Share

Capítulo 6

Author: Stella Pomelo
Carolina virou o rosto para encará-lo.

Nos olhos de Leonardo transparecia uma insatisfação evidente. Ele a culpava por não demonstrar consideração a Larissa.

E não era como se não soubesse da sua condição.

Nas últimas crises de estômago, fora ele mesmo quem mandara entregar-lhe remédios.

Mas agora, diante de todos, ainda exigia que ela aceitasse a taça oferecida por Larissa.

A saúde dela pouco importava.

O que valia era a imagem de Larissa.

Diante da pressão evidente de Leonardo, como se não a deixaria em paz até que aceitasse, Carolina soltou um riso de escárnio. Pegou o copo das mãos de Larissa e virou de uma vez só.

— Assim está bom para você, Sr. Leonardo?

Ergueu o copo vazio diante dele, para que não restasse dúvida.

Por um instante, Leonardo abriu a boca, mas não encontrou palavras.

Quem sorriu foi Larissa. O canto dos lábios se ergueu em triunfo e provocação.

— Obrigada, secretária Carolina, por me dar essa honra. Espero poder contar com a sua ajuda daqui em diante.

Carolina não respondeu. Larissa também não se incomodou, voltando para o lugar ao lado de Leonardo como se tivesse conquistado uma vitória.

"Viu, Carolina? O que importa para ele… Sou eu."

Larissa ainda se vangloriava em silêncio, sem imaginar que Carolina, naquele instante, não tinha sequer disposição para pensar em tais coisas.

Depois de beber a taça, o estômago dela começou a doer pouco a pouco.

Carolina sabia da própria fragilidade. Nunca pretendia beber naquela noite. A taça servida pelos colegas permanecera intocada à sua frente, até que Larissa se aproximou para lhe oferecer o brinde.

O teor alcoólico não era tão alto, mas para o estômago debilitado de Carolina era como veneno.

Tentou disfarçar a dor e buscou o remédio dentro da bolsa. Mas lembrou, de repente, que o havia esquecido no escritório.

A dor aumentava.

Aproveitando-se de que todos os olhares estavam voltados para Leonardo e Larissa, Carolina apertou os lábios e levantou-se, deixando o salão discretamente. Planejava comprar algo na farmácia mais próxima.

Leonardo percebeu a saída dela e, instintivamente, fez menção de segui-la.

Mas Larissa segurou-lhe o braço.

— Irmão, para onde vai? — Sussurrou, num tom doce que só ele podia ouvir. — Você é a única pessoa que conheço bem aqui. Preciso que fique comigo.

A voz melosa amoleceu o coração de Leonardo.

E ele acabou voltando a se sentar.

"Carolina deve estar chateada com o que aconteceu agora há pouco… Mas não tem problema. Quando voltarmos para casa, eu a consolo."

Cambaleando pelo corredor, Carolina sentia o estômago se revolver como se houvesse uma tempestade dentro dela, a dor tão intensa que por um instante acreditou que fosse morrer ali mesmo.

A visão começava a escurecer quando, ao dobrar uma esquina, esbarrou de repente em alguém.

— Me desculpe, eu…

Antes que pudesse terminar a frase, outra pontada cortante a fez curvar-se, as mãos apertando o abdômen, incapaz de ficar ereta.

— Você está bem?

A voz era fria, grave e magnética. Muito agradável de ouvir, mas Carolina não tinha ânimo para reparar nisso.

Forçando-se a levantar a cabeça, ainda conseguiu sussurrar:

— Perdão…

De tão debilitada, não percebeu o olhar de surpresa que surgiu nos olhos do homem ao reconhecer seu rosto.

— Ainda bem?

O homem percebeu que ela mal conseguia se manter de pé, tomada pelo mal-estar, e, com elegância cortês, segurou-lhe o braço para ampará-la.

— Eu…

Vendo a maneira como ela pressionava o estômago, ele perguntou diretamente:

— Dor de estômago?

Carolina assentiu, o suor frio escorrendo pela testa.

— Costuma tomar algum remédio específico?

