis: Brisa Koi
— O hospital tava cobrando a conta... eu tentei ligar, mas você não atendeu.

— O quê? — Caio franziu a testa, mas antes que pudesse dizer algo, Bella se aproximou.

— Bea, entra logo. Já tá se sentindo melhor? Tá precisando do dinheiro, né? Eu te transfiro.

— Deixa que eu transfiro. — Disse Caio, e logo me mandou cem mil.

— Tá bom assim?

Assenti com a cabeça e fui saindo, querendo resgatar o colar.

— Vai pra onde agora?

— Deixei o colar no hospital como garantia.

Mal tinha dado alguns passos, Bella me segurou pelo braço.

— Tá com cara de que vai chover. Você acabou de sair do hospital, não precisa sair correndo por aí. Deixa que o motorista busca pra você.

Não queria aceitar. Mas Caio me olhava.

Sabia que, se eu recusasse a Bella, ele se irritaria.

O motorista demorou muito. Quando voltou, estava de mãos vazias.

A enfermeira disse que o colar tinha desaparecido.

— Como assim sumiu? Como assim? Só se passaram duas horas! Eu avisei que voltaria pra buscar!

— Olha... entra e sai tanta gente aqui, não tem como saber. Se quiser, pode esquecer a dívida. Não precisa mais pagar.

Segurei a enfermeira com desespero, implorando, perguntando, sem parar.

— Chega! Já deu esse escândalo! Um colar da sua mãe! E você entrega assim, de qualquer jeito? Agora perdeu e quer culpar quem?

Caio me puxou pelo braço, pediu desculpas à enfermeira, e me arrastou pra fora.

— Eu vou mandar alguém procurar. Mas não me faz passar vergonha. Ficar gritando em hospital? Perde até a dignidade!

A raiva na voz dele me calou.

Tranquei-me no quarto naquela noite. Não consegui dormir.

Sem aquele colar, algo dentro de mim parecia vazio.

Era uma das poucas coisas que ainda eram minhas. E nem isso eu consegui manter.

Naquela noite, tive um sonho.

Sonhei com a mamãe. Ela acariciava meu rosto com um sorriso tão doce, os olhos cheios de ternura e preocupação.

— Minha menina, como você tá magrinha. O Caio não tá cuidando direito de você?

Segurei as lágrimas, mas no instante em que a abracei, desabei.

— Quem foi que te machucou? Me fala, que eu vou dar um jeito. Foi seu irmão?

— Não, mamãe. Caio é bom pra mim... — As lágrimas não paravam de cair. — Mamãe, eu sinto tanto a sua falta. Eu tô tão cansada. E eu perdi o colar que você me deu. Eu sou inútil.

Passei o dia inteiro trancada no quarto. Não queria ver ninguém.

Caio não apareceu. Nem pra perguntar como eu estava.

Mas Bella apareceu.

Assim que vi que era ela, tentei fechar a porta.

Mas antes que conseguisse, ela ergueu o pescoço, exibindo meu colar.

Aquele colar.

— Onde você conseguiu isso?

Aproveitando meu choque, empurrou a porta e entrou no quarto.

— Me devolve!

— E por que eu devolveria? Caio me deu. Disse que esse colar não combina com você. Disse que só eu mereço usar.

Ela desviou da minha mão com facilidade, com aquele sorrisinho de triunfo no rosto.

— Esse colar era da minha mãe! Me devolve!

Qualquer outra coisa, qualquer uma, eu abriria mão. Mas aquilo, não.

Tentei arrancar dela, mas ela recuou.

Quando me joguei pra cima dela, perdi o equilíbrio e caí no chão.

Ela riu alto. Aquela risada ecoava cruel.

— Hahaha! Olha pra você! Já foi a rainha da escola? Agora parece uma piada. Tá parecendo um cachorro.

Tentei me levantar, mas ela me chutou nas costas. Com o pé, prendeu minha mão no chão.

— Olha pra sua vida, Beatriz. Viver assim ou morrer, tem diferença? Caio não quer mais você. Nesse casa, você é só um estorvo.

Ela foi até a janela com o colar na mão, e com um sorriso cruel, afrouxou os dedos.

— Você quer isso? Hahaha... Pois não vai ter.

— Aaaaaah! — Gritei, agarrando sua perna e a empurrando com toda a força.

— Bella! Você já tirou o Caio de mim! Já tomou a minha casa! Por que ainda não consegue me deixar em paz?!

Não sei bem o que aconteceu depois.

Quando percebi, Bella estava no chão, com as mãos no ventre, chorando de dor.

— Bella! — Gritou Caio, parado na porta, em choque e furioso.

— Tô com dor na barriga. Beatriz, por que você me empurrou? — Choramingou Bella, olhando pra mim com os olhos marejados.

O tapa de Caio foi tão forte que me derrubou no chão, com um zumbido latejando na cabeça.

— Beatriz! Você é cruel demais! Depois de tanto tempo de castigo, não aprendeu nada?! Não quero mais olhar na sua cara!

Ele pegou Bella no colo e saiu apressado, sem olhar pra trás.

Antes de sumir pela porta, vi o olhar cheio de ódio dela.

Os lábios se moveram sem som: “Seu fim vai cehgar.”

A cena se sobrepôs com aquela noite do baile.

Um medo gelado me subiu pela espinha. Eu ia ser mandada de volta. De novo. Praquele lugar escuro, sufocante. Caio não me queria mais.

— Não! — Gritei.

Aterrorizada, comecei a chorar e corri atrás deles.

Agarrei o braço de Caio.

— Eu não empurrei ela! Caio, acredita em mim!

— Sai da minha frente! Você tem ideia do que fez?! Ela tá grávida! Você tentou matar o bebê! Se eu soubesse, nunca teria tirado você daquela escola! Beatriz, como é que eu tenho uma irmã tão desprezível? Por que você não morre logo?!

Ele arrancou meu braço com brutalidade e foi embora.

A dor no meu rosto ardia, mas na cabeça só ecoava uma frase:

“Por que você não morre logo?”

Essa frase se misturava com as memórias da escola. Os dias arrastados, as noites em que eu implorava por fim.

— Caio, você não sabe. Eu já pensei em morrer tantas vezes…

Arregacei a manga. O braço estava marcado por cicatrizes antigas. Cada uma era uma lembrança de que eu já tinha desistido antes.

Fui até a janela. Olhei para o lugar onde Bella havia deixado cair o colar da mamãe.

Peguei o celular e disquei o número de Caio.

— Caio… se eu morrer… você acreditaria em mim? Eu não empurrei ela. Foi ela que pegou o colar da mamãe…

— Então morre logo! — Gritou ele do outro lado da linha.

Soltei o celular da mão. Sentei na beirada da janela.

E sorri. Um sorriso cansado. Fechei os olhos e me deixei cair.

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