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Capítulo 2

Author: Marcelo Barros
Em certo momento, a Bárbara perguntou sobre mim.

Rui e Marcos franziram as sobrancelhas quase ao mesmo tempo.

Rui soltou uma risada fria:

— Bárbara, depois de tudo que ela te fez, por que ainda se preocupa com ela? Ela era um tipo de pessoa que não valoriza nada, será que alguma vez pensou em te agradecer? Seja sensata, deixe ela pra lá, deixe ela fazer o que quiser.

— O que vocês dois fariam se a Patrícia realmente morresse? — Havia uma leve hesitação no tom de voz quando a Bárbara perguntou.

Meu coração se apertou, e olhei fixamente para os rostos de Marcos e Rui.

Antes, eles ficavam extremamente preocupados quando eu me machucava por acidente, imagina se falasse sobre morte.

Eles já tinham dito que eu era a pessoa que eles queriam proteger para sempre.

Mas agora, Marcos apenas riu friamente e alegou:

— Se ela morrer, acho que os dias vão ficar muito mais leves. Naquele dia, vou soltar fogos de artifício pela cidade inteira para comemorar.

Rui completou:

— Talvez possamos até mandar o corpo dela de volta para sua cidade natal e chamar uns padres para fazer um ritual, assim ela nunca mais vai poder te perturbar.

Senti como se tivesse sido jogada em uma câmara frigorífica, todo o meu corpo ficou dormente, até respirar parecia impossível.

Eu não podia acreditar que os dois homens que um dia prometeram me amar, e mimar, tornaram-se tão cruéis comigo.

Soltar fogos de artifício para celebrar.

Chamar padres para fazer um ritual.

Tudo isso só para agradar e tranquilizar a pessoa que eles amam.

Naquele momento, agradeci por meu corpo não ter caído nas mãos deles.

Caso contrário, não teria paz nem mesmo depois de ser enterrada.

Bárbara disse que estava com medo, e Marcos e Rui, apressados, encerraram o que estavam fazendo e correram para casa para ficar com ela.

O estranho é que meu espírito, sem controle, os seguiu.

Assim que o carro parou, Marcos saiu apressado, caminhando rápido em direção à mansão.

Rui xingou baixo e também correu atrás.

Aquela mansão tinha sido comprada na época da universidade, quando eles não queriam que eu ficasse no alojamento e me separasse deles.

Naquele tempo, eu e Marcos ainda não tínhamos assumido nada.

Bárbara também ainda não tinha voltado.

Nós três éramos como um trio inseparável, sempre juntos.

Mas depois que Bárbara se mudou, com suas sucessivas acusações falsas contra mim, aquela casa deixou de ser um lar para mim.

Fiquei encolhida no lugar mais distante deles, sem olhar ou ouvir.

Mas as risadas e brincadeiras deles sempre chegavam facilmente aos meus ouvidos.

Bárbara perdeu mais uma partida de videogame, e se jogou descontente no sofá.

Rui afagou sua cabeça com carinho, tentando animá-la, chamando-a de "Princesa Bárbara"..

Antes, ele também me chamava de "Princesa Patrícia", mas não sei quando começou a me chamar apenas pelo nome, e de um solzinho que girava ao meu redor, virou um bloco de gelo sempre de cara fechada ao me ver.

Eu não entendia porquê ele ficava tão frio.

Cheguei a questioná-lo sobre isso uma vez, mas, o olhar dele passou do desprezo para o deboche.

Ele parecia um daqueles playboys arrogantes quando segurou meu queixo. Podia sentir o seu hálito quente roçando em meu rosto quando ele se aproximou.

Virei o rosto para evitar, e ele sorriu com sarcasmo.

— Patrícia, você não vai achar que eu quero te beijar, né? Não se iluda, só queria te avisar que, perto da Bárbara, você é simplesmente repulsiva. No passado, só podia estar cego para achar que você era especial.

— Você quer saber por que fui ficando frio? Porque agora encontrei a única pessoa para quem quero ser bom nesta vida. Então, a partir de agora, você não significa nada para mim. Seja sensata e saia da minha vida.

As últimas palavras foram ditas com raiva, e eu realmente tomei aquilo como verdade.

No dia seguinte, procurei Marcos, disse que queria me mudar com ele e deixar a mansão para Rui e Bárbara.

Mas, pela primeira vez, Marcos, que sempre pôs minhas vontades em primeiro lugar, recusou.

Ele disse que eu estava sendo irracional, mimada, incapaz de aceitar Bárbara.

Depois disso, ele ficou muito tempo sem falar comigo.

Não suportando mais o tratamento frio deles, decidi ir embora para esfriar a cabeça.

Mas apenas três dias depois de me mudar, morri.
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