Capítulo 1

[Cachorros e Juliana Campos não entram]

Ao ver novamente aquela placa familiar na porta, chorei de emoção.

Juliana Campos, este é o meu nome, sendo insultado junto com cachorros.

Mas ninguém sabia a alegria imensa que eu sentia naquele momento, pois eu havia renascido.

Eu tinha voltado para o dia do aniversário do meu noivo, Wagner.

Aos olhos de todos, eu não era digna de Wagner.

Nem pelo histórico familiar, nem pela aparência, havia qualquer comparação entre nós.

Ele era o herdeiro da família Rocha da Cidade Verde, e eu uma órfã sem pai nem mãe.

Apenas uma brincadeira de infância nos prendeu juntos por mais de vinte anos.

Todos sentiam pena de Wagner.

Ele também.

Por isso, colocou aquela placa na porta, barrando a minha entrada, mesmo eu estando toda arrumada para a festa.

— Juliana, não é que a gente não queira te deixar entrar, essa é uma decisão do Wagner.

— Seja compreensiva, não nos coloque em uma situação difícil, senão ninguém vai ficar feliz.

Na porta estavam os melhores amigos de Wagner, passando o recado com o rosto frio.

Ao redor, seguranças armados com cassetetes elétricos.

Um aparato tão rigoroso, tudo apenas para lidar comigo.

Todos sabiam o quanto Wagner me detestava.

Na vida passada, também não entrei na festa.

Fiquei, como um cachorro, esperando na porta desde o dia até a noite.

Acabei pegando uma febre alta de tanto frio e desmaiei.

Os pais de Wagner souberam do ocorrido, deram uma bronca nele e aceleraram o processo do noivado.

No dia do casamento, a primeira namorada de Wagner, Clarinda Prado, tirou a própria vida se jogando de um penhasco.

Aos olhos de Wagner e do grupo dele, eu era a assassina.

Wagner, para vingar Clarinda, casou-se comigo.

Ele me tratou com frieza por anos, me maltratou, me desprezou e me torturou!

Pedi o divórcio inúmeras vezes, todas negadas.

Wagner dizia com ódio:

— Quero que você viva pior do que a morte.

Aquela sensação de ser ignorada, invisível, tratada como um objeto inexistente.

Eu vivi isso por vinte anos!

No fim, em meio à loucura, me joguei no mar e morri afogada.

O mais irônico é que, nos meus últimos instantes de apego à vida,

Vi Clarinda voltando ao país, em grande estilo, e se reconciliando com Wagner.

Ela não tinha morrido, estava viva e muito bem, havia se tornado uma designer internacionalmente aclamada.

O romance conturbado e tardio entre ela e Wagner foi abençoado por todos.

Do começo ao fim, só eu fui a grande tola.

Desta vez, só quero viver bem, bem longe de Wagner.