Instintivamente, ela mencionou o nome da medicação que usava. O homem não disse mais nada, apenas a ajudou a se sentar em uma sala vazia ao lado.

— Espere aqui.

Os passos dele ecoaram, afastando-se pelo corredor.

A mente de Carolina permanecia turva.

"Quem era aquele homem? Para onde ele estava indo?"

Mas, no fundo, tinha a intuição de que ele não lhe faria mal.

Além disso… Havia algo de familiar em sua figura.

Pouco tempo depois, ele voltou, trazendo um copo d’água morna e duas pílulas.

— Tome, vai se sentir bem melhor.

A voz dele permanecia fria, mas carregava um traço discreto de cuidado.

Carolina olhou para o comprimido. Reconheceu de imediato: era exatamente o mesmo que costumava tomar. Engoliu-o às pressas com a água que ele lhe oferecia.

A bebida estava morna. Ao deslizar pela garganta, pareceu aquecer também um recanto do coração.

O efeito foi rápido. Pouco depois, a dor no estômago começou a ceder.

Carolina ergueu os olhos e agradeceu:

— Muito obrigada, de verdade. Desculpe incomodá-lo.

À sua frente estava um homem alto, de traços marcantes, irradiando uma aura de autoridade e nobreza.

— Não foi incômodo algum. — Respondeu ele, sereno. — Srta. Carolina.

— Você… Me conhece? — Ela arregalou os olhos, surpresa.

E então, como se uma lâmpada se acendesse, lembrou-se de quem era.

O segundo filho da família Macedo da Cidade A, Daniel Macedo.

Diziam que ele era um prodígio raro no mundo dos negócios: antes dos dezesseis anos já se envolvia nos assuntos da empresa, aos vinte, fora escolhido pelo patriarca como sucessor oficial.

Agora, já havia assumido de fato o Grupo Macedo, tornando-se o jovem presidente a quem todos respeitavam e temiam.

Carolina recordava-se de tê-lo visto apenas uma vez, seis anos atrás, em um baile de gala. Sempre discreta, fora a única recepção social a que comparecera.

Na ocasião, apenas o avistara de longe, por isso não o reconhecera de imediato.

E pensar que, justamente hoje, o homem que a socorrera era ele.

— Sr. Daniel. — Carolina sentiu um leve constrangimento, mas manteve a compostura e continuou com naturalidade. — O que o traz a Cidade J?

Daniel não demonstrou incômodo pelo fato de ela só então tê-lo reconhecido. Respondeu com simplicidade:

— Negócios.

Fez uma breve pausa e acrescentou:

— Você está passando mal… Por que está sozinha aqui?

Aquelas palavras, "sozinha aqui", tocaram fundo em Carolina. Sentiu os olhos arderem de repente.

No passado, mesmo diante da oposição da família Coelho, escolhera permanecer em Cidade J ao lado de Leonardo depois da formatura.

Queria provar à própria família que poderia ser feliz com ele. Mas, no fim, ali estava ela… Sozinha.

Demorou alguns instantes até recuperar o fôlego. Então disse:

— Hoje houve um jantar com os colegas. Tive uma crise de estômago e saí para comprar remédio. Acabei não aguentando. Preciso agradecer ao senhor, Sr. Daniel.

Daniel estendeu a caixa de comprimidos, a expressão impassível:

— Esse remédio alivia rápido, mas não resolve. Se o seu estômago é frágil, precisa cuidar melhor.

Por um instante, Carolina quase acreditou que ele realmente se preocupava.

Mas logo lembrou que mal se conheciam, e o modo frio com que ele falava só reforçava a ideia.

Era apenas cortesia.

— Eu sei. — Carolina pegou a caixa de remédios e tirou o celular da bolsa. — Sr. Daniel, vou transferir o valor do remédio para o senhor.

— Não é necessário.

— O senhor comprou para mim. Tenho que reembolsá-lo.

Para Daniel, aquela quantia era insignificante. Mas Carolina não suportava dever nada a ninguém: o que era dela, devia pagar.

