Capítulo 5

Renato ficou em silêncio e lançou um olhar frio para ele.

Nuno deu um sorriso sem graça, percebendo que a suposição dele não fazia o menor sentido. Afinal, Renato tinha tudo a seu favor. Se não pilotasse aviões, voltaria para casa e herdaria os negócios da família, era absurdamente bonito de um jeito que chamava atenção e ficava gravado na memória de qualquer um, e ainda por cima mantinha uma distância respeitosa de qualquer mulher. Com um homem desses em casa, como é que ia ter história de traição?

Isso só deixou Nuno ainda mais curioso sobre o motivo da separação. Mas como Renato não queria falar, não dava para insistir muito. Então resolveu dar um toque sutil:

— Renato, como homem, vou te avisar uma coisa. Fica esperto, porque aquele irmão da Dra. Clarissa pode acabar conquistando ela de vez.

Os dedos de Renato se curvaram de leve, e algo se moveu no fundo dos olhos dele.

Naquele mesmo momento, no Hospital de Rio do Norte, Clarissa estava parada no fundo do grupo, sem querer participar da conversa sobre a alta de Bianca. Nanda estava na frente, falando sobre teorias médicas com propriedade, e depois olhou de propósito para Clarissa antes de dizer com um sorriso:

— A gente recomenda que a senhora fique internada mais um tempo.

A médica responsável que estava atrás dela concordou:

— É verdade, Sra. Esteves, não é uma boa ideia receber alta tão cedo.

Bianca parecia em dúvida e olhou na direção de Clarissa antes de responder:

— Mas minha netinha é muito pequena ainda, e fica o tempo todo com a babá. Fico preocupada demais.

Clarissa sentiu o olhar dela e ergueu os olhos para encará-la, sem demonstrar nenhuma emoção no rosto.

— E o pai e a mãe da sua neta, onde estão? — Nanda perguntou sem entender direito.

— O pai dela trabalha demais o dia inteiro, e a mãe... já foi embora. — Explicou Bianca com um sorriso constrangido, como se estivesse falando aquilo de propósito para Clarissa ouvir. — A menina só tem cinco anos, ainda é muito pequena. Ela sente falta da mãe todo dia.

Nanda franziu as sobrancelhas e disse sem pensar:

— A criança só tem cinco anos e a mãe já foi embora? Que mãe irresponsável.

— Não é bem assim. — Respondeu Bianca com pressa. — Teve motivos especiais.

— Não existe motivo que justifique uma mãe abandonar o próprio filho. — Retrucou Nanda.

Nanda sabia que Bianca era uma paciente VIP importante do hospital. Havia ouvido do diretor que a família Esteves fazia investimentos consideráveis no hospital todos os anos. Então sugeriu com um sorriso:

— Sra. Esteves, se a senhora está tão preocupada com a criança, pode pedir para a babá trazer ela aqui todo dia para ficar um pouco com a senhora.

— A menina nasceu prematura e tem a saúde frágil, vive pegando alguma coisa. Por isso que fico tão preocupada. — Disse Bianca com um sorriso sem graça. Ao ver Clarissa ali parada como uma estranha, fria e distante do começo ao fim, Bianca suspirou baixinho por dentro.

Lembrando do que Renato havia pedido na noite anterior, Bianca acabou concordando em ficar internada mais um tempo. Quando o grupo estava saindo, ela hesitou e chamou:

— Dra. Clarissa, você pode ficar um pouco?

Nanda olhou para Clarissa com desconfiança na mesma hora. Clarissa encontrou o olhar de Bianca com indiferença e respondeu:

— Desculpa, mas tenho outros compromissos.

Recusou sem hesitar, ignorando o olhar da orientadora, e saiu do quarto na frente de todo mundo. Quando voltou para o escritório, acabou levando uma bronca.

Teresa a encarou com desaprovação e repreendeu:

— A Sra. Esteves é uma paciente prioritária do hospital. Qualquer pedido que ela fizer, a gente tem que atender da melhor forma possível.

Vendo que Clarissa ficou calada o tempo todo, de cabeça baixa, Teresa deu um aviso:

— Se a Sra. Esteves fizer qualquer reclamação sobre você, vai ter que arrumar as coisas e sair na hora. Não diga que eu não avisei.

— Tudo bem. — Respondeu Clarissa com um aceno leve de cabeça. Mal ela saiu do escritório, Nanda já veio atrás dela e disse com ar de superioridade perto do ouvido:

— Eu já tinha te falado que você não ia ganhar de mim!

