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Após A Minha Morte, Todos Começaram A Me Amar
Após A Minha Morte, Todos Começaram A Me Amar
Autor: Hathaway

Capítulo 1

Autor: Hathaway
À meia-noite, minha alma flutuou para fora do chão frio do porão.

A porta do meu quarto foi aberta com um solavanco, e meu irmão, Gil Gomes, entrou. Ele varreu o quarto vazio com o olhar e soltou um riso frio.

— Glória, você não se cansa de brincar de esconde-esconde? Já está bem grandinha para essas encenações.

Normalmente, eu teria respondido sem hesitar.

Mas, desta vez, eu só pude flutuar ao seu lado, em silêncio.

Gil pegou o celular para me ligar. Ninguém atendeu. Ele bagunçou o cabelo, irritado, e abriu distraidamente o diário sobre a mesa.

Nele, estava escrito apenas um número: 99.

O número de vezes que eles me decepcionaram ao longo dos anos.

Gil não entendeu. Ele franziu a testa, jogou o diário no chão e resmungou enquanto me enviava uma mensagem de áudio pelo WhatsApp:

[Pare com essa birra. A Ester está esperando pelo cheesecake de mirtilo que você faz. Hoje é o aniversário de dezesseis anos dela. É melhor você voltar para casa em uma hora, senão vou considerar que você não tem o mínimo de bom senso.]

Depois, ele guardou o celular e foi para a sala de estar.

— A Glória não está no quarto e não atende ao telefone — Disse ele aos meus pais. — Ela é sempre assim, some por qualquer coisinha e fica esperando que a gente implore para ela voltar.

Xavier Gomes, meu pai, suspirou: — Nós a mimamos demais. Desta vez, não liguem para ela, vamos lhe dar uma lição. Amanhã ela voltará por conta própria.

E Ester Gomes, minha doce e atenciosa irmã, segurou suavemente a mão do meu pai, com os olhos cheios de preocupação: — Papai, e se algo realmente aconteceu com a irmã? Talvez eu devesse mandar uma mensagem para ela. Vocês sabem, ela sempre foi a melhor comigo.

Eu a observei baixar os olhos, seus dedos finos digitando rapidamente na tela do celular.

A primeira mensagem foi:

[Espero que você esteja gostando de ser alvo daqueles bandidos. Nos braços de que homem você está agora? Fico feliz por você. Se você morresse, seria um alívio para todos.]

Depois de enviar, ela apagou imediatamente e escreveu outra.

[Irmã, você está bem? Estamos todos muito preocupados. Se estiver com raiva, pode me bater ou brigar comigo, mas, por favor, volte logo para casa. O papai e a mamãe estão muito preocupados.]

Ela levantou o celular para que todos vissem, como uma irmã incrivelmente bondosa.

Minha mãe, Silvana Franco, a abraçou com força, dizendo com o coração partido: — Ester, você tem apenas dezesseis anos e já é tão atenciosa. A Glória tem vinte e quatro, trabalha há tantos anos e ainda é teimosa, faz birra. Você não precisa se culpar.

Teimosa? Birra?

No ar, soltei um riso amargo que ninguém ouviu.

Eles nem se lembravam de que hoje era o dia em que eu receberia o "Prêmio de Ouro Global de Doutorado em Medicina". Esse prêmio é concedido a cada dois anos e, embora seja muito difícil de obter, por causa do aniversário da Ester, optei por ficar em silêncio e deixá-los celebrá-la.

Eu nunca quis competir com ela pelo amor deles.

Mas, no momento em que saí de casa para receber o prêmio, alguns homens estranhos invadiram e me arrastaram para o porão.

Eu lutei, aterrorizada: — Como vocês conseguiram a chave da nossa casa?

Um dos homens balançou um chaveiro na minha frente. Era o da Ester.

— Não perca seu tempo. — Disse ele com um sorriso sinistro.

Eu implorei desesperadamente, chorando: — Eu não vou contar a ninguém, por favor, me deixem ir...

Mas eles ignoraram meus apelos, me violentaram cruelmente, zombaram de mim e tiraram fotos comprometedoras.

Eu resisti com todas as minhas forças e, no meio da confusão, minha nuca bateu com força na quina de uma mesa, e o sangue jorrou.

Assustados, eles fugiram às pressas, deixando-me desamparada em uma poça de sangue.

Eu me arrastei, com os dedos manchados de sangue, e abri o celular para fazer a última chamada de socorro.

Meus pais recusaram e ainda me enviaram uma mensagem fria:

[Fingindo estar doente de novo? Não temos tempo para suas palhaçadas!]

Somente Marcelo Rocha, meu amado em quem eu confiava imensamente, atendeu ao telefone.

— Me ajude... Marcelo, eu estou morrendo...

Mas sua voz era gélida.

— Glória, pare de fingir. Hoje é o aniversário da Ester, algo que só acontece uma vez na vida. Você realmente precisa estragar o humor dela? Eu já prometi que te compensaria com um presente de formatura.

Eu ri, atordoada...

Compensar?

Marcelo, você nunca mais terá a chance de me compensar.

Vinte e quatro horas depois, este porão começaria a exalar o cheiro de decomposição.

E Ester uma vez desejou que eu morresse, para que ninguém mais competisse com ela por amor e atenção.

Agora, seu desejo finalmente se realizou.
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