Share

Quando Ela Parou de Amar, Foi Ele que se Arrependeu
Quando Ela Parou de Amar, Foi Ele que se Arrependeu
Author: Hannah

Capítulo 1

Author: Hannah
Para cuidar de Severino Cardoso, que ficou gravemente ferido em um acidente de carro e perdeu o movimento das pernas, Daniela abriu mão de um futuro brilhante, ficando ao lado dele por cinco anos sem nunca sequer ser reconhecida como namorada de verdade.

Desde que Severino passou pelos piores momentos, quando parecia ter perdido toda a esperança, foi Daniela Miranda quem se manteve firme, ajudando-o a recobrar a força e, finalmente, assumir o comando da empresa da família.

Todo mundo de Oeiras sabia que não existia ninguém que amasse Daniela do jeito que Severino amava.

Ele não media esforços para agradá-la, sempre gastando uma fortuna em presentes, inclusive comprando joias caríssimas só para vê-la sorrir.

Ele fez questão de cuidar de tudo para realizar o casamento dos sonhos dela, planejando cada detalhe de uma cerimônia luxuosa.

Se, por algum motivo, Daniela demonstrava tristeza, Severino ficava arrasado e parecia capaz de abrir mão de tudo, até mesmo da própria vida, só para ver a felicidade dela.

No entanto, apenas Daniela conhecia a verdade por trás dessa fachada perfeita. Na véspera da cerimônia, aquele Severino, que parecia apaixonado por ela como ninguém, acabou se envolvendo num segredo terrível. Sem dizer nada, ele foi ao cartório pouco antes da data, acompanhado de Mariana Lopes, a antiga paixão recém-chegada de volta do país e se casou com ela.

A desculpa era que Mariana não podia passar mais dificuldades, e o filho que ela trouxe também merecia proteção e respeito.

Mas, em relação a Daniela, ele não teve qualquer escrúpulo em mentir.

Foi só naquele momento que Daniela descobriu que, para Severino, ela não passava de uma companhia descartável.

Foram cinco anos jogando seu próprio valor fora, se colocando sempre em segundo plano. Quando finalmente enxergou a realidade, Daniela decidiu aceitar a proposta de casamento arranjado pela família, convencida de que não queria mais nada com Severino.

No dia do casamento, os dois carros da cerimônia acabaram se cruzando. Do outro lado, Severino, normalmente tão reservado, parecia completamente fora de si ao ver Daniela vestida de noiva.

...

— Dani, você está linda demais.

No enorme espelho do provador, Daniela, usando o vestido de noiva feito sob medida, parecia até uma pintura de tão delicada, com traços marcantes e um olhar profundamente conquistador.

Severino estava logo atrás, com as mãos grandes na cintura dela. O calor da respiração dele subia devagar pelo pescoço dela, provocando um arrepio que Daniela mal conseguia disfarçar.

— Severino, para com isso. Tem gente lá fora..— Ela falava baixinho, visivelmente constrangida.

— Fica tranquila, daqui a pouco vamos ser marido e mulher mesmo. — Respondeu Severino, com uma voz baixa e confiante, enquanto deixava os dedos passearem devagar pelas costas dela, chegando quase à cintura.

— Não, agora não. — Daniela tentou se desvencilhar, mas só conseguiu morder o lábio de tão nervosa. O coração parecia que ia sair pela boca.

— Boba, só estou brincando. — Severino soltou um riso baixo, abraçando-a de novo. — Fica tranquila, vou fazer tudo do jeito que você quer. O mais importante vou guardar para a nossa noite de núpcias. Você vai ver, não vai conseguir sair da cama por três dias seguidos.

Daniela ficou vermelha na hora, pronta para reclamar, mas foi interrompida pelo toque do celular, cujo som tirou o clima no camarim apertado. Severino olhou rápido para ela antes de se virar e atender.

Daniela tentou disfarçar a vergonha, mas não deixou de notar o nome na tela. Era Bruno Ramos, um dos melhores amigos de Severino.

— Fala, Bruno.

— Severino, que história é essa com a Mariana? O Twitter está pegando fogo! — Reclamou Bruno do outro lado, com a voz aflita.

Só de ouvir o nome Mariana, Daniela sentiu um nó no estômago. Quando ergueu os olhos, Severino já tinha ficado sério, apertando o aparelho antes de responder em francês:

— Aqui não dá para conversar. Vamos falar em francês.

Do outro lado, Bruno demorou um instante, inspirou fundo e mudou o idioma:

— Saíram fotos suas e da Mariana no cartório hoje de manhã! Já esqueceu que, cinco anos atrás, você perdeu os movimentos das pernas salvando a vida dela? Foi jogado para antiga mansão pela sua família, tratado como lixo, enquanto aquela mulher foi correr atrás daquele sonho bobo de ser atriz na França, te deixando sozinho para trás. Esqueceu tudo isso mesmo?

