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Capítulo 3

Author: Mariana Tavares
Isabela baixou o olhar e, com tranquilidade, sentou-se no banco do carona. Como de costume, ela pegou o celular e começou a olhar as avaliações do restaurante, conferindo os pratos mais famosos do lugar.

Durante o trajeto, Cláudio estava claramente distraído. Ele olhava para o relógio o tempo todo, e nos semáforos vermelhos, puxava a gravata, inquieto, como se estivesse com medo de que alguém importante fugisse do restaurante antes deles chegarem.

Isabela sabia muito bem: naquele momento, ela era só uma peça no jogo de Cláudio, um instrumento para provocar a ex-namorada dele.

Mas... Quem disse que ela ia se deixar usar tão facilmente?

Com um leve sorriso, Isabela entrou no perfil secundário do Instagram e mandou uma mensagem direta ao paparazzo mais fofoqueiro da cidade.

[Tem babado forte hoje no Solar do Sabor, corre aqui.]

— Conversando com quem aí? Você está toda animada. — Cláudio perguntou, sorrindo.

Isabela saiu da tela do chat e respondeu, sem demonstrar nada:

— Só um colega da faculdade.

Quando ela avistou a fachada do Solar do Sabor, fez sinal para Cláudio estacionar e desceu do carro primeiro.

Enquanto Cláudio manobrava o carro na vaga, Isabela aproveitou para tirar uma foto da placa do carro e enviou para o paparazzo.

O presidente do Grupo Dantas dirigindo um Alter Kalman, um dos dez únicos no mundo. É impossível alguém não reconhecer.

O jornalista respondeu na hora:

[Valeu, tô indo agora!]

Isabela guardou o celular no bolso. Ao levantar os olhos, viu Cláudio parado ao lado do carro, encarando o interior do restaurante sem piscar.

Ela seguiu o olhar dele e finalmente viu a famosa Bruna.

A mulher era realmente bonita, e se não fosse pelo jeito de se vestir, mais sofisticado, parecia até mais nova, talvez com pouco mais de vinte anos.

Bruna estava sozinha, sentada perto da janela, almoçando com elegância e delicadeza.

Cláudio a observava fixamente. No olhar dele, havia ressentimento, raiva... Mas acima de tudo, amor e posse.

Durante anos, Isabela se acostumou com o jeito carinhoso e atencioso de Cláudio, achando que ele era um cavalheiro perfeito.

Só agora, vendo como Cláudio reagia diante da mulher que realmente amava, ela percebeu o quanto tudo aquilo com ela era fachada, pura encenação.

Diante de quem ele queria de verdade, Cláudio virava um predador, igual quando tramava para tomar o que restava da família Gomes. Ele planejava cada passo, usando Isabela para atrair de volta a ex-namorada.

Era repugnante.

Isabela forçou um sorriso vermelho nos lábios:

— Cláudio, tá olhando o quê? Não vai entrar?

Cláudio despertou do transe e segurou forte a mão dela, entrando com ela no restaurante.

A porta bateu no sino, que tilintou alto.

Bruna, sentada à mesa, virou na mesma hora e ficou paralisada, deixando o talher cair sem perceber. Em seguida, se levantou apressada.

— Cláu... Cláudio!

Cláudio parou, olhando para ela com frieza e distanciamento:

— Bruna. Há quanto tempo.

Isabela sentiu a mão sendo apertada com tanta força que quase gritou de dor.

Ela revidou, apertando a mão de Cláudio até ele afrouxar o aperto.

Bruna, do outro lado, estava com os olhos cheios de lágrimas. Ela olhou para Isabela:

— É ela... A mulher com quem você vai se casar?

Isabela fingiu surpresa:

— Você é...

Cláudio ficou tenso:

— Uma desconhecida.

Bruna pareceu devastada, cambaleando no lugar.

Cláudio tornou a segurar firme a mão de Isabela:

— Vamos, vamos comer.

— Cláudio! — Bruna agarrou a manga da camisa dele, desesperada. — A gente ficou tanto tempo sem se ver, é assim que você vai me tratar? Nem pra conversar um pouco?

Os clientes ao redor já estavam de olho, curiosos com a cena.

Isabela não quis se envolver, soltou a mão de Cláudio:

— Acho que vocês precisam de privacidade. Vou subir, me avisem quando terminarem.

Ela se virou e saiu.

Cláudio franziu levemente a testa, sem conseguir evitar de olhar para Isabela enquanto ela se afastava.

Naquele momento, ele só pensava em provocar Bruna, mas, instintivamente, sentiu vontade de ir atrás de Isabela. Três anos interpretando o namorado perfeito acabaram deixando marcas.

Cláudio respirou fundo, fechou o punho e encarou Bruna friamente:

— Não me procure mais. Quem foi embora sem olhar pra trás foi você, agora quer bancar a vítima pra quem?

Sem dar espaço para Bruna responder, ele subiu atrás de Isabela.

Bruna ficou parada, pálida, mordendo o lábio de vergonha e raiva. Os olhos brilhavam de inveja.

Se Cláudio ainda se importava tanto com o passado, é porque ela ainda tinha chances.

Ela não ia perder!

Bruna pegou a taça de vinho, que nem tinha tocado, e foi atrás.

No reservado, Isabela estava sentada mexendo no celular, sem sequer levantar a cabeça ao ouvir a porta abrir.