Ele ficou em silêncio por um instante, depois também pegou o celular e tocou a tela algumas vezes.

Carolina já ia abrir o aplicativo para mostrar o código do PIX, quando notou uma notificação no WhatsApp.

De um contato com quem nunca falara antes, chegara apenas um balão vazio.

De imediato, entendeu. E, surpresa, perguntou:

— Esse é o seu número?

— Sim. — Respondeu Daniel, inexpressivo.

Carolina ficou ainda mais confusa. Não se lembrava de tê-lo adicionado em momento algum.

Mas não era hora de investigar. Apenas fez a transferência e agradeceu.

— Então… Vou voltar para os meus colegas. — Disse ela, esboçando um sorriso educado.

— Srta. Carolina. — A voz de Daniel soou mais fria, quase cortante. — Esse jantar é mais importante do que a sua saúde?
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • Você Se Casou com Sua Musa, E Eu Virei Sua Obsessão   Capítulo 100

    — É, que maravilha, Léo. — Larissa acariciou suavemente o próprio ventre. — Daqui pra frente, nós três vamos ser muito felizes juntos.— Sim, Lari. Descanse um pouco. Eu vou falar com o médico para ver se há algum cuidado especial a ser tomado. — Leonardo levantou-se e deixou o quarto.Assim que ele saiu, Larissa pegou o celular, fotografou o laudo do exame e o enviou para Carolina.Ela sabia que Carolina havia bloqueado todos os seus contatos, por isso usara outro número para mandar a mensagem:[Srta. Carolina, estou grávida. Eu precisava muito compartilhar essa notícia com você.]Carolina certamente entenderia de quem era a criança.E embora, em breve, Carolina talvez estivesse prestes a morrer, fazê-la provar a dor e o desespero antes disso… Ah, só de imaginar, Larissa já sentia um prazer cruel.Mas o que ela não sabia era que Carolina já havia trocado de número de telefone e, portanto, nunca chegou a ver aquela mensagem.Ao entrar no Grupo Queiroz, Carolina decidiu mergulhar de cor

  • Você Se Casou com Sua Musa, E Eu Virei Sua Obsessão   Capítulo 99

    — Pergunte, minha filha. = Rodrigo voltou a si e abriu um sorriso carinhoso.— O Daniel… Essa viagem dele ao exterior… Você sabe o verdadeiro motivo? Ele não corre perigo, não é?Embora Daniel tivesse garantido que voltaria em segurança, uma inquietação insistia em corroer o coração de Carolina. Desde aquela última ligação, ele não dera mais notícias.— Não sei os detalhes. = Rodrigo balançou a cabeça. Ao ver a expressão preocupada da filha, ele riu de leve. — Pelo visto, Carol está mesmo interessada nesse noivo de conveniência.— Pai… Ele já me ajudou muito na Cidade J. Seja como for, eu não quero que nada aconteça com ele. = As orelhas de Carolina coraram.Tinha acabado de sair de um relacionamento desastroso e ainda não estava pronta para mergulhar em outro. Mas isso não significava que não se importava com a segurança de Daniel.— Sim, ele é um bom rapaz. Caso contrário, eu não o teria escolhido como seu parceiro nesse casamento arranjado. Fique tranquila, nada de ruim vai acontece

  • Você Se Casou com Sua Musa, E Eu Virei Sua Obsessão   Capítulo 98

    — Mas o Sr. Ricardo agora cuida apenas dos negócios da Cidade J. — Contestou Leonardo, a voz firme. — Dessa vez, quem se moveu foi o pessoal da Cidade A. Além disso, por mais alto que seja o cargo dele, no fim das contas continua sendo apenas um funcionário do presidente Rodrigo. Ele não é, de fato, da família Queiroz. Acha mesmo que a família Queiroz teria motivo para se expor desse jeito só para atacar o Grupo Coelho por causa dele?Fez uma pausa e acrescentou:— Além do mais, a Carol jamais faria algo assim contra mim.Larissa quase riu de indignação. Mas, de repente, um pensamento sombrio lhe atravessou a mente como um raio."E se Carolina fosse, na verdade, parente da família Queiroz? Não… Espere! Havia aquele rumor sobre uma filha da família, uma herdeira misteriosa que nunca aparecera em público. Seria possível que…? Impossível!"Larissa balançou a cabeça por dentro. Se Carolina fosse mesmo a filha da família Queiroz, já estaria com o nariz empinado, acima de todos. Mas ela nunc