Para Daniela, era quase insuportável ouvir aquela conversa em francês. Parecia cruel, ainda mais porque ela tinha se esforçado tanto para aprender línguas só para estar ao lado de Severino. Agora, tudo o que ela queria era que aquilo não estivesse acontecendo.

Com os dentes cerrados, Severino respondeu, numa voz rouca:

— Não esqueci, só que a Mariana está numa situação difícil. Se eu não ajudasse, iam vender ela para um velho qualquer. Não consegui deixar isso acontecer.

— Severino, você está maluco? — Bruno rosnou baixinho. — E a Daniela? Esqueceu que foi ela quem esteve do seu lado esse tempo todo? Se não fosse por ela, suas pernas nunca teriam se recuperado! O casamento de vocês é no mês que vem. Como é que você consegue trair uma pessoa assim?

— Eu não traí! — Severino rebateu, com uma voz fria. — Ninguém vai saber desse casamento com a Mariana. Eu e a Dani vamos casar normalmente e, quanto ao papel, dou um jeito com um documento falso para ela.

— Finge que engana por quanto tempo? Já parou para pensar no que pode acontecer se a Daniela descobrir?

— Ela não vai ficar sabendo! — Severino respondeu, convicto.

Desde que Daniela não descobrisse, ele acreditava ser capaz de manter o equilíbrio entre ela e Mariana.

Ele sempre soube o quanto Daniela o amava, acreditando que, mesmo que descobrisse tudo, ela jamais o deixaria.

— E se eu te disser que a Mariana voltou com uma criança? — Bruno apertou.

Severino sussurrou com uma voz tensa:

— Eu sei. O menino precisa de um pai. Casando com a Mari, consigo proteger ele das fofocas e de tudo o resto.

Antes de Bruno dizer mais alguma coisa, Severino foi rápido no gatilho e desligou.

Daniela ficou parada, sem conseguir se mexer. Até aquele instante, ela estava flutuando de felicidade, mas tudo desmoronou como um castelo de areia atingido pela onda. Mal conseguia ficar de pé, agora com lágrimas nos olhos.

Mariana tinha voltado. Severino escolheu se casar com ela só para impedi-la de sofrer mais...

Mariana voltou para o país acompanhada do filho. Com medo de que o menino sofresse algum tipo de rejeição, Severino aceitou assumir o papel de pai do garoto.

E Daniela? O que realmente era para ele? Seria só mais uma empregada, alguém para esquentar a cama, uma mulher boba que, acreditando nas promessas dele, trabalhava sem descanso pela empresa, sempre pronta para se sacrificar mais do que devia?

De repente, ela se questionou se todos aqueles cinco anos tinham passado de uma piada de mau gosto.

A raiva, a vergonha, a tristeza e o sentimento de injustiça se misturaram num aperto sufocante no peito, tornando a respiração cada vez mais difícil, até as pernas começarem a ceder. Por instinto, ela se apoiou no cabideiro ao lado para não cair.

Com esforço, conseguiu se manter em pé, os olhos vermelhos de tanto chorar fixos nas costas do homem. Vontade de perguntar o que ela realmente representava para ele, mas as palavras teimavam em não sair.

— Severino, você...

Naquele instante, um toque diferente de WhatsApp interrompeu sua fala, invadindo o ambiente silencioso e quebrando o pouco de coragem que restava nela.

Severino rapidamente ajeitou a camisa, virou-se com pressa e, num gesto frio, deu um beijo apressado na testa de Daniela.

— Dani, minha querida, preciso sair agora, surgiu uma coisa importante para resolver. Depois que terminar de experimentar o vestido, pode voltar para casa sozinha.

Ele não esperou por qualquer reação dela, já respondendo mensagens no celular enquanto se afastava rapidamente do provador.

O barulho da porta batendo ressoou forte ao redor.

Sem forças para resistir ao golpe, Daniela escorregou até o chão. Ao sentir as lágrimas frias escorrendo pelo rosto, percebeu que seu gosto era amargo, igual ao momento que vivia.

Perguntava-se qual motivo tão urgente ele poderia ter, a ponto de nem mesmo ela, que era sua secretária, não conseguir saber. Mas lá no fundo, Daniela já pressentia de quem vinha aquela mensagem.

A dor cresceu de tal forma que parecia apertar cada órgão dentro do corpo. O tule do vestido, antes impecável, agora estava todo amassado, resultado do nervosismo que dominava suas mãos.

Quando se olhou no espelho, enxergou seus próprios olhos inchados e vermelhos, lágrimas gordas caindo e marcando o tecido branco do vestido.

