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Capítulo 2

Author: Nina Prado
Cristiane levou um susto.

"Como assim a menstruação veio de repente?"

Correu para o carro e pegou a estrada. À medida que subia a serra e chegava à metade do caminho, o suor frio deslizava pelo rosto.

Não dava. A dor era insuportável.

Parou o carro às pressas e, com as mãos trêmulas, pegou o celular.

— Vi... Você já voltou? — A voz dela estava fraca. — Vem me buscar, por favor...

— Cris, onde você está? O que aconteceu? — Vitória perguntou, aflita.

— Estou na estrada da serra, perto da mansão dos Carvalho...

Logo depois, o som estridente de uma ambulância cortou o silêncio da noite. Felizmente, Vitória tivera a ideia de chamar socorro a tempo.

Quando Cristiane chegou ao hospital, já passava da uma da manhã.

Após uma bateria de exames, a notícia caiu como um raio: ela havia perdido o bebê. Já estava grávida de seis semanas.

Deitada na cama, Cristiane deixou escorrer uma lágrima silenciosa pelo canto do olho. Pobre criança, que nunca chegara a ver a luz do mundo.

Vitória explodiu de raiva, a boca despejando impropérios:

— Aquele desgraçado! Ele não sabia que você estava grávida? Ainda mandou te buscar para o Solar do Mar e te esgotou até o limite!

Cristiane sempre tivera o ciclo irregular e nem desconfiara da gravidez. Pelas contas, o bebê devia ter sido concebido no mês anterior.

E no mês anterior ela não fora levada ao Solar do Mar, mas sim a outro país.

Henrique estava em viagem de negócios no exterior e, naquela ocasião, mandara chamá-la até lá. Ela o acompanhara por três dias inteiros antes de voltar.

Lembrava-se bem: ele ainda a advertira, dizendo que já tinham consumido a cota daquele mês. Mesmo assim, no mês seguinte, mandara buscá-la de novo, como se nada tivesse acontecido.

Foi nesse momento que uma médica entrou no quarto, trazendo um relatório nas mãos.

— Você foi muito descuidada. Sabendo que estava grávida, como pôde tomar anticoncepcional? O bebê poderia ter sobrevivido.

"Anticoncepcional?"

As palavras deixaram Cristiane e Vitória em choque.

Ela nunca tomara nada. Entre ela e Henrique, nunca havia método algum. Como poderia haver hormônios em seu corpo?

Vitória se levantou de súbito, furiosa:

— Aquele canalha! Para agradar aquela Mariazinha, ele te dopou! Não queria filhos? Que tivesse coragem de dizer! Por que fazer uma crueldade dessas?

O coração de Cristiane latejava de dor, como se estivesse coberto de espinhos.

"Seria mesmo Henrique?

Todas as vezes, depois de estarmos juntos, os criados traziam mingau de aveia com leite ou sopa de galinha... Teria sido ali que ele colocou os remédios?

E no mês anterior, quando estivemos no exterior, ele não teve oportunidade de adulterar nada. Talvez por isso, naquele mês, tenha insistido em me ver outra vez para garantir que o veneno fizesse efeito?"

Naquele instante, Cristiane sentiu as forças a abandonarem todo o corpo.

— Espera só! Eu vou agora mesmo até a família Carvalho exigir que paguem com a própria vida pelo que fizeram ao seu bebê! — Vitória tremia de raiva, já com o celular em mãos, pronta para sair.

— Vi... — A voz de Cristiane saiu fraca, rouca, quase um sussurro. — Não vá.

— Cris! — Vitória se virou bruscamente, olhando-a incrédula. — Ele matou o seu filho! Você vai deixar barato?

Cristiane fechou os olhos devagar, respirou fundo e, quando os abriu novamente, só restava no olhar um ódio gelado, decidido.

— Eu já decidi me divorciar dele. Não quero mais nenhuma ligação com Henrique. — Fez uma pausa, encarando a amiga com firmeza. — Mas... Eu vou descobrir a verdade. Vou descobrir quem tirou meu filho de mim. E quem quer que tenha feito isso... Não vai escapar.

Havia tanta frieza, tanta ferocidade em seus olhos que até Vitória estremeceu.

Aquela sim era a Cristiane que ela conhecia: por fora parecia delicada, mas por dentro tinha uma força de ferro.

Vitória abaixou o celular e apertou com força a mão gelada da amiga.

— Fica tranquila. Nós duas vamos vingar esse bebê. Seja quem for, vai pagar caro, muito caro!

No meio da noite, Cristiane acordou assustada com o trovão. Rolou na cama, incapaz de dormir.

Olhava para a luz fraca do abajur e deixava os pensamentos voarem para longe.

"Quando eu tinha dez anos... E depois, aos doze, quando cheguei à Cidade N.

