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Capítulo 2

Author: Beleza
O jovem casal ficou assustado ao ver Otávio entrando de repente. O homem se aproximou com cuidado e limpou a poeira das roupas do Otávio, falando com uma voz gentil:

— Pequeno, está tudo bem? Onde está a sua mãe?

Otávio, nervoso, começou a mexer nas mãos, claramente hesitante. Mas ele respirou fundo e, com coragem, perguntou:

— Tio, minha mamãe está doente. Ela está com muito frio. Será que você pode me emprestar um cobertor? Eu posso te dar meu escapulário em troca. Por favor, ajude a minha mamãe.

O homem, ao ouvir as palavras de Otávio, imediatamente foi até o armário e pegou um cobertor ainda lacrado. Ele entregou o cobertor ao menino com um sorriso:

— Pode levar. Espero que sua mãe melhore logo.

Talvez por tudo o que Otávio tinha passado naquela noite, ao receber a gentileza de um estranho, Otávio ficou sem palavras. Ele apertou o cobertor contra o peito e começou a se curvar repetidamente:

— Obrigado, tio. Obrigado, tia. Muito obrigado.

O homem balançou a mão, pedindo para que ele parasse:

— Não precisa me agradecer. Esse cobertor nem foi comprado por nós.

Ele apontou para o pacote do cobertor enquanto continuava:

— Foi o criador deste hospital, Sr. Flávio, quem mandou distribuir esses cobertores para comemorar o sucesso da cirurgia da amada dele. Ele quis que todas as famílias dos pacientes tivessem um. Veja, aqui no pacote tem até a foto dele com a esposa.

O homem acrescentou:

— Se você quiser agradecer de verdade, peça que o Sr. Flávio e a esposa dele tenham uma vida longa e feliz juntos.

Otávio ficou paralisado por um momento. Em sua mente, flashes das memórias com Flávio surgiram. Ele lembrou-se de quando Flávio o expulsou violentamente do quarto naquela mesma noite. Mas também se lembrou de um tempo distante, quando Flávio o colocava nos ombros e corria rindo pelo gramado. Sem conseguir se segurar, as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Otávio.

— Eu... eu vou agradecer ao Sr. Flávio, sim...

Meu coração pareceu doer mais do que quando estava na mesa de cirurgia. Ver o olhar apagado de Otávio trouxe de volta lembranças que eu preferia esquecer.

Flávio já havia nos amado muito, a mim e a Otávio. Ele ficava acordado noites inteiras para cuidar do nosso filho recém-nascido. Ele havia comprado todas as lojas de brinquedos da cidade para dar a Otávio no aniversário. Quando eu ficava doente, ele lia histórias infantis enquanto segurava o bebê.

Mas tudo isso terminou no dia em que Bianca voltou ao país.

Bianca usou sua doença no coração para nos prejudicar. Ela se fazia de vítima, frágil e indefesa, para ganhar a compaixão de Flávio.

Bianca até induziu Otávio a colocar um lagarto na cama dela e, em seguida, fingiu ter um ataque cardíaco, garantindo que Flávio flagrasse a cena.

Desde aquele dia, tudo mudou.

No quarto, o homem sorriu, satisfeito, e fez mais uma pergunta:

— E o seu pai? Por que ele não está com você?

Otávio abaixou a cabeça. Uma lágrima caiu sobre o plástico do cobertor, diretamente na foto de Flávio e Bianca sorrindo juntos. Sua voz saiu tão baixa que mal podia ser ouvida:

— Meu pai... Ele morreu.

Depois de se despedir do casal gentil, Otávio correu de volta para o hospital, segurando com força o cobertor que havia conseguido com tanto esforço.

Assim que chegou ao saguão, Otávio esbarrou em Bianca, que segurava o pequeno cachorro no colo.

Bianca franziu o cenho. Uma expressão de nojo passou rapidamente por seu rosto perfeitamente maquiado:

— Sai da minha frente, seu pirralho imundo. Você tem ideia de quanto custa essa roupa? Se você sujá-la, nem te vendendo vai pagar. Igualzinha à sua mãe, uma vagabunda. Filhos de prostitutas são assim mesmo.

Bianca, com o rosto carregado de desprezo, nem olhou para o hematoma que começava a surgir na testa de Otávio. Em vez disso, levantou o pé e deu um chute forte nele.

Otávio foi pego de surpresa. O chute o jogou no chão com força, e o cobertor que ele segurava saiu voando.

Ignorando a dor, Otávio estendeu a mão para tentar pegar o cobertor de volta. Mas Bianca pisou em sua pequena mão, imobilizando-a.

Ela pressionou o pé contra a mão machucada de Otávio, torcendo o calcanhar para aumentar a dor. Com um olhar cruel, encarou o menino do alto:

— Escuta aqui, seu pirralho. Se você ousar aparecer de novo diante do Flávio com essa cara de coitadinho, eu juro que vou mandar jogar você e sua mãe barata pra fora deste hospital. Entendeu?

O olhar de Bianca era tão feroz que parecia que ela desejava que Otávio desaparecesse para sempre.

Eu, como uma alma sem corpo, podia apenas observar. Minha angústia e fúria eram como uma onda que me afogava.

"Solta o meu filho!" Eu gritei, tentando afastar o pé de Bianca. "Se tem algo contra mim, venha até mim! Não machuque meu filho!"

Eu gritei repetidamente, mas Bianca não podia me ouvir.

Ela continuava a olhar para o rosto vermelho de Otávio, que chorava de dor, como se estivesse se divertindo com o sofrimento dele. E, cruelmente, aumentou ainda mais a força que fazia com o pé.
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