Ela mesma não sabia quanto tempo ficou naquela posição, até que as vozes de funcionários do lado de fora ecoaram pelo corredor, forçando-a a tomar fôlego, apoiar-se delicadamente e se levantar, ainda sentindo o corpo trêmulo.

Seu olhar continuou fixo no espelho, vendo refletida uma mulher destruída e exaurida. Um sorriso triste escapou dos próprios lábios.

— Que situação. — Ela sussurrou, desprezando a própria imagem.

Era humilhante se anular tanto, se sujeitar a alguém que nunca retribuiu de verdade nenhum sentimento.

Ela perdeu cinco anos de vida para tentar esquentar um coração que nunca teria calor.

Cansada, decidiu ali mesmo que não merecia mais carregar aquela dor.

Sem pensar duas vezes, arrancou o véu branco com força, jogando-o longe. Vestiu-se rápido, limpou as últimas lágrimas do rosto e, com movimentos decididos, refez a maquiagem para esconder os sinais do choro.

Respirou fundo e, ao ver a expressão normal no próprio rosto refletido de novo no espelho, pegou o vestido pesado nos braços, empurrou a porta e saiu do provador.

— Ontem, o senhor Severino ligou para cá de novo, pedindo outro vestido novo, tudo de última hora. Ricaço pode tudo, né? — Comentou uma vendedora, rindo para a colega ao lado.

— Nem me fala, parece que dessa vez o tamanho nem bate com o anterior. — Respondeu a outra.

— Será que pediu para duas mulheres diferentes? — Arriscou a primeira, quase cochichando.

Ao ouvir aquilo, Daniela travou no meio do caminho, apertando ainda mais o vestido nos braços enquanto sentia cada palavra cravar como uma faca em seu peito.

— Srta. Daniela, ficou satisfeita com o vestido? — Uma das funcionárias se aproximou, sorrindo nervosa. — O Sr. Severino trouxe um estilista estrangeiro só para cuidar dos detalhes para senhorita...

Daniela cortou o discurso com voz fria, quase sem emoção, enquanto devolvia o vestido à funcionária.

— Não quero. Pode devolver.

Assim que terminou de falar, virou-se e foi embora, sem olhar para trás.

Já na saída da loja, tirou o celular da bolsa e, sem hesitar, discou um número salvo na memória. Depois de poucos toques, falou com firmeza:

— Vovô, decidi aceitar o casamento arranjado. Só tenho que resolver umas coisas aqui antes, mas daqui a um mês vou estar pronta para voltar.
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • Quando Ela Parou de Amar, Foi Ele que se Arrependeu   Capítulo 100

    — Toma essa água morna primeiro, depois te conto tudo. — Disse Daniela, enquanto encaixava o copo nas mãos ainda geladas de Larissa. Encheu o peito de ar e passou a língua nos lábios, o nervosismo estampado no rosto. — O que vou falar agora vai te deixar de queixo caído, mas jura que vai manter a calma.Vendo Daniela com aquela cara de velório, Larissa engoliu em seco e prendeu a respiração, se preparando para a bomba que estava por vir.— Bom, é o seguinte. Vou me casar e esta aqui é minha casa de casada.— Que porra é essa? — Larissa saltou do sofá que nem foguete e derrubou a água, que voou direto na cara da Daniela, encharcando ela toda.Daniela ficou ali parada, pingando que nem torneira quebrada.— Você quer me deixar desfigurada, é essa a ideia?Ainda bem que a água não estava fervendo, senão ela tinha virado linguiça.— Ai, desculpa! Foi reflexo! Eu só me assustei demais... — Larissa ficou toda atrapalhada e já esticava a manga para limpar a cara da amiga.— Para aí! Eu me viro

  • Quando Ela Parou de Amar, Foi Ele que se Arrependeu   Capítulo 99

    Jardim Verde.Daniela chegou em casa trazendo Larissa e deu de cara com uma confusão danada na casa vizinha. O pessoal da mudança estava numa correria louca, subindo e descendo com móvel para todo lado.A curiosidade bateu e Daniela se dirigiu ao portão onde encontrou o porteiro conhecido parado na guarita.— Caio, finalmente venderam a casa do lado?Desde que Daniela tinha se mudado para o bairro, aquela mansão ficava encalhada, com placa de venda tremulando no vento.— Oi, Srta. Daniela! — Caio escutou a voz dela e veio correndo com um sorriso de uma orelha na outra. — Venderam, sim, fecharam ontem de noite e hoje cedo já apareceu essa galera toda. Pelo que soube, o novo morador está com pressa braba para se instalar. Nem quis mexer na decoração, só mandou trazer os móveis dele.— Que coisa... — Daniela deu uma olhada rápida nele, vendo que estava com cara bem melhor que antes, e relaxou aliviada. — E aquela tosse danada, ainda está pegando no seu pé?— Que nada, estou novo em folha!