Seguir Henrique foi meu destino por doze longos anos. Lutei para estar ao lado dele, dei tudo de mim.

E agora... Estava grávida dele. Grávida sem querer, sem planejar. Apenas um descuido..."

Sem perceber, as lágrimas começaram a cair.

Parecia que o destino lhe arrancava o último escudo. Toda a força que mostrara durante o dia se desmanchava de uma vez só.

Aquele bebê fora a última esperança, o último fio que ainda a prendia ao casamento.

Mas o bebê já não existia.

Já não existia!

Cristiane levou as mãos ao rosto e desabou em um choro desesperado, inconsolável...

A noite estava densa, negra como tinta.

Lá fora, a chuva despencava em rajadas furiosas, as gotas batendo contra o vidro num compasso caótico, quase ensurdecedor.

Henrique despertou de repente, sentado na cama, ofegante. O suor frio lhe escorria pela testa.

O mesmo sonho, outra vez.

Água gelada o engolia por completo. Por mais que lutasse, não conseguia respirar. Apenas afundava, cada vez mais fundo, mergulhando numa escuridão sem fim. A sensação de sufocamento era tão real que o deixava apavorado mesmo depois de acordar.

Irritado, passou a mão pelos cabelos e levantou-se, indo até a janela panorâmica. Observava a cidade escondida sob o véu da tempestade.

Mas nem mesmo aquela chuva torrencial conseguia lavar a sombra em seu coração.

Caminhou até o bar e encheu um copo generoso de uísque. Virou-o de uma vez, deixando o líquido ardente queimar sua garganta.

Ainda assim, o fogo da bebida não conseguia anestesiar a inquietação. Havia algo errado, algo acontecendo que ele não conseguia compreender, mas que corroía sua paz.

O peito doía em silêncio, apertado, confuso.

Na manhã seguinte, Cristiane era levada pela enfermeira para a sala de cirurgia.

O metal frio dos instrumentos refletia sob a luz ofuscante. O cheiro forte de desinfetante parecia impregnar o ar e sufocar os pulmões.

O médico examinava o relatório com a testa franzida.

— Ainda há resíduos no útero, será necessário fazer uma curetagem. Você já sabe que tem um defeito genético e é alérgica a todos os anestésicos. Por isso, desta vez, não poderemos usar nenhum tipo de anestesia.

Isso queria dizer que enfrentaria, quase consciente, uma dor brutal, como se cada nervo fosse dilacerado por dentro.

Cristiane assentiu em silêncio. O corpo tremia, não sabia se de medo ou de frio.

Cerrou os dentes e fechou os punhos com força, as unhas cravando fundo na palma da mão.

Estava prestes a enfrentar a dor como se fosse um suplício de carne e osso, totalmente desperta.

Quando o metal gelado penetrou em seu corpo, a dor aguda, dilacerante, tomou conta dela num só instante.

— Ugh... — Um gemido escapou de seus lábios, abafado, mas carregado de sofrimento.

O suor brotou em sua testa como uma enxurrada.

Doía...

Doía demais!

Era como se estivessem destroçando suas entranhas, esmagando cada órgão, cada nervo.

As lágrimas correram sem controle, misturando-se ao suor e embaçando sua visão.

Mordeu o lábio com tanta força que o sangue escorreu, deixando o gosto metálico se espalhar pela boca.

Precisava lembrar daquela dor.

Precisava lembrar quem a obrigara a passar por aquilo. Precisava carregar para sempre o peso de ter perdido o filho de forma tão cruel.

Quem quer que tivesse sido o responsável... Ela não deixaria impune.

A dor vinha em ondas, avassaladora, cada vez mais forte, como se fosse ser despedaçada a qualquer instante.

Até que, por fim, a consciência se apagou.

No mesmo instante, no escritório da presidência do Grupo Carvalho.

Henrique encarava a tela do celular, a expressão cada vez mais fechada.

Já eram dez da manhã, e o telefone de Cristiane continuava fora de área.

Desligado.

— Essa mulher... — Murmurou entre dentes. — Desaparecer sem motivo?

Tinham combinado: hoje ela deveria comparecer para assinar os papéis do divórcio. E agora? Resolveu deixá-lo plantado?

A raiva subiu-lhe ao peito. Atirou o celular sobre a mesa, irritado.

Desde cedo, uma inquietação estranha o corroía. Uma sensação ruim, como se algo estivesse prestes a acontecer.

"Seria por causa de Cristiane?

Mas que perigo ela poderia correr?

No máximo, mais um truque para despertar sua piedade. Ou uma jogada para adiar o inevitável."

Henrique recostou-se na cadeira, os olhos frios.

— Quero ver até onde você pretende chegar com esse teatro...
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