CAPÍTULO 0003

Na manhã seguinte, quando acordei, Renato e Camila já estavam tomando café da manhã à mesa da sala.

Renato soprou a tigela de capeletti em caldo quente e levou uma colher à boca da Camila.

Talvez achassem que eu ainda estivesse dormindo, pois os dois estavam bem à vontade.

— Sr. Renato, a Lorena é uma boa pessoa. Se tiver um tempinho, podia ajudar ela a cuidar da filha, né? Afinal, a menina também é sua.

Renato sorriu de orelha a orelha:

— Eu não estou nem aí para aquela pirralha! O que me importa é o nosso bebê, Camila! O verdadeiro fruto do nosso amor!

Camila corou:

— Ai, para... Mas você prometeu. Se for menino, vai se divorciar e casar comigo.

Renato assentiu sem hesitar:

— Claro, Camila. Quando que eu já menti pra você?

Gravei o vídeo em silêncio e mandei tudo para o advogado.

Agora eu entendia por que Renato andava tão descarado ultimamente. Camila estava grávida dele.

Mas o que mais me revoltava era o fato de que a filha que gerei com tanto sofrimento não significava absolutamente nada pra ele.

Não temos trono em casa. Por que tanta obsessão por um herdeiro homem? Que nojo.

Peguei a Isabela, coloquei ela no carrinho e me preparei para dar um passeio.

Ao me ver chegar na sala, Renato interrompeu apressadamente a refeição e se aproximou para puxar conversa:

— Amor, vem tomar café da manhã com a gente.

Olhei para os restos de comida na mesa e recusei educadamente:

— Não, obrigada. O dia tá bonito. Vou levar a Isabela para pegar um sol.

Isabela ainda é pequena. Quando viu Renato, esticou os bracinhos pedindo colo, instintivamente.

Mas, no instante seguinte, Camila soltou um gemido alto:

— Ai! Que dor na barriga...

O rosto de Renato mudou na hora. Ignorou a filha com os braços estendidos e correu até Camila:

— O que foi, Camila? Tá tudo bem?

Ela segurou o braço dele:

— Não sei... Por favor, me leva pro quarto. Preciso descansar um pouco.

Renato a pegou nos braços e a levou direto para o quarto.

Acariciei o cabelinho da Isabela, que parecia decepcionada, coloquei minha máscara e saí com ela.

Hoje, meu plano era trocar o bilhete premiado.

Fui com Isabela até o guichê. Mesmo depois de descontado o imposto, ainda recebi oito milhões de reais.

Doei cem mil para uma fundação de apoio à infância. Queria acumular boas ações para que Isabela tivesse uma vida abençoada.

O restante do dinheiro seria o meu fundo de liberdade, pra sair de perto do Renato e criar a Isabela por conta própria.

...

O advogado me avisou que o contrato de divórcio levaria alguns dias para ficar pronto. Para não levantar suspeitas, voltei pra casa como se nada tivesse acontecido.

Assim que chegamos a casa, recebi uma ligação da minha chefe. Disse que faltava uma entrega do meu trabalho e que eu precisava enviar o relatório imediatamente.

Camila se aproximou com um brinquedinho da Isabela na mão:

— Lorena, posso cuidar da menina por uns minutinhos enquanto você resolve isso?

Balancei a cabeça:

— Não precisa. A Isabela sabe brincar sozinha.

Coloquei a Isabela dentro do cercadinho e corri até o computador para procurar os arquivos.

Mal terminei de enviar o e-mail, nem cinco minutos tinham se passado, e ouvi um choro desesperado vindo da sala.

Saí correndo e vi uma marca vermelha no braço da Isabela.

Minha filha é a minha vida. Quem machuca ela, mexe comigo.

Segurei o cabelo da Camila com força e dei um tapa na cara dela:

— Você encostou na minha filha?!

Ela não revidou. Começou a gritar, chorando alto.

O barulho logo chamou a atenção de Renato, que correu até nós, me puxando para longe e protegendo Camila com o corpo.

— Lorena Martins! O que você pensa que está fazendo?!

Abracei a Isabela, que ainda chorava inconsolável:

— O que eu estou fazendo? Você não viu que ela maltratou sua filha? Essas marcas foram feitas por ela, apertando com força!

Mesmo que Renato não amasse a Isabela como deveria, ainda assim era sua filha. Ele franziu a testa e olhou para Camila:

— O que aconteceu?

Camila limpou as lágrimas, tentando parecer frágil:

— Eu juro que não foi de propósito, Sr. Renato. Eu só estava brincando com ela. Mas ela começou a chutar minha barriga sem parar... Fiquei desesperada e só tentei educar um pouco...

Quase ri de tão ridículo.

— A Isabela tem pouco mais de um ano. Como é que ela ia chutar sua barriga assim?

Camila voltou a chorar:

— Sr. Renato, acredita em mim, por favor...

Talvez com pena do bebê que ela carregava, Renato novamente tomou o lado dela. Abraçou Camila com carinho e ainda me lançou um olhar de desprezo:

— Lorena, vai com a menina paro quarto e fica lá. Para de passar vergonha.

Perdi totalmente as esperanças em Renato.

— Passar vergonha?! Renato, ela machucou a sua filha e você não vai fazer nada?

Ele me puxou pelo braço, tentando me arrastar até o quarto. Naquele momento, perdi o controle. Avancei de novo e puxei o cabelo da Camila com força.

Pegou ela de surpresa. O celular dela caiu no chão.

Foi aí que, num relance, vi a notificação que surgiu na tela do celular dela.

Meus olhos se arregalaram.