— Já terminou de conversar com sua ex?

Cláudio parou, surpreso por ela saber de Bruna.

Mas, na verdade, Bruna tinha sido a única mulher marcante do passado dele.

Cláudio riu, se inclinou e encostou o queixo nos cabelos de Isabela:

— Não fica assim, entre eu e a Bruna não existe mais nada, ficou no passado.

Isabela levantou os olhos para a porta, vendo Bruna parada ali, e empurrou Cláudio para longe.

— Espero mesmo.

Cláudio viu Bruna e se levantou.

— Por que você veio atrás?

Na voz dele, havia um traço de satisfação impossível de disfarçar.

Bruna sorriu triste, os olhos marejados:

— Três anos sem nos vermos. Pelo menos posso dizer que te reencontrei, ver você e Isabela juntos, prestes a casar... Vim brindar por vocês.

O rosto de Cláudio foi ficando sombrio.

— Você está falando sério?

Bruna forçou um sorriso:

— Claro que estou.

— Ótimo. — Cláudio riu de leve e serviu uma taça de vinho. — Então vamos brindar.

Bruna olhou para Isabela:

— Isabela, brinda com a gente também.

Cláudio não disse nada, o que já foi um sinal de consentimento. Isabela então não teve opção a não ser erguer a taça e brindar com Bruna.

No instante em que as taças quase se tocaram, Bruna moveu levemente a mão.

O vinho de Isabela, ao invés de entrar no brinde, acabou sendo todo derramado em cima de Bruna, respingando também um pouco na própria Isabela.

Bruna soltou um grito de surpresa; o vestido dela ficou todo encharcado, revelando mais do que devia.

Cláudio prendeu a respiração por um segundo e, sem pensar, tirou imediatamente o próprio paletó e cobriu os ombros de Bruna:

— Vem, vou te ajudar a se limpar.

Ele saiu apressado levando Bruna consigo, como se Isabela nem existisse ali.

Isabela não demonstrou reação alguma. Só quando eles já tinham saído, ela se levantou calmamente, desceu até o carro e pegou um lenço de papel.

Lá embaixo, o paparazzo vasculhava tudo de um lado para o outro, sem conseguir encontrar Cláudio.

Isabela então mandou uma mensagem pelo celular:

[Banheiro feminino.]

O paparazzo correu para o andar de cima, enquanto Isabela se acomodou tranquilamente no carro.

Algum tempo depois, Cláudio e Bruna apareceram do lado de fora, bem perto do carro. O fotógrafo se escondeu atrás da porta do restaurante, pronto para flagrar tudo.

Bruna percebeu a silhueta de Isabela dentro do carro, seus olhos brilharam e ela agarrou a manga do paletó de Cláudio.

Cláudio parou, mas logo afastou a mão dela:

— Me passa seu contato, quando você comprar outra roupa, me avisa que eu transfiro o valor. Afinal, quem sujou seu vestido foi minha noiva, eu que devo arcar com isso.

Os olhos de Bruna se encheram de lágrimas:

— Cláudio, você ama mesmo ela?

Cláudio respondeu sem hesitar:

— Claro que amo.

— Mentira! Se amasse mesmo, não teria se preocupado só comigo quando nós duas ficamos molhadas de vinho. — Bruna engasgou com as próprias palavras, chorando. — No fundo, você ainda gosta é de mim.

Cláudio ficou em silêncio por um momento, franzindo a testa.

A roupa de Isabela também ficou molhada? Ele nem tinha notado.

Bruna enxugou as lágrimas:

— Tá vendo? Você nem reparou nela. Todo o seu foco esteve em mim esse tempo todo, e ainda quer dizer que não sente mais nada?

Isabela acompanhava tudo de dentro do carro, o olhar carregado de desprezo e frieza.

Ótimo, quanto mais eles falassem, mais material para a imprensa, mais rachaduras na imagem de “homem perfeito” que Cláudio cultivava.

Cláudio só conseguia pensar em Isabela, de roupa molhada, sumida, e isso começou a incomodá-lo.

Ele afastou Bruna de novo, irritado:

— Chega! Você sumiu por três anos e agora acha que pode voltar e reatar como se nada tivesse acontecido? Bruna, eu quero ver você se arrepender, quero ouvir da sua boca um pedido para eu voltar!

Cláudio se virou e foi em direção ao carro.

Isabela deslizou um pouco no banco, virou o rosto para a janela, fingindo que ia dormir.

Só que, ao olhar de soslaio para fora, foi surpreendida por outra cena.

No Lexus estacionado ao lado, com o vidro meio abaixado, havia um homem de camisa preta, relaxado no banco do motorista. O rosto dele era marcado por traços fortes, olhar profundo e selvagem, com um ar indomável que chamava atenção.

Se Cláudio era um lobo, aquele homem era um leão enigmático: assistia toda a confusão, mas não demonstrava nenhuma emoção.

Ao perceber o olhar de Isabela, ele lançou um olhar de canto, ergueu lentamente o vidro do carro, os dedos longos e firmes apertando o volante, e partiu sem pressa.

O coração de Isabela disparou de repente. Ser flagrada por um desconhecido enquanto ela assistia friamente ao escândalo do próprio noivo não era nada bom.

Ansiosa, ela tentou gravar a placa do Lexus, mas, de repente, a porta do carro se abriu bruscamente.
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