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CAPÍTULO 2

Author: Ribeiro Peixoto
Henrique pediu o divórcio. Pelo costume, Luana sairia de casa por um tempo, mas logo voltaria, se esforçando ainda mais para agradar ele.

Nunca tinha sido diferente.

Dessa vez, seria igual.

Hoje ela saiu mais rápido, provavelmente porque perdeu o bebê.

Quanto ao filho...

O olhar de Henrique ficou carregado de desprezo. Luana nunca mereceu dar um filho a ele. Ter engravidado foi pura sorte.

Agora que perdeu, melhor ainda.

...

O divórcio vinha com uma indenização de cinquenta milhões.

O cartão bancário e o acordo de divórcio ficaram juntos, lado a lado.

Se Luana tivesse assinado três anos atrás, teria levado tudo sem esforço, sem perder nada.

Mas nesses três anos, além de perder todo o amor próprio, ela saiu prejudicada até na saúde.

Deixa pra lá.

Ficar pensando se se arrepende ou não só gera desgaste inútil, e de desgaste ela já está cheia. Vida é pra frente, não pra trás.

E, convenhamos, dinheiro é melhor do que nada.

Luana pegou o cartão, saiu de táxi no meio da madrugada e só parou na porta do Residencial Floris, zona 1.

Ali, o metro quadrado não saía por menos de trinta mil.

Apartamento amplo, andar alto, só dois por andar.

Uma das unidades estava no nome de Luana.

O imóvel era do seu tio. Desde que a mãe dela morreu, o tio foi morar fora do país e deixou o apartamento pra ela.

Luana achava que nunca ia usar. Mas a vida muda rápido. Agora, divorciada, pelo menos tinha pra onde ir. Não podia reclamar.

Bloco 7, cobertura, apê 1.

Luana entrou arrastando a mala.

De tarde, já tinha combinado com a faxineira pra limpar tudo. O lugar estava impecável, mas quase trezentos metros quadrados davam um vazio absurdo.

Antigamente, morar sozinha num espaço desses seria frio demais pra ela.

Mas depois de aguentar três anos da frieza de Henrique, qualquer coisa era melhor. No fundo, sentiu uma paz que nunca tinha sentido antes.

Luana se permitiu relaxar. O cansaço era tanto que mal terminou de se lavar e já caiu na cama.

“Trim—”

Seis da manhã, foi acordada pelo toque do alarme.

O nome do alarme: Preparar café da manhã pro marido.

Na hora, Luana despertou.

Henrique costumava tomar café às oito, mas era exigente, não aceitava nada simples. O café da manhã levava uma ou duas horas pra ser feito.

Se na noite anterior ele tivesse saído para algum compromisso, Luana ainda esperava ele dormir e só conseguia deitar por volta das duas ou três da manhã. Mesmo assim, no dia seguinte, ela acordava cedo para preparar o café.

Muitas vezes, ele nem tocava na comida. Tudo que ela preparava ia direto pro lixo.

Mas agora, não precisava mais levantar cedo.

Nem se preocupar se todo o esforço seria jogado fora.

Luana apagou o alarme, colocou a máscara de dormir e voltou pra cama.

Achava que o sono não viria.

Mas dormiu rapidinho, sem esforço nenhum.

……

Oito da manhã, Henrique acordou com uma dor de cabeça insuportável.

Ele sempre ficava assim quando bebia e não tomava remédio pra ressaca. Ontem, de tão cansado, esqueceu até da sopa que Luana tinha preparado.

Que droga.

Mesmo assim, encontrou um copo de água quente no criado-mudo.

Henrique riu, de canto de boca.

Saiu com toda aquela pressa, mas não voltou do mesmo jeito?

Bebeu a água, a dor de cabeça passou um pouco. Pegou o celular e mandou uma mensagem para Lucas:

“Ganhei a aposta.”

Lucas respondeu, meio puto e meio rendido:

“Luana nunca consegue ser dura com você, né? Quanto mais você pisa, mais ela abaixa a cabeça!”

Logo depois, ele soltou:

“Porra, perdi feio dessa vez! Au au au!”

“Caralho, fico mais irritado quanto mais penso! Henrique, me apresenta uma mulher que me ame do jeito que Luana te ama! Só um pouquinho da sua sorte já tava bom demais!”

