Share

Capítulo 3

Author: Melissa Z
Fiquei presa naquele quarto por três dias inteiros.

O Damien disse que era para eu “pensar no que tinha feito”.

E o Leo fez disso uma missão: ia lá todos os dias só para gritar insultos, como se fosse um novo jogo preferido dele.

No terceiro dia, a porta finalmente se abriu.

Meu pai entrou, ofegante, com o terno todo amarrotado.

O cabelo dele estava todo bagunçado, como se tivesse dirigido a noite inteira.

Quando viu o hematoma na minha testa, o rosto dele empalideceu.

— Elara, minha filha. — Ele abriu os braços para me abraçar.

Eu dei um passo para trás. — O que você está fazendo aqui?

— O Damien me contou o que aconteceu — a voz dele tremia. — Elara, meu Deus, o que você fez? Você não pode deixá-lo. Vai acabar com a gente!

— Acabar com vocês?

— Sem a proteção dos Volkov, estamos mortos. Nosso negócio vai acabar. — Ele caiu de joelhos. — Nossos inimigos vão nos destruir. Os concorrentes vão tomar nosso território. Seu irmão ainda está na faculdade, as contas médicas da sua mãe…

— Chega.

Mas ele continuou, cada vez mais desesperado.

— Mil pessoas trabalham para nós. Suas famílias dependem desse dinheiro. Elas vão passar fome. Tudo porque você está fazendo drama.

Drama.

Aquela palavra de novo.

Ouvi o motor de um carro lá embaixo.

Quando olhei pela janela, vi um sedã preto parando em frente à casa.

A porta se abriu e uma mulher desceu.

Longos cabelos loiros, cintura fina. Mesmo no escuro eu conseguia ver os traços delicados dela.

Ela usava um vestido vermelho, idêntico ao que a Krista adorava.

— Quem é ela? — eu perguntei.

Meu pai seguiu meu olhar. O rosto dele ficou pior ainda.

— Sophia. A nova… assistente do Damien.

Nova assistente.

Observei a Sophia entrando na mansão. O Leo correu escada abaixo para recebê-la.

Ele estava sorrindo, realmente feliz, como se estivesse vendo um parente querido que não via há anos.

— Ela se parece muito com a Krista — meu pai disse com cuidado. — Você está encrencada, Elara.

Encrencada?

Porque ela era uma cópia melhor e eu era só uma imitação barata.

Dois seguranças passaram pela porta. Ouvi eles conversando:

— A novata é muito gostosa.

— Ouvi dizer que encontraram ela num clube. Ela dança muito bem.

— Bem melhor que a rainha de gelo lá de cima.

— Ei, fala baixo.

Meu pai também ouviu tudo.

— Elara, me escuta, você tem que…

— Tenho que o quê? Ele já encontrou uma substituta! — Virei para ele. — Já me sacrifiquei demais por essa família. Eu vou embora!

— Não! — Ele agarrou meu braço. — Você não pode ir! Eu não permito!

— Você não permite?

— Eu sou seu pai! — ele gritou. — Tenho o direito de decidir sobre a sua vida!

— Você tinha esse direito — respondi friamente. — Mas o vendeu oito anos atrás.

Meu pai me encarou. O rosto dele se deformou em raiva.

PÁ!

O som da bofetada ecoou no quarto.

Minha bochecha ardia, mas eu me recusei tocá-la.

— Sua vadia ingrata! — ele berrou. — Eu te criei, e é assim que você me paga?

Ele ergueu a mão para me bater de novo.

Eu segurei o pulso dele.

— Basta — eu disse, com a voz fria como gelo. — A partir de hoje, estamos quites.

Meu pai me encarou, seus olhos cheios de raiva, incrédulo. — Você enlouqueceu.

— Não. Eu estou sóbria - eu disse, soltando a mão dele. - Mais sóbria do que jamais estive.

Ele cambaleou para trás, apontando o dedo para mim:

— Você vai se arrepender. Sem sua família, sem proteção, você não será nada!

— Prefiro ser nada.

Ele saiu, batendo a porta atrás dele.

O quarto ficou silencioso de novo.

Quando me virei, encontrei os olhos escuros e profundos de Damien me encarando.
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • Eles Não Me Deixam Ir   Capítulo 9

    — Todo mundo achou que você estivesse morto — disse o Damien, ainda em choque. — Aquela explosão, três anos atrás…— Eu arranjei aquilo — respondeu Julian, com frieza. — Um corpo, um laudo de DNA, algumas testemunhas compradas. Às vezes, a morte é a única maneira de fugir da família.— Os Thorne estão te procurando.— Pois que procurem — disse Julian, soltando a chave inglesa. — Não dá pra encontrar um homem morto.Os olhos do Damien saltavam de mim para o Julian, seu rosto escurecendo a cada segundo.— Então esse é o seu jogo? — ele zombou, olhando para mim. — Me trocar por um fantasma?— Ele não é um fugitivo — eu disse, dando um passo à frente. — Ele é um homem livre.— Livre? — Damien zombou. — Ele é um covarde! Fugiu das responsabilidades, jogou fora o próprio nome!— Pelo menos ele teve coragem de escolher a própria vida — disse Julian, encarando o Damien. — Diferente de você. Você encontrou um incêndio e tentou mantê-lo dentro de uma gaiola dourada.— Um incêndio?— Ela — disse

