Capítulo 2

Eu me virei e fui embora, sem o menor apego, sob inúmeros olhares surpresos.

Ao retornar para a família Rocha, tirei o vestido de festa pesado que me incomodava.

Era de conhecimento geral que eu amava profundamente Wagner.

Tudo que dizia respeito a Wagner, eu sempre pensava com muito cuidado.

Depois, providenciava tudo perfeitamente para ele.

Wagner dissera mais de uma vez que o trabalho era cansativo demais, que queria relaxar.

Por isso, organizei uma viagem para São Cristóvão, ajustando-me à agenda dele.

Porque ele dissera que sentia saudades das praias e do mar de lá.

No entanto, na vida passada, Wagner também não aceitou viajar comigo para São Cristóvão.

Preferiu ir acampar nas montanhas com Clarinda.

Recebi ordens para acompanhá-los.

Sob uma chuva torrencial, Wagner mandou que eu fosse buscar a pulseira de Clarinda.

Acabei despencando de um penhasco e quebrei a perna.

Fiquei dois meses no hospital, imóvel.

Aquela sensação de cair num abismo na vida, eu nunca mais quis experimentar.

Afastar-me de Wagner era o primeiro passo.

Arrumei minhas malas rapidamente e desci as escadas com meus documentos em mãos.

Por coincidência, Wagner entrou correndo, de terno e gravata.

Ao me ver, ele soltou um sorriso frio, arrancou minha mala das minhas mãos e a jogou longe.

Franzi a testa e perguntei:

— O que você está fazendo!

— Juliana, eu é que quero saber o que você está fazendo!

— Vai fingir que vai fugir de casa de novo?

— Vai deixar uma carta de despedida e se matar?

Wagner, ofegante, me acusava com desdém estampado no rosto.

— Juliana, você não acha que está sendo infantil? Vai me chantagear com suicídio de novo?

Bati de leve na mala suja e respondi, palavra por palavra:

— Quem te disse que eu vou me matar?

Pessoas como ele e Clarinda, gente sem consciência, conseguem viver muito bem.

Depois de tanto esforço para ter outra chance de vida, por que eu me mataria?

Wagner apenas riu com desprezo, sem dizer nada, o olhar carregado de escárnio.

Clarinda, que vinha logo atrás dele, falou pausadamente:

— Juliana, se você queria participar da festa de aniversário, era só falar com o Wagner. Vocês cresceram juntos como irmãos, ele jamais te impediria de entrar.

— Esse tipo de ameaça de suicídio, funciona uma vez, mas na segunda já não serve mais.

Clarinda deixou claro o que insinuava.

O olhar de Wagner para mim era cada vez mais cheio de aversão.

Minhas lembranças começaram a se embaralhar.

De repente, me veio algo à mente.

No ensino médio, depois que Wagner e Clarinda começaram a namorar, ele mudou completamente comigo.

Em um acesso de raiva, deixei uma mensagem dizendo que iria me jogar no rio.

Isso deixou os pais de Wagner, Guilherme Rocha e Lídia, apavorados.

Eles obrigaram Wagner e Clarinda a terminarem o relacionamento.

Depois disso, Wagner passou a me desprezar, ignorar e se recusava a conversar comigo.

O grupinho de Clarinda me isolou, me intimidou, e ele fingia não ver.

Olhei diretamente para Wagner e expliquei:

— Você está pensando demais. Nunca pensei em suicídio. Estou arrumando minhas coisas porque preciso pegar um voo para São Cristóvão.

Wagner soltou um riso debochado, achando que eu estava inventando uma desculpa ridícula para me justificar.

Clarinda puxou a manga do casaco dele.

— Wagner, por que não deixamos a Juliana participar com a gente? Ela parece estar tão triste...

Wagner franziu o rosto, prestes a ceder.

Eu recusei novamente:

— Não precisa. Eu vou para São Cristóvão.

O rosto bonito de Wagner mudou ligeiramente, e ele zombou:

— Ouviu? Ela vai para São Cristóvão!

— Juliana, não seja irracional nesse momento.

Clarinda suspirou e se aproximou, segurando meu braço.

Com as unhas afiadas, ela fincou fundo na minha pele, onde ninguém podia ver.

A dor me fez empurrá-la com força.

Clarinda caiu no chão, aparentando fragilidade, segurou a mão e me olhou incrédula, os lábios tremendo.

— Juliana, você...