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Capítulo 4

Author: Anônimo
Meu pai suspirou profundamente, concordando com minha mãe. Para eles, Melissa já tinha pago um preço alto demais. Na visão deles, eu não deveria guardar tanto ressentimento. Então, quase perder minha vida era algo que eu merecia?

Baixei os olhos, deixando meu silêncio expressar minha insatisfação.

Bernardo percebeu minha atitude e, pela primeira vez, me lançou um olhar frio:

— Valentina, sua mãe já está idosa. Pra que mostrar essa cara pra ela? Já se passaram seis anos. Na época, você realmente tomou o lugar da Melissa. Você aproveitou por mais de vinte anos uma vida que não era sua. Não deveria culpar sua mãe. No fim das contas, sangue pesa mais. Não importa o que aconteça, uma mãe nunca consegue esquecer um filho. Além disso, seus pais deviam isso a ela.

Bernardo fez uma pausa e continuou:

— Vamos fazer o seguinte: não foi pra Melissa que eles prepararam aquela casa na zona rural? Este fim de semana, eu levo os pais até lá. Assim, é uma maneira de homenageá-la. Se você não quiser ir, tudo bem. Pode ficar em casa. O que acha?

A proposta parecia gentil, mas o tom de Bernardo deixava claro que não era uma sugestão. Levantei meus olhos e encarei os três. Bernardo mantinha a expressão séria, enquanto meus pais permaneciam em silêncio. Mas a tensão no ar era palpável. Ficava evidente que, se eu recusasse, seria vista como a pior pessoa do mundo.

— Está bem. Vocês podem ir. Afinal, ela sempre será filha biológica de vocês. E, de certa forma, o que aconteceu naquela época também foi culpa minha. Acho que é justo vocês irem.

Respondi com calma e aparente docilidade.

O rosto de Bernardo se iluminou com um sorriso:

— Eu sabia que minha esposa era a pessoa mais gentil e compreensiva do mundo. Pode deixar, vou preparar sua comida antes de sairmos.

Minha mãe, emocionada, enxugou uma lágrima com uma mão enquanto me abraçava com a outra:

— Valentina sempre foi uma menina bondosa. Em nome da Melissa, eu te agradeço. Nós falhamos como pais com ela.

As lágrimas quentes de minha mãe escorreram pelo meu pescoço. Meu corpo inteiro tremeu, e eu me aninhei em seu abraço, sentindo um formigamento desconfortável.

Eles diziam que estavam arrependidos pelo que fizeram com Melissa. Mas, na verdade, passaram seis anos me manipulando, me fazendo acreditar que eu era a culpada. Até hoje, quase me convenci de que as ações extremas de Melissa eram justificadas.

No fundo, eu comecei a pensar que realmente devia algo a ela, que talvez sua raiva fosse legítima. Que as facadas que ela me deu eram culpa minha.

Mas a verdade era que eu nunca quis trocar de lugar com ela. Não fui eu quem causou isso. Nem meus pais biológicos trocaram as crianças por maldade.

Sim, eu vivi mais de vinte anos uma vida que não era minha. Se Melissa quisesse, eu poderia deixar a família Souza imediatamente. Nunca quis disputar nada com ela. Então, por que eu tinha que ser manipulada e usada dessa forma?

Meu peito apertava com uma dor sufocante. Sentindo-me nauseada, corri para o banheiro. Bernardo, assustado, veio atrás de mim, batendo levemente nas minhas costas:

— O que foi, amor? Não foi hoje que você fez um exame? O que o médico disse? Será que é algo sério com seu estômago? Se for algo grave, precisamos tratar logo. Não podemos adiar.

O tom dele era cheio de preocupação e carinho. Mas, no fundo, não consegui evitar o pensamento: "Ele estava preocupado com minha saúde ou com a possibilidade de eu estar grávida?"

Virei para ele com um sorriso forçado e, fingindo doçura, disse:

— Bernardo, estou grávida.

Minha voz saiu suave, quase como um sussurro. Segurei seu braço e continuei com um tom manhoso:

— Você vai ser pai. O médico disse que, na minha situação, engravidar foi pura sorte. Você não está feliz? Finalmente teremos nosso próprio filho.

O sorriso de Bernardo congelou em seu rosto. Ele me olhou, tentando encontrar em minha expressão algum indício de que eu estava brincando. Mas não havia nada. Apenas silêncio.

— Valentina, não brinque com uma coisa dessas. — A voz dele tremia. — O médico disse claramente que seu corpo não está em condições de sustentar uma gravidez.

A insegurança em seus olhos era óbvia, e sua voz traía o pânico que ele tentava esconder. Esse era o homem com quem eu tinha me casado.

— Não estou brincando. Você não está feliz?

Perguntei com um fio de esperança, esperando uma resposta diferente. Bernardo endireitou a postura e me encarou com seriedade:

— Amor, o médico foi claro. Seu corpo não suporta uma gravidez. É melhor interromper. Se algo acontecer com você, o que eu vou fazer?
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