Capítulo 0002

Após entender a situação, minha sogra disse apressada:

— Afonso, calma, a culpa foi nossa. Vou ligar para o José, ele vem aqui. Por favor, não machuque a Yasmin, ela está grávida de nove meses, prestes a dar à luz.

Afonso hesitou, aparentemente convencido.

Com mãos trêmulas, minha sogra pegou o celular.

Do outro lado, o ambiente estava barulhento, dava para ouvir choro de mulher.

— O que está acontecendo? Yasmin levou mais de dez facadas, está morrendo e você não vem?

Minha sogra achou que José ao menos atenderia seu pedido.

Mas ele apenas riu, sarcástico:

— Mãe, até você está ajudando ela a fingir? Já perguntei: Afonso está lá no interior.

— Diz pra ela parar com esse show. Se estiver ruim, que procure um médico. Aliás, já preparei o túmulo, podemos enterrar ela quando quiser.

No telefone, a voz de uma mulher soou frágil:

— É a Yasmin aprontando? Não fique bravo, José, ela tem ciúmes da gente, é normal fingir.

— Talvez você devesse ir lá... Mas eu realmente quero morrer. Dizem que morrer queimado é a pior dor...

Reconheci, era Cecília.

O rosto da sogra ficou sombrio:

— Não acredita? Vou te mandar foto.

José ficou em silêncio alguns segundos, provavelmente vendo as fotos.

Sem demonstrar preocupação, apenas suspirou:

— Nossa, mãe, Yasmin caprichou na atuação.

— Onde ela arranjou um sósia do Afonso? Esse sangue está igualzinho ao de verdade.

— Essa carinha triste... Perfeita! Mãe, mande ela para uma novela, não desperdice esse talento.

Minha sogra, sem palavras, tentou falar, mas nada saiu.

Por um instante, senti uma tristeza profunda. Como nunca percebi que José podia ser tão cruel?

As pessoas no terraço não aguentaram mais, tentaram interceder por mim.

José continuou incrédulo:

— E então? Contratou figurantes ou todos foram enganados pela sua atuação?

— Aproveite, eu vou cuidar da Cecília.

Houve um breve silêncio.

Não sei que frase de José desencadeou a fúria de Afonso, que surtou, me jogou no chão e começou a esfaquear minha barriga sem parar!

Facada após facada!

A lâmina cortava a pele, a dor se espalhou pelo corpo.

Quis reagir, mas não tinha forças sequer para levantar o braço.

Antes de desmaiar, vi dois policiais correndo em minha direção.

Um vizinho solidário chamou a polícia.

Depois de muito esforço, conseguiram tirar a faca da mão de Afonso e algemá-lo.

Mas o sangue não parava de sair, minhas pálpebras ficaram pesadas.

Antes de fechar os olhos, ouvi a voz suave de José no telefone da sogra — ele não tinha desligado.

— Cecília, sempre quis me divorciar, mas ela cuida tão bem dos meus pais...

— Para mim, você é minha verdadeira esposa. Ela só serve para ter filho.

— Não fique triste. Eu nunca amaria uma mulher cheia de mentiras. Amo apenas você, que é honesta e bondosa.

Cada palavra de José era como uma lâmina cravada no meu peito.

Desta vez, não senti tristeza, mas ódio!

Quando abri os olhos novamente, o cheiro forte de desinfetante tomou conta.

Minha sogra correu para a cama ao me ver acordar, apertando minha mão:

— Yasmin, nos desculpe. O bebê... não resistiu.

Olhei para minha barriga vazia, retirei minha mão:

— Mãe, quero ficar sozinha.

Minha sogra percebeu o distanciamento e saiu suspirando.

Peguei o celular para tentar me distrair, mas acabei vendo um vídeo de José consolando Cecília numa live.

A sala estava cheia de gasolina, mas José nem se importava.

Ele ajoelhou-se, tirou do bolso um anel de diamante enorme e olhou para Cecília com devoção.