Capítulo 2

Eu olhei para a mensagem repetidas vezes, pelo menos três vezes.

Por mais lenta que eu fosse, sabia que ela estava me provocando de novo.

Embora eu já suspeitasse do motivo pelo qual Breno havia desmarcado, ainda assim senti uma angústia indescritível ao receber a mensagem de Alice.

Breno e eu éramos praticamente amigos de infância.

Desde pequena, eu tinha o objetivo de crescer e me casar com ele, ser sua esposa.

Lembro que, quando falei isso pela primeira vez, eu mal tinha começado o ensino fundamental, e meus pais, assim como os dele, ficaram radiantes de felicidade.

Breno também sempre me tratou como alguém muito próximo.

Foi só quando entramos na universidade que ele trouxe, pela primeira vez, uma colega para casa.

Essa pessoa era a Alice.

O jeito como eles interagiam me fez perceber que talvez a proximidade de Breno comigo não fosse o chamado amor.

Então, entrei em pânico.

Depois de nos formarmos, sugeri meio que em tom de brincadeira que deveríamos ir ao cartório nos casar.

Apesar de ambas as famílias concordarem, Breno recusou, e foi uma recusa definitiva.

Nos sete ou oito anos seguintes, pedi a ele várias vezes para irmos ao cartório — talvez dezenas de vezes — mas ele só aceitou sete vezes.

Só que, nessas sete vezes, ele acabou dando o bolo em todas.

E, em cada uma dessas vezes, Alice sempre me mandava uma mensagem provocativa, pontualmente.

O celular vibrou novamente.

Achei que fosse a Alice de novo, e minha reação instintiva foi recusar, mas, ao ver o nome salvo, percebi que era uma ligação de uma amiga.

Ela disse que haveria uma confraternização hoje à noite e me convidou para ir.

Sem perceber, a primeira coisa que falei foi:

— Breno vai estar nessa confraternização?

— Lívia, pode ficar tranquila, eu sei da relação entre você e o Breno. Desta vez, já avisei a ele com antecedência, ele vai, sim!

— Então deixa pra lá. Se ele for, eu não vou. Fica pra próxima.

A voz da minha amiga, que antes falava sem parar, de repente ficou em silêncio, como se minha resposta tivesse a assustado.

Todo mundo sabia que, durante todos esses anos, sempre corri atrás do Breno.

No dia da formatura, fui cara de pau entregar flores para ele, me esforcei para encontrar o emprego ideal para ele, e fui totalmente dedicada, limpando, lavando roupa e cozinhando para ele.

Certa vez, numa festa de aniversário de uma amiga, disseram que o Breno devia ter salvo o mundo na vida passada para, nesta, ter me encontrado.

Mas Breno apenas resmungou, sem se importar:

— Igual a um cachorro sarnento, que coisa irritante, eu não ligo.

Antigamente, eu também não me importava, sempre achava que ele mudaria por mim.

Mas agora, isso passou a me importar.

Depois de desligar o telefone, enviei uma mensagem para o grupo de amigos:

[Da próxima vez que houver encontro e o Breno estiver presente, não precisa me chamar.]

Só depois de fazer tudo isso, peguei um táxi de volta para meu apartamento alugado.

Depois de tomar banho, comecei a organizar todas as coisas do Breno que havia em casa. Coloquei tudo em uma mala e liguei para o Rappi para mandar entregá-la para ele.

Quando o entregador do Rappi chegou, minha melhor amiga, Isadora, também apareceu.

Ao me ver arrumando tantas coisas, ela soltou sem pensar:

— Lívia, você não vai embora, vai?

Dei uma risada e abri a mala para ela dar uma olhada.

— Eu não vou, não. Essas coisas são do Breno. Só estou devolvendo tudo pra ele.

Isadora ficou alguns segundos parada, e só depois que viu o entregador do Rappi levar a mala embora, perguntou, incrédula:

— Lívia, hoje mesmo você estava dizendo que ia ao cartório com o Breno, como assim, de repente...

No meio da frase, Isadora parou.

Ela também sabia das várias vezes que Breno me deu o bolo; logo entendeu o que tinha acontecido e seus olhos quase saltaram de raiva.

— Breno te deu o bolo de novo, não foi? Eu sabia! Por isso você mandou aquela mensagem. Só pode ser a Alice aprontando alguma coisa de novo. Vamos, eu vou com você tirar satisfação com ela!