  • Quando Ela Parou de Amar, Foi Ele que se Arrependeu   Capítulo 98

    — Para de bancar o coitadinho, que nojo! — Completou Daniela, com desprezo.A porta do quarto bateu com uma pancada seca!Severino ficou plantado no corredor com a cara emburrada, olhando para os pães de açúcar espalhados pelo chão. A raiva borbulhou no peito e ele ergueu o pé para pisar com força em cima de um deles!O pãozinho redondo estourou que nem balão, espalhando recheio de carne por todo canto enquanto o cheiro de carne moída com cebolinha invadia o corredor....Após resolver toda a burocracia da alta da Larissa, Daniela mandou ela esperar no saguão e subiu para ver como estava Ivana.Abriu a porta do quarto e deu de cara com uma mulher de uns quarenta e poucos anos de conjunto azul, que estava cuidando das mãos da Ivana com a maior paciência do mundo.A mulher notou que alguém tinha chegado, se virou e abriu um sorriso acolhedor.— Você é a Srta. Daniela, né? Sou a cuidadora que a Srta. Sabrina enviou. Me chama de Laura.Laura tinha um rosto redondo e bondoso, apanhou a toal

  • Quando Ela Parou de Amar, Foi Ele que se Arrependeu   Capítulo 97

    Severino captou o nervosismo dela na hora e abriu um sorriso de quem acabava de tirar a sorte grande. Recuou um passo para não pisar na bagunça espalhada pelo chão, cruzou os braços com toda tranquilidade do mundo e soltou uma risadinha provocativa.— Dani, que aflição é essa? Calma, não vou fazer mal nenhum para ela.Daniela cerrou os punhos até os nós dos dedos ficarem brancos, travou a boca e o encarou com um olhar cortante como navalha. A inquietação tomava conta dela e era impossível disfarçar.— Ela é sua professora, uma pessoa que respeito muito. Sabendo que está doente e internada aqui, eu como seu noivo posso muito bem-fazer uma visitinha de cortesia.— Então você está me ameaçando mesmo? — Daniela destravou os lábios e o fuzilou com uma expressão que prometia problema.— Dani, que história é essa de ameaça? Você me conhece, quando que fiz alguma maldade dessas? — Severino fingiu ser a própria inocência, mas por dentro estava se lambuzando de satisfação.Quanto mais Daniela se

  • Quando Ela Parou de Amar, Foi Ele que se Arrependeu   Capítulo 96

    Após refletir um pouco, Severino conseguiu identificar exatamente por que Daniela havia explodido daquele jeito. Primeiro, ele tinha vindo interceder pela Mariana, o que despertou ciúmes e irritação nela. Segundo, havia tocado no assunto do pai, provocando a fera que dormia dentro dela.Daniela estreitou os olhos e franziu o cenho, apertando com força a maçaneta gelada da porta enquanto permanecia em silêncio, claramente decidindo se valia a pena continuar discutindo com ele.— Estou indo embora, mas logo vamos...Antes que Severino pudesse terminar a frase, Daniela bateu a porta bem na cara dele.Severino ficou plantado no corredor, encarando a madeira fechada enquanto esfregava o nariz que quase foi atingido. Fez uma careta e murmurou sozinho, determinado a ter a última palavra:— Logo vamos nos ver de novo.A porta se abriu novamente, pegando-o de surpresa.Severino sentiu uma faísca de esperança se acender no peito, convencido de que havia interpretado a situação corretamente.Conh

  • Quando Ela Parou de Amar, Foi Ele que se Arrependeu   Capítulo 95

    — De jeito nenhum. — Daniela recusou de pronto, sem dar margem para negociação.Severino ficou mudo por um instante. A cordialidade que fingia manter se desfez aos poucos enquanto permanecia ali com o semblante cada vez mais sombrio, pressionando-a com irritação crescente:— Por que não? Qual é o problema? Dani, desde quando você ficou tão fria assim? Henry tem só quatro anos. Você consegue mesmo ver esse menino perdendo a mãe sem fazer nada? Me lembro que você também perdeu seu pai cedo. Ninguém melhor que você sabe o que é ficar sem um dos pais, não acha? Tenta se colocar no lugar da criança...— A Mariana foi sentenciada à morte por acaso? — Daniela saltou da cadeira com os olhos flamejando de raiva, encarando-o com uma frieza cortante. — Você mesmo vive dizendo que quem faz errado tem que pagar. Agora ela está pagando pelo que fez. Que razão tem para se queixar?A fúria explodiu no peito de Daniela, que fechou as mãos com tanta força que as unhas perfuraram as palmas. Respirou pesa

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status