Henrique retrucou:

“Para de drama.”

Jogou o celular de lado e foi se arrumar.

Desceu, mas não viu a silhueta familiar e atarefada de sempre.

— Cadê ela? — Chamou, frio.

Rosa saiu da cozinha com o café:

— O senhor acordou? O café da manhã já está pronto!

Henrique franziu a testa:

— Por que é você?

— Ué, claro que sou eu.

— E aquela água no quarto, foi você também?

Rosa assentiu:

— Ontem à noite, a senhora avisou que hoje não estaria em casa, pediu pra eu vir mais cedo.

Henrique ficou em silêncio.

Vendo o clima pesado, Rosa tentou aliviar:

— Quer tomar café antes?

Henrique ficou parado um tempo antes de, de cara fechada, ir comer.

Na mesa, só tinha um copo de leite, dois pedaços de torrada, um ovo frito e uma caixinha de queijo.

Nada a ver com o que estava acostumado.

Normalmente, Luana fazia café da manhã caprichado, cheio de quitutes, tudo diferente todo dia.

A diferença era gritante.

O fogo que tinha baixado voltou com tudo.

Henrique encarou Rosa, gelado:

— É só isso que você sabe fazer?

Ela ficou nervosa:

— Desculpa, senhor! Sempre foi a senhora quem preparou o café, não conheço seu gosto.

— Se não sabe, então liga pra ela e pergunta.

— Liguei, mas não atende...

Henrique fechou a cara.

Muito bom, Luana!

Mesmo assim, nem se preocupou. Logo ela ia voltar.

Talvez aparecesse na empresa na hora do almoço pra armar alguma cena.

Esse joguinho era típico dela.

Mas dessa vez, Henrique perdeu o apetite, levantou e saiu batendo a porta.

Rosa ficou perdida.

O que aconteceu agora?

Tentou ligar pra Luana, chamou várias vezes, ninguém atendeu.

Achou estranho, mas logo pensou, deve ser mais uma briga, igual sempre.

Normalmente, Luana perguntava pra ela como estava o "senhor", esperava a hora certa e voltava rapidinho.

Agora, nem atender, era novidade.

Rosa até achou bom, deve ter aprendido a fazer charme, ficar fora um tempo, pra ver se o senhor sente falta.

Tomara que funcione.

Todo mundo sabia que o coração de Henrique nunca foi dela.

E com tanto mulher em volta, se Luana não correr atrás, como vai segurar esse homem?

...

Sábado, Luana não precisava trabalhar. Dormiu até tarde.

Não tinha nada em casa, pediu um baita delivery.

Depois, ficou navegando num fórum de tecnologia. Muitos rostos conhecidos já eram grandes nomes do mercado.

Mas não achou nada sobre a sua professora.

A lembrança mais forte de Luana era o olhar da professora sobre ela, tão caloroso quanto o da mãe em suas memórias.

Ela sentia que tinha decepcionado aquela mulher…

Os olhos arderam. Depois de hesitar, pegou o celular e ligou:

— Lorena, vamos nos encontrar?

Lorena Valença tinha sido sua colega de faculdade. Antes, cada ligação era uma festa.

Agora, a voz dela estava fria:

— Dez vezes você marcou, nove furou. Eu sou sua amiga, mas também canso, sabia?

Lorena falou direto:

— Tem certeza que quer me ver?

Depois do casamento, Luana se jogou na vida doméstica.

Nunca fez de propósito, mas acabou se afastando das amigas.

Lorena, por outro lado, estava de vento em popa. A empresa dela de tecnologia já era referência no mercado.

A distância só aumentava, Luana se sentia cada vez mais insegura e evitava puxar papo.

Respirou fundo e falou:

— Eu me divorciei.

Lorena ficou em silêncio, depois só respondeu:

— Quando e onde.

...

Luana levou o acordo de divórcio ao cartório, entrou com o pedido. Se tudo corresse bem, estaria oficialmente livre.

Acabou tudo antes das três. Chegou mais cedo no café marcado com Lorena.

Pediu um café, bebeu metade.

De repente, a mão apertou a xícara, o corpo ficou tenso.

Não ela esperava que, em menos de um dia, fosse dar de cara com Henrique de novo.
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