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Capítulo 3

Author: Cocada
Rodrigo, acompanhado de Bruna e a filha, finalmente chegou à mesma rua onde ele tinha me deixado mais cedo naquele dia. Os postes de luz estavam fracos e amarelados, e o vento trazia a umidade do mar. Eu já tinha ido embora, restando apenas a rua vazia e o sopro constante da brisa salgada.

Ele franziu a testa e um desconforto inexplicável cresceu em seu peito. Nesse instante, seu celular vibrou. Na tela, apareceu a minha mensagem:

[Não precisa vir me buscar. Eu já voltei para casa]

Ele soltou o ar por instinto. Mas, assim que respirou de volta, o peito pareceu ainda mais vazio.

Eu estava na mansão arrumando as malas. O cheiro familiar do quarto quase me deixava sem ar. Ele ligou. Eu vi o nome iluminado na tela, mas não atendi. Eu não sabia se devia rir ou chorar.

Talvez, desde o início, eu nunca devesse ter criado expectativas. Pensei na primeira vez que conheci Bruna. Eu tinha dez anos quando meus pais biológicos me buscaram de volta do lar adotivo. Achei que aquele seria o começo de um sonho, um lugar de aconchego, risos, uma família. Mas, quando abri a porta, eles estavam abraçando outra menina. Ela tinha cabelos longos e macios, vestindo um vestido branco que eu nunca tive.

— Esta é a Bruna. — Disse minha mãe com um sorriso gentil. — Ela esteve conosco durante os anos em que você estava desaparecida.

— Camila, a Bruna é mais nova que você. Seja sensata, cuide da sua irmãzinha. — Meu pai completou.

Naquele momento, ouvir a palavra "madura" me deu uma pontada no peito. Mesmo assim, sorri.

— Eu vou cuidar.

Mas Bruna apenas sorriu de leve, sem nenhum calor no olhar.

Mais tarde, descobri que, nos anos em que estive perdida sendo criada em lares adotivos, ela dormia no meu quarto, na minha cama, e chamava meus pais de "papai" e "mamãe". E, de fato, eles a tratavam como parte da família. Diziam que ela era uma criança inocente. E eu era a que precisava aprender a ser compreensiva e sensata.

Houve uma vez em que ela quebrou um copo na mesa sem querer. Quando me levantei para ajudar, ela imediatamente pôs a mão no rosto e chorou:

— Irmã, não briga comigo, a culpa é minha.

Meus pais correram e a abraçaram de imediato.

— Camila, você não pode ser um pouco mais gentil? Ela é pequena. Não a assuste. — Minha mãe franziu a testa.

Naquele instante, eu entendi pela primeira vez que, naquela casa, se ela chorasse, eu estava errada.

Mais tarde, Bruna foi estudar no exterior.

— Assim ela vê o mundo. — Meus pais diziam. — E isso evitará conflitos.

Mas, desde então, o olhar deles sobre mim mudou para uma mistura de cautela com decepção e distância. A partir dali, aprendi a ficar calada. E foi na época em que todos se afastavam de mim que Rodrigo apareceu.

Naquele dia, depois da aula, eu me sentei no banco em frente à escola, encarando a chuva forte, perdida em meus pensamentos.

— Você não precisa sorrir. Eu sei que seu dia não foi bom. — Ele me ofereceu um chocolate quente.

Olhei para ele, me sentido vista pela primeira vez.

Com o passar do tempo, sempre que eu era repreendida, ele estava lá.

— Ninguém acredita em mim. — Uma vez, chorando, eu disse.

— Então eu acredito. Isso é suficiente? — Ele se sentou ao meu lado e murmurou.

Daquele dia em diante, meu mundo ganhou luz. Ele foi a primeira pessoa que me fez acreditar que ternura era real. Foi a única salvação da minha longa adolescência.

Quando voltei desse devaneio, minhas lágrimas já tinham molhado a minha roupa.

Aquela luz que um dia iluminou todo o meu mundo, agora iluminava o mundo de outra pessoa.

A campainha tocou, cortando minhas lembranças. Fui atender e Rodrigo entrou às pressas me abraçando forte. Trazia no corpo o aroma da brisa da noite e o salgado do mar.

— Camila, me desculpa. Eu não fiz por mal. — A voz dele era baixa, um pouco urgente. — Eu só perdi a noção do tempo.

Antes que eu respondesse, uma voz frágil ecoou da escada:

— Camila, perdão, a culpa foi toda minha. — Bruna estava ali, segurando a filha, com os olhos ligeiramente vermelhos, e a voz tremendo na medida certa. — Se quiser culpar alguém, culpe a mim. Não culpe o Rodrigo. Eu que insisti para ver os fogos na praia...

Ela falava enquanto se aproximava, com um olhar tão suave que quase obrigava alguém a ter piedade.

— Não é culpa sua, Bru. Não se culpe. Foi descuido meu. — Rodrigo a segurou pelo pulso, com delicadeza.

Naquele instante, olhando a cena dele consolando outra mulher com toda delicadeza. De repente, entendi que ele não queria me machucar. Ele apenas se acostumou a proteger quem parece mais frágil. Ele acreditava que essa era sua responsabilidade, mas não percebeu que a sua gentileza estava me destruindo aos poucos.

O ar ficou estranhamente quieto. Olhei para eles, achando tudo aquilo absurdamente irônico. Ele dizia que eu era sua noiva dele, mas ali, na minha frente, protegia a mão de outra mulher. Meus lábios se contraíram levemente e senti um aperto na garganta.

— Rodrigo. — Murmurei. — Você realmente sabe como consolar alguém.

Ele fez uma pausa, confuso, com o olhar vago. E eu continuei:

— Só errou em não escolher a pessoa certa para isso.

Ele congelou, como se finalmente tivesse percebido algo.

Olhei para a luz acesa no teto. Era forte demais, ardia nos meus olhos.

— Você perguntou se eu ainda estou com raiva. — Sorri, amarga. — Não estou mais. Porque, para mim, já não importa.

— Camila, eu só... — Ele estendeu a mão, tentando me alcançar.

Eu dei um passo para trás.

— Você não precisa explicar. Eu já entendi. — Minha voz era tão calma que nem eu reconheci.

Virei-me e entrei no quarto. Quando a porta se fechou, ouvi dentro de mim um som oco no meu coração. Não era o som de estilhaço, era o silêncio que se instalava. E esse vazio era mais alto do que qualquer pedido de desculpa.
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