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Capítulo 3

Author: Anônimo
Minha mãe estava extremamente aflita, batendo de porta em porta no banheiro, com medo de que algo tivesse acontecido comigo.

— Estou aqui.

Depois de enxugar as lágrimas, saí do banheiro com os olhos vermelhos e fiquei diante dela. Minha mãe, surpresa com minha aparência, tocou meu rosto com cuidado:

— O que foi? Quem te deixou assim? Por que você está chorando? Conta pra mim, pode ser?

O rosto dela era o mesmo de sempre, mas, ao olhar para ela, senti meu estômago revirar. Mesmo assim, forcei um sorriso e respondi:

— Não foi nada, mãe. Acho que comi algo estragado, meu estômago está um pouco desconfortável.

Apoiei minha cabeça no ombro dela, escondendo o ódio que brilhava nos meus olhos. Sem desconfiar, minha mãe acariciou meus cabelos com um suspiro e me levou de volta para casa.

Quando chegamos, Bernardo já estava esperando na porta. O mesmo homem que, há duas horas, estava acariciando o ventre de outra mulher agora me abraçava com ternura. Ele tocou suavemente minha barriga e disse:

— Sua mãe me contou que você não está se sentindo bem. Voltei pra casa mais cedo e preparei uma sopa de abóbora pra você. Está quase pronta. Come um pouco e depois descansa, tá bom?

Foi só então que percebi o avental amarrado em sua cintura. Se não tivesse visto o que vi hoje no hospital, jamais imaginaria que o Bernardo, que sempre cuidou de mim com tanto zelo, guardava em seu coração um amor por outra mulher.

Ele parecia perfeito. Quando nos casamos, foi ele quem sugeriu que nos mudássemos para a casa perto dos Souza, para ficarmos próximos da minha mãe.

Mesmo nas madrugadas, quando tinha pesadelos, ele sussurrava meu nome. Mas, no fundo, ele nunca me amou. Tudo isso era apenas uma fachada. O verdadeiro amor dele era Melissa. Por ela, ele aceitou se casar comigo e viver tantos anos usando uma máscara.

Eu admirava sua capacidade de fingir.

— Pai, mãe, entrem para jantar. — Disse Bernardo com um sorriso.

Depois de me acomodar no sofá, ele voltou para a cozinha.

Meus pais, com olhares satisfeitos, começaram a elogiar a sorte deles por ter encontrado um genro tão bom. Enquanto isso, meu olhar se fixou em um quadro pendurado na parede.

Eu nunca tinha entendido por que Bernardo insistiu em colocar uma pintura tão feia em um lugar tão visível. Mas, vendo como meus pais caminhavam diretamente até o quadro e a letra "M" em destaque nele, comecei a entender. O que importava não era a pintura, mas quem a tinha feito.

— Jantar está servido. — Anunciou Bernardo.

Quando todos os pratos estavam na mesa, algo me atingiu como um relâmpago: em todos esses anos, percebi que Bernardo nunca preparou um prato que eu realmente gostasse.

Foram seis anos convivendo com isso, mas eu sempre me convenci de que ele fazia a comida que gostava e que eu deveria ceder, já que ele se esforçava tanto para cuidar de mim.

Mas agora, a dúvida me corroía: será que essas comidas eram realmente as favoritas dele? Ou eram as preferidas de Melissa?

— Valentina, você está bem? — Perguntou Bernardo, preocupado, ao ver minha expressão pálida. Ele colocou um pouco de comida no meu prato.

Minha mãe fez uma pausa e, com um tom hesitante, comentou:

— Vendo vocês dois assim tão felizes, eu e seu pai ficamos aliviados. Mas...

Eu sabia exatamente o que ela queria dizer: Melissa. Durante todos esses anos, minha mãe sempre mencionava a filha perdida nos momentos mais felizes, como se fosse algo inevitável.

Eu sempre agradeci por eles terem me escolhido, deixando Melissa de lado. E, por isso, nunca tive coragem de dizer nada.

— Não sabemos como ela está. Afinal, é nossa filha biológica. Espero que ela não esteja passando por muitas dificuldades na Venezuela. O importante é que esteja viva. — Disse meu pai. Ele então olhou para mim e continuou. — Valentina, você não deve culpar sua mãe. No fim das contas, Melissa é parte dela, uma filha de sangue. E Melissa já pagou o preço pelo que fez. O que passou, passou. Você também deveria deixar isso para trás.
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