  • Você Se Casou com Sua Musa, E Eu Virei Sua Obsessão   Capítulo 97

    "C… Não seria Carol?"— Alexandre… — Leonardo franziu o cenho, a voz cortante. — Ele é primo do Daniel?— Exatamente. E, além disso, dizem que é um gênio da pintura. — Respondeu Larissa em tom sarcástico. — Ouvi dizer que ele leva essa exposição muito a sério. O meio artístico, tanto aqui quanto lá fora, também está cheio de expectativas. Quem diria… Ele usaria justamente o perfil da Srta. Carolina como cartaz de pré-divulgação.Leonardo permaneceu em silêncio, os olhos grudados na tela do celular."Quando Carolina conheceu Alexandre? Que tipo de relação existia entre eles? Ela nunca havia mencionado nada."— Léo, será que essa viagem repentina da Srta. Carolina para Cidade A não foi, na verdade, para encontrar o Alexandre? — Larissa parecia cada vez mais animada. — Se for assim, talvez não seja o Daniel quem tem a ver com ela… Mas sim esse pintor prodígio!— Basta! — A voz de Leonardo soou gelada. — Não fale bobagens.— Bobagens? Está tudo na sua frente! Se não há nada entre eles, por

  • Você Se Casou com Sua Musa, E Eu Virei Sua Obsessão   Capítulo 96

    — Carol, olha isso! — Disse Isabela, empurrando de repente o tablet na frente dela.Na tela aparecia o cartaz de pré-divulgação da exposição de Alexandre. No centro da imagem havia um retrato inacabado: apenas o contorno do perfil de uma mulher. No canto inferior direito, em letras minúsculas, lia-se: "Para C."— Mas isso é a sua cara! — Exclamou Isabela. — E esse "C"… Carol?Carolina franziu levemente a testa.O cartaz já estava gerando uma onda de comentários na internet.[Quem será essa C?][Será que é a mulher de quem o Ale gosta?][O Ale está namorando?][Com quem será? Agora fiquei curiosa…]Apesar das especulações, Alexandre permanecia em silêncio.— Isso não pega bem, né? — Comentou Isabela, apertando os lábios, visivelmente incomodada. — Fala sério, qualquer pessoa que te conheça vai perceber que esse perfil é você.O desenho mostrava linhas suaves. A curvatura do canto dos olhos era exatamente a mesma da expressão habitual de Carolina. Até mesmo a pequena pinta no lóbulo da o

  • Você Se Casou com Sua Musa, E Eu Virei Sua Obsessão   Capítulo 95

    — Ainda quer se justificar? — Carolina lançou a ela um olhar de repreensão.— Haha, eu errei, prometo que nunca mais vou fazer isso. — Isabela respondeu com um sorriso travesso.Ela observava Carolina embalar cuidadosamente uma tela de pintura e perguntou:— Esse quadro foi presente do Alexandre?— Foi. — Carolina fechou a caixa e a colocou dentro de uma sacola de presente. — Vou devolvê-lo a ele.— Tsc, tsc... — Isabela balançou a cabeça. — Carol, você não acha que está sendo dura demais? Pelo que entendi do que o Alexandre disse... Parece que ele gosta mesmo de você. Gosta desde muitos anos atrás.— Justamente por isso eu preciso deixar as coisas bem claras. — A voz de Carolina soou firme. — Não posso dar a ele nenhuma esperança equivocada.Já era suficientemente constrangedor ter confundido o noivo arranjado.E, para piorar, Alexandre ainda nutria sentimentos por ela.Se não deixasse sua posição explícita, só aumentaria o sofrimento dele.— Você tem razão. — Isabela concordou.Pegou

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status