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Morte Desprezada, Arrependimento Tardio
Morte Desprezada, Arrependimento Tardio
Author: Marcelo Barros

Capítulo 1

Author: Marcelo Barros
Rui Pessoa soltou um riso desdenhoso, desligou o telefone e se virou para Marcos Torres, que trançava uma coroa de flores, dizendo:

— Recebeu a ligação? Patrícia Menezes morreu.

Marcos nem levantou a cabeça, concentrado na tarefa, e respondeu com um leve "sim".

— Morreu, morreu. Se tiver um tempo, lembra de recolher o corpo dela.

O olhar de Rui ficou frio por um instante, um sorriso irônico se desenhou em seus lábios.

— Por que acha que eu devo fazer isso se você, que é o noivo, não quer recolher o corpo dela?

Marcos examinou a coroa de flores que estava pronta e apenas sorriu de modo ambíguo.

— Se quiser, posso te passar esse título. O casamento do mês que vem também pode ser todo seu. Posso contar com você agora?

Arregalei os olhos, incrédula, olhando para Marcos.

Não sei por quê, mas mesmo morta, a minha alma não se dissipava.

Marcos tinha um olhar cheio de alegria, mas seu rosto estava sério.

Só então acreditei que ele não estava mentindo, que realmente não queria mais se casar comigo; na verdade, mal podia esperar para se livrar de mim de uma vez por todas.

Só naquele instante, eu entendi o quanto ele me desprezava.

Rui o encarou por alguns instantes, depois soltou uma risada fria.

— Você acha que eu sou o quê, um lixo? Tenho que aceitar qualquer coisa ruim? Amanhã é o aniversário da Princesa Bárbara, não tenho tempo para me preocupar com quem não tem importância.

Assim que terminou de falar, o celular de Rui tocou.

O seu semblante suavizou imediatamente quando escutou aquele toque especial. Até Marcos parou instintivamente o que fazia, fitando Rui atender a ligação sem piscar.

No silêncio da sala privada, uma voz feminina doce ecoou:

— Rui, você está com o Marcos? Ele não atende minhas ligações…

Reconheci essa voz — era Bárbara Salgado, a musa de Marcos e Rui.

Aos dez anos, ela se mudou com os pais para o exterior e só retornou há dois anos.

Marcos e Rui eram gentis comigo, mas ela deixava claro que não me suportava quando fazia aquelas ameaças só pra me afastar deles.

Como não aceitei, ela mandou pessoas me cercarem, quase me desfigurando.

Quando Marcos e Rui souberam, deram uma lição rigorosa nela e juraram que, se ela me machucasse novamente, cortariam toda relação.

Só então Bárbara recuou um pouco, limitando-se a pequenas provocações de vez em quando.

Na época, não dei muita importância. Depois, quando quis explicar, já era tarde demais.

A balança no coração de Rui e Marcos, sem que eu percebesse, já se inclinava para o lado dela.

Marcos olhou para o celular e viu, de fato, uma ligação perdida.

Franziu a testa, lembrando-se de que, após atender várias ligações da polícia, ficou tão aborrecido que colocou o aparelho no silencioso, perdendo assim a chamada de Bárbara.

Rui arqueou as sobrancelhas com um sorriso provocador ao falar:

— Patrícia morreu, ele foi cuidar do corpo dela. Como ia te atender?

O olhar de Marcos esfriou. Ele se levantou, tomou o celular de Rui e disse, com voz suave para a tela:

— Bárbara, não escute as bobagens do Rui. Amanhã é seu aniversário, estou preparando uma surpresa para você.

A grande sala estava cheia de flores, pelúcias e caixas de presente — tudo fruto de três dias de cuidadosa preparação de Rui e Marcos.

Conheci os dois aos treze anos e, por dez anos, também tive surpresas assim.

Nos três dias anteriores ao meu aniversário, eles sempre desapareciam. Quando eu já estava ansiosa, alguém me vendava e me levava a esse lugar mágico que criaram especialmente para mim.

Mas, desde o retorno de Bárbara, essas surpresas deixaram de existir.

Agora, tudo era exclusivo para ela.
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