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Capítulo 2

Author: Sofia Dourado
Ao relembrar o passado, Maysa sentiu seu coração estremecer, mas, mesmo assim, manteve os olhos claros e firmes, respondendo com calma:

— Sua tatuagem? Eu não tenho nenhuma tatuagem relacionada a você.

Ryan ficou paralisado por um instante. De forma instintiva, ele tentou segurar novamente a mão esquerda dela. Aproveitando que Maysa não conseguiu se desvencilhar a tempo, ele puxou a manga da blusa dela para cima. Aquele desenho com o formato especial da letra “R” já não estava mais lá. No lugar, havia uma rosa cercada por espinhos.

Enquanto seus dedos deslizavam pela pele dela, Ryan sentiu outra textura sob o desenho. Era irregular, como pequenas cicatrizes espalhadas pela região.

A palavra “autoflagelação” passou pela mente dele, e um frio cortante percorreu seu peito.

Impossível. Ele conhecia Maysa como uma mulher prática, que só pensava em dinheiro. Como ela poderia ter feito isso consigo mesma?

Ryan afastou rapidamente esse pensamento. Ele logo concluiu que as marcas deviam ser resultado de um tatuador inexperiente.

Com a voz rouca, ele a encarou com um olhar profundo:

— Como você pôde... Apagar isso?

Ele se lembrou de como a havia convencido a tatuar o “R” com seu nome. Na época, Maysa era jovem, inocente, e apaixonada ao ponto de fazer muitas besteiras por ele.

Quando Ryan a abraçava naquela época, os olhos dele, lindos e estreitos, pareciam duas lâminas afiadas, prontos pra cortar quem estivesse pela frente. Ele dizia que a amava, e ela realmente acreditava.

— Não apaguei. Só cobri. — Maysa retirou a mão com um movimento rápido, como se estivesse retirando uma faca que havia cravado no corpo de Ryan.

Com um tom despreocupado, ela continuou, sem demonstrar sinais da paixão desesperada de antes:

— Tatuagens que a gente faz quando é jovem e sem noção não têm mais significado. Cobrir foi a melhor opção.

Não era só o desenho que ela havia encoberto, mas também as cicatrizes deixadas pelas feridas que um dia ela mesma havia provocado.

— Sem significado? — Ryan franziu a testa, os traços marcantes de seu rosto revelavam um misto de irritação e impaciência. — Maysa, você não pensa em tudo que ganhou ao namorar comigo? Você, essa mulher materialista, apaga a tatuagem depois de tudo que conquistou? E ainda consegue passar um ano inteiro sem me mandar sequer uma mensagem?!

Materialista? Então, era assim que ele a via depois de tanto tempo ao lado dele?

— Shhh. — Maysa sorriu levemente, com um ar despreocupado, e levou o dedo indicador aos lábios, pedindo silêncio.

O celular dela começou a tocar. Sem se importar com a presença de Ryan, ela virou-se e atendeu:

— Oi, amor. Sim, acabei de sair da reunião.

O rosto de Ryan mudou instantaneamente.

— Hoje tivemos muitos clientes importantes. Mais tarde, vou pedir para a minha assistente acompanhar o processo. Certo. — Ela falava com calma, compartilhando com o marido detalhes do trabalho, sem se importar com o homem que a observava.

Com o celular em mãos, ela permanecia ali, serena, com o olhar tranquilo. Sua voz era fria e controlada, e o perfil dela, iluminado pela luz do ambiente, parecia ainda mais elegante.

Em determinado momento, Maysa ergueu os olhos e olhou para Ryan, que a esperava terminar a ligação. Com uma expressão séria, ela franziu ligeiramente a testa e respondeu ao celular:

— Entendi. Estou voltando agora, amor.

Ela desligou sem cerimônias, virou-se e saiu andando apressada, sem se despedir de Ryan. Os sapatos de salto ecoavam no chão, enquanto ela caminhava com uma elegância que exalava sensualidade e confiança.

Ryan fechou a mão, apertando os dedos, e soltou uma leve exclamação:

— Amor?

Ela nunca o havia chamado assim. Maysa sempre usava um tom submisso quando o chamava de “dono”, algo que satisfazia as preferências particulares de Ryan, que gostava de jogos de dominação.

Ele conhecia cada osso do corpo dela, sabia decifrar cada detalhe de sua alma. Mas, toda vez que sentia o calor do amor sincero e vulnerável de Maysa, ele fingia não perceber.

Maysa já havia sumido do corredor, mas Ryan continuava parado no mesmo lugar. Seu rosto, geralmente inexpressivo, agora estava tomado por uma confusão evidente. A palavra “amor”, dita para outro homem, ecoava em sua mente, como se fosse um golpe inesperado.

Depois de muito tempo, ele ergueu o braço e olhou para o próprio pulso.

A manga da camisa deslizou um pouco, revelando parte de uma tatuagem clara e bem definida: a letra “M”.
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