CAPÍTULO 2

Filipe franziu a testa e me encarou. Depois de um instante, falou frio:

— Desculpe, senhora, mas eu não a conheço. Ser educado não significa que vou aceitar repetidas acusações contra minha esposa e meu filho. O jurídico do Grupo MH está pronto pra agir!

Sofia ficou indignada, não acreditando no que ouvia.

— Pai, o que você tá dizendo? Agora nem eu nem a mamãe você reconhece mais?

Ao redor, o pessoal caiu na risada.

— Menina, para de bancar a atriz. Aproveita que o Sr. Filipe ainda não mandou vocês embora, pega sua mãe e some daqui. Grupo MH não é pra gente como vocês mexerem não!

Até os colegas de classe da Sofia olharam com desprezo.

— Sofia, que nojo! Sempre tão educada, nunca imaginei que você fosse assim por dentro.

Sofia agarrou a manga do Filipe, pedindo quase chorando.

— Pai, o que tá acontecendo? Por que você diz que não conhece a gente? Fala alguma coisa por mim e pra mamãe! Não tá ouvindo como estão xingando ela?

Filipe tirou a mão dela sem dó, empurrando a filha pra trás. Ela quase caiu, machucada por dentro.

Enquanto isso, Marina segurava firme a mão do Filipe, olhando pra mim com aquela cara de desafio.

Naquele momento, percebi que Marina sabia exatamente quem eu era. Imediatamente puxei minha filha para perto.

— Sofia, escuta bem, a partir de hoje, você não tem mais pai.

Assim que terminei de falar, o Filipe franziu levemente as sobrancelhas. Logo depois, meu celular voltou a vibrar.

“Larissa, eu já te expliquei, só aceitei ser pai do João por um dia. Você não tem um pingo de empatia?”

“Se eu admito quem você é, como você quer que a Marina e o João lidem com todo mundo depois? E o menino, como vai voltar a estudar?”

“Se não fosse você insistindo nessa confusão, nada disso teria acontecido. Agora aguenta as consequências. Leva logo a Sofia pra casa e pensa bem no que você fez!”

Dei uma risada fria. Parece que o tempo demais na diretoria fez ele esquecer quem realmente lhe deu poder.

Nessa hora, o professor responsável pela viagem de estudos apareceu para tentar acalmar a situação e avisou que a corrida recreativa da excursão estava prestes a começar.

Indo em direção ao ginásio, cruzei com a Marina, que passou por mim sorrindo, cheia de autoconfiança.

— Uma mulher como você, só serve pra enfeite, sempre acaba descartada. Só uma mulher de carreira como eu merece alguém do nível do Filipe. Se fosse você, já saberia sair de cena.

Soltei uma risada sarcástica. Mulher de carreira?

Acabei de receber mensagem do RH, a tal Marina só subiu na empresa por causa do Filipe, e nem entende o básico do trabalho.

Pelo visto, ela só sabe que sou esposa do Filipe, mas não faz ideia de que sou eu quem realmente manda no Grupo MH.

O RH e o jurídico confirmaram que as cartas de demissão e o acordo de divórcio já estavam prontos e estavam a caminho.

Não saí dali de propósito. Quero desmascarar o Filipe e a Marina na frente de todo mundo!

Quero justiça por mim e pela minha filha!

Enquanto isso, Filipe e Marina estavam sentados na área VIP, rodeados por diretores da escola e pais de alunos, todos bajulando e elogiando o casal.

Filipe mantinha o queixo erguido, todo cheio de si, o orgulho estampado no olhar.

Enquanto isso, Sofia já estava posicionada na pista. Mesmo forçando um sorriso pra mim, acenei pra ela, tentando dar força.

De repente, tudo aconteceu muito rápido, João saiu correndo na direção da pista da Sofia, esticou a perna de propósito bem na frente dela. Sofia, pega de surpresa, tropeçou e caiu com força no chão!

Corri desesperada até ela. O rosto da minha filha se contorcia de dor, o suor escorria da testa, e os dois joelhos estavam em carne viva, sangrando muito.

Meu coração doía junto.

E o culpado, com um sorriso de satisfação, começou a rir alto:

— Bem feito pra vocês duas! Quero ver se vão continuar se fazendo de coitadas agora!

Senti uma raiva absurda e fui levantar a mão pra dar um tapa nele, mas o Filipe entrou na frente, protegendo o João e a Marina.

— Chega! Isso é coisa de crianças, você vai mesmo brigar com um menor?

O peito subiu e desceu de tanta indignação.

— Brincadeira? Abre os olhos, olha só o estado da Sofia! Isso foi agressão de propósito!

Marina soltou uma risada debochada, tirou uma pilha de dinheiro da carteira e jogou na minha filha, me olhando nos olhos.

— Vocês duas não vivem correndo atrás de dinheiro? Pronto, tá aqui a indenização. Agora pegam isso e somem!

Os pais ao redor só riam, todos do lado do Filipe e da Marina.

— Viu? Quem mexe com gente grande é isso aí mesmo, só engole o choro!

— Não foram elas que provocaram o Sr. Filipe e a família dele? Agora aguentam! Quebrou a perna? Bem feito!

— Se até a esposa do Sr. Filipe já deu dinheiro, o que estão esperando pra sumir daqui?

Enquanto a médica da escola atendia a Sofia, vi minha filha olhando pro Filipe, na esperança de receber algum apoio.

Ele, no entanto, virou o rosto, se recusando a encarar.

O olhar dela ficou vazio. Sofia apertou minha mão e disse baixinho:

— Mamãe, você tinha razão. A partir de hoje, não tenho mais pai.