  • Eles Não Me Deixam Ir   Capítulo 8

    — O Leo precisa de mim? — soltei uma risada fria. — Um mês atrás, ele queria atirar com uma bala em mim.O rosto de Damien ficou tenso. — Ele é só uma criança. Não sabia o que estava fazendo.— Ele tem oito anos — respondi, sem me afastar do lado de Julian. — Idade suficiente para diferenciar o certo do errado.— Elara. — O Damien tirou uma caixinha de veludo do bolso do terno. — Vamos conversar.Ele a abriu. Dentro havia um anel de diamante do tamanho de um maldito iceberg.Não era o anel da Krista. Era um novo. Ofuscante, caro o suficiente para comprar meia cidade.— Case comigo — ele disse. — De verdade, desta vez. Você não vai ser uma substituta. Vai ser minha rainha. A rainha de Chicago.— Não.— Eu também trouxe isso. — Ele fez um sinal, e um dos seguranças trouxe uma pasta grossa. — Um acordo pré-nupcial. Um fundo de dez milhões de dólares. Um apartamento de luxo no centro de Chicago. E ações de três das minhas empresas.Dez milhões.Ele ainda achava que eu era a mesma garota de

  • Eles Não Me Deixam Ir   Capítulo 7

    Uma rachadura é tudo o que basta. Logo, o maldito mundo inteiro se quebra.Semanas se passaram. A casa ficou um caos.O novo mordomo estava vendendo garrafas vintage da adega.As contribuições semanais dos sindicatos vieram mais baratas. As propinas sumiram. Os números não fechavam, e ninguém tinha uma maldita resposta.Até as rosas negras que a Elara cuidava com tanto carinho no jardim começaram a murchar e morrer.O Damien estava se afogando em qualquer assunto pequeno e chato com os quais nunca precisou lidar.Quase quebrou a mandíbula de um capitão por causa de um livro contábil atrasado. Todo o submundo de Chicago conseguia sentir o humor sombrio e podre do chefe dos Volkov.Pela primeira vez, ele percebeu que a Elara tinha sido como um escudo invisível, protegendo-o de todos os problemas ruins e banais do mundo.Então o Leo ficou doente.Uma febre alta que não abaixava. Pesadelos.O médico da família não servia para nada. Em seu delírio, o Leo resistia a todo tratamento, repetind

  • Eles Não Me Deixam Ir   Capítulo 6

    No dia depois que a Elara foi embora, um silêncio desconfortante pairou na casa.O Damien ficou diante da queimada da garagem, o rosto frio na madrugada cinzenta.Uma mulher desobediente tinha ido embora. Nada mais.Na família Volkov nunca faltaram mulheres.Na sala de jantar, o Leo cutucava os ovos com o garfo, com uma expressão infantil de vitória em seu rosto.— Aquela mulher má foi embora — ele disse para a Sophia, que sentava na cadeira principal. — Ainda bem.Sophia, usando um robe de seda justo, deu a ele um sorriso malicioso. — Claro, querido. De agora em diante, eu vou cuidar muito bem de você e do seu papai.As "reformas" dela foram rápidas e de péssimo gosto.No primeiro dia, as cortinas simples de linho de Elara foram trocadas por um veludo vermelho berrante que engolia a luz e deixava o ambiente pesado e barato.No segundo dia, o velho mordomo que servia a família Volkov há trinta anos foi demitido por "furto". Sophia o substituiu por um "primo" de cabelo engomado que ela

  • Eles Não Me Deixam Ir   Capítulo 5

    A janela traseira explodiu.O Mustang rodopiou e bateu com força em um pilar de concreto dentro da garagem.O airbag abriu, acertando meu rosto. Minha cabeça bateu no volante. Senti o gosto de sangue.O motor morreu.A garagem ficou completamente silenciosa.O Leo estava olhando para a arma, a mão dele estava tremendo. Os olhos dele estavam arregalados de terror. Ele nunca tinha pensado em puxar o gatilho, muito menos imaginado que aquilo realmente aconteceria.— Eu… eu… — ele não conseguia falar.Abri a porta amassada com esforço e saí do carro. Tinha sangue escorrendo pela minha testa. Não fiz questão de limpar.— Você tentou me matar?O Leo deu um passo para trás, a arma ainda estava em sua mão. — Eu… eu só queria…— Queria o quê? - Eu cheguei perto dele. — Me calar de vez?— Não! Eu só não queria que você fosse embora! — A voz dele falhou. — Você matou a minha mãe. Você não pode simplesmente ir embora!Tirei um punhal preso à minha cintura. A lâmina brilhou sob a luz da garagem.O

  • Eles Não Me Deixam Ir   Capítulo 4

    — Você viu.O Damien estava encostado no batente da porta.Eu não fazia ideia de quanto tempo ele ficou ali.O rosto dele estava calmo, como se tudo tivesse acontecido como ele planejou.— Vi o quê? — limpei o sangue do canto da minha boca.— Seu pai. Como ele realmente é — disse ele, entrando no quarto. — Ainda não entendeu? Ninguém se preocupa com você. Só eu.Eu quase ri.— Se preocupa comigo?— Já mandei meus contatos falarem com os melhores negociadores de arte da Europa. — Ele tirou uma lista do bolso. — Um Monet original. Uma obra-prima do Impressionismo. E um retrato de Rembrandt, que pertenceu à realeza. Mais raro e mais valioso que o quadro do seu avô.Olhei para a lista, para os nomes das obras e seus preços.— Eu não quero esses quadros.— E a Sophia? — ele disse, com um sorriso cruel. — Eu a encontrei por você. Ela faz o Leo feliz. Assim você não precisa mais fazer isso. Está vendo? Podemos fazer isso funcionar.Um equilíbrio. Ele achava que isso era uma negociação.— Dami

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status