Clarissa parou e olhou para ela, questionando:

— Você sabe a verdade sobre o que aconteceu antes de sair julgando os outros?

Nanda ficou confusa e perguntou:

— Do que você está falando?

Clarissa manteve a expressão neutra e disse palavra por palavra:

— Estou falando que você é burra.

Disse isso e foi embora com tranquilidade, sem se importar com a cara horrível que Nanda fez. Clarissa foi até um canto mais silencioso, e só ali os nervos tensos dela começaram a relaxar aos poucos. Se pudesse escolher, nenhuma mãe queria abandonar o próprio filho.

Ela tinha carregado aquela criança na barriga por dez meses, sentindo aquela vidinha crescer um pouco a cada dia. Ela esperou pelo nascimento mais do que qualquer um. Mas o resultado foi completamente diferente do que ela imaginou...

O medo daquela noite voltou a aparecer na frente dos olhos dela, e o corpo dela começou a tremer de frio sem controle. Ficou ali sozinha por um bom tempo até que a sensação de tremor finalmente passou.

No fim do expediente, Rodrigo foi buscá-la. Ao ver que ela estava distraída, perguntou com preocupação:

— Não está se sentindo bem?

— Não... — Clarissa balançou a cabeça de leve.

A cabeça dela estava cheia daquela frase que Bianca havia dito, sobre a criança ter nascido prematura e ter uma saúde frágil. Após pensar um pouco, perguntou com cautela:

— Rodrigo, você já viu aquela criança?

— Você está com saudade? — Rodrigo perguntou, olhando para ela de lado.

— Não é isso. — Respondeu Clarissa. Pensou mais um pouco e desistiu de perguntar qualquer coisa. — Esquece, finge que eu não perguntei nada.

Rodrigo entendeu a preocupação dela, segurou a mão fria dela e disse com a voz suave para confortá-la:

— Clarissa, é normal você querer ver a criança. Não coloca tanta pressão em você mesma. Quando quiser ver, me avisa.

Clarissa realmente não conseguia superar aquele bloqueio emocional que tinha dentro dela. Ficou olhando para as mãos dos dois entrelaçadas, pensou por um momento e decidiu não puxar a mão de volta. Ela também queria se dar uma chance de recomeçar...

Rodrigo percebeu o que ela estava pensando, deixou um sorriso aparecer no canto dos lábios e apertou a mão dela com mais força, em silêncio. A palma da mão dele era quente e foi aquecendo aos poucos o coração gelado de Clarissa.

À noite, deitada na cama, Clarissa ficou pensando e decidiu que no dia seguinte ia deixar claro para Teresa que não queria mais ter contato com Bianca. Na manhã seguinte, assim que chegou ao hospital, foi procurar Teresa e falou que não queria mais atender Bianca.

Teresa olhou para ela sem entender e disse:

— Se você conseguir a confiança da Sra. Esteves, vai ser muito mais fácil garantir a vaga aqui.

Enquanto Clarissa mantinha distância, Nanda estava indo ao quarto de Bianca com frequência. Clarissa manteve a postura calma e declarou:

— Dra. Teresa, eu vim para cá para trabalhar como médica. Quero ficar aqui por causa da minha competência, não por qualquer tipo de influência.

Ao ouvir aquilo, Teresa olhou para ela com mais admiração e deu um aceno de aprovação, sem insistir mais. Quando Teresa foi fazer a visita nos quartos VIP, não levou Clarissa junto.

Dessa vez, havia um homem de expressão fria no quarto.

Teresa sabia quem era Renato, cumprimentou ele com um aceno de cabeça e passou as instruções de sempre para Bianca. Quando estava saindo, ouviu Renato perguntar de repente:

— Cadê a Dra. Clarissa?

Teresa ficou surpresa e perguntou sem entender:

— Sr. Renato, o senhor precisa falar com ela?

Renato não respondeu a pergunta dela e insistiu:

— Ela está ocupada ou não quis vir?

Teresa não esperava que ele fosse insistir no assunto de Clarissa e respondeu após pensar um pouco:

— Ela ainda está em período de experiência, então pelas regras do hospital, na verdade não tem autorização para atender pacientes VIP.

Renato baixou os olhos e não perguntou mais nada. Teresa saiu do quarto confusa, mas antes que pudesse pensar em qualquer coisa, foi chamada no escritório do diretor. Quando saiu de lá, foi procurar Clarissa.

Clarissa viu a expressão séria dela e perguntou sem entender:

— Dra. Teresa, aconteceu alguma coisa?