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Capítulo 4

Author: Cocada
Rodrigo ficou completamente perplexo. Eu nunca o tinha tratado com tanta frieza. Ele permaneceu parado na porta.

— Camila, me desculpa. Não fica brava, por favor. Eu realmente não quis te deixar triste. — Disse com a voz rouca e a testa franzida.

Eu estava prestes a responder quando uma choradeira cortou o ar de repente. Era Belinha. Bruna se agachou e passou a mão nas costas da menina, batendo de leve.

— Não chora, a mamãe está bem. A tia só ficou um pouquinho brava. — Bruna disse com a voz delicada.

A voz era gentil e suave, mas cada palavra era um lembrete sutil de que a culpa era minha.

Belinha mordeu os lábios, com lágrimas rolando por suas bochechas e seu choro aumentando. Rodrigo ergueu a mão, como se fosse abrir a porta para vir até mim, mas a abaixou ao ouvir o choro da criança.

O som de choro trouxe minha mãe para fora do quarto. Ela viu os olhos vermelhos de Bruna e da menina e imediatamente franziu a sobrancelha.

— Camila, esse é o seu problema. — O tom era suave, mas soava como sentença. — Você sempre se deixa levar pelas emoções. A Bru acabou de voltar. Será que você não consegue deixá-la em paz? Você é assim desde pequena, sempre dando trabalho e causando problemas. A Bru não. Ela é diferente, sempre foi tão sensata.

A frase saiu leve, como uma constatação. Mas em mim abriu uma ferida profunda e dolorida. Tentei abrir a boca, explicar, dizer qualquer coisa. Mas naquele momento percebi que, aos olhos dela, eu sempre fui a filha que dá trabalho.

Rodrigo quis me defender, seus lábios se moveram algumas vezes, mas ele se conteve e recuou cada palavra. Vi-o abaixar a cabeça como se estivesse ponderando qual lado merecia ser consolado primeiro.

O ar de repente congelou.

Meu irmão, Marcelo, desceu correndo as escadas. Quando viu Bruna, seu rosto se iluminou.

— Mana Bru! Você voltou! — Ele passou direto por mim e correu até ela.

— Como o Marcelo cresceu. — Bruna sorriu, acariciando a cabeça dele.

Só então ele pareceu notar a minha presença e seu olhar mudou num instante.

— Mana, o que você está fazendo? — Havia uma cautela estranha, quase vigilante, na voz dele. — Mana, não faz isso de novo. Não implica com a Bru, está bem? Ela acabou de voltar.

Eu o encarei e não pude deixar de rir. Um riso breve, carregado de impotência e de sarcasmo.

Mesmo eu sendo a filha biológica, a irmã biológica, a pessoa com os mesmos laços de sangue, todos eles protegiam Bruna. Por tantos anos, eu obedeci, fui gentil, fui sensata. Achando que, contanto que eu fosse boa o suficiente, eles acabariam gostando de mim. Mas agora, eu finalmente entendi que a minha tal "sensatez" só servia para que eles tivessem um motivo para me ignorar.

— Mãe, eu não briguei com a irmã. — Sorri, calma. — Só fiquei emocionada porque não via o Rodrigo há muito tempo. Mas já que ela voltou então deixe ela voltar para casa.

O silêncio tomou conta do ambiente. Minha mãe fez uma pausa, aparentemente surpresa, claramente não esperava ouvir aquelas palavras. Ela olhou para mim, depois para Bruna, e por fim assentiu:

— Tudo bem. Vocês duas precisam se dar bem daqui para frente.

— Obrigada, tia. — Bruna abaixou o olhar e respondeu suavemente.

Nos olhos dela cintilou um brilho de satisfação, discreto, mas impossível de esconder. Ver aquilo fez um arrepio subir pelo meu corpo. Todos me acharam sensata, compreensiva. Mas não sabiam que, na verdade, toda a minha "sensatez" e "compreensão" significava que eu já tinha decidido partir.

Voltei ao meu quarto. Coloquei algumas roupas na mala, peguei o meu celular e o cartão bancário. Quando saí, me mantive indiferente.

— Mãe, vou sair um pouco. — Sorri. — Agora que a Bru finalmente voltou, vou comprar algo para comemorarmos.

O rosto da minha mãe imediatamente relaxou.

— Está bem. Mas volta cedo e não some por aí. — Ela se virou para Bruna, e com a voz ainda mais suave, perguntou. — Bru, o que você quer comer? A Camila compra para você.

— Qualquer coisa. O que a mana gostar, eu gosto também. — Bruna sorriu gentilmente.

A frase parecia inocente, mas o tom era o de quem anunciava uma pequena vitória. Eu não respondi, simplesmente me virei e saí.

— Camila, deixa eu te levar. — Rodrigo veio atrás de mim às pressas, havia urgência na sua voz.

Eu ia responder, mas o mesmo choro já familiar se levantou atrás de nós.

Belinha.

Bruna estava de novo agachada ao lado dela, dizendo baixinho:

— Querida, é triste quando o tio vai embora, não é?

O choro da menina de repente se intensificou, com soluços, dependente. O passo de Rodrigo vacilou. Eu o vi a hesitar, lutar contra a própria vontade. Ele pensou que quando Belinha se acalmasse, não seria tarde demais para ir atrás de mim. Mas ele nunca percebeu que a minha renúncia começou ali, naquele instante de hesitação.

— Não precisa. — Respondi, serena. — Eu sei me virar sozinha.

Saí pela porta respirando fundo. Foi naquele momento que entendi que eles me chamavam de sensata, de compreensiva, de madura... mas ninguém sabia que ser sensata, de verdade, é aprender a ir embora sem incomodar ninguém.
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