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Capítulo 3

Penulis: Feijões Barulhentos
Helena deixou a mansão com a mesma arrogância de sempre, levando em mãos a pasta humilhante que carregava os papéis do novo "casamento arranjado".

Rafaela permaneceu no sofá, imóvel, olhando para o vazio. O corpo parecia pesado, como se todo o cansaço dos últimos cinco anos tivesse finalmente se acumulado nos ossos.

No fundo do peito, sobrava apenas um gosto amargo, a cruel ironia de perceber que seu casamento não passava de um monólogo solitário. Até mesmo a única espectadora daquela peça, enfim, se cansara de assistir.

O celular vibrou sobre a mesa e a tela se iluminou. Uma notificação chamou sua atenção. Era uma postagem na conta secundária de Clara.

Rafaela abriu a publicação e viu a imagem numa caixa de veludo, onde a gargantilha "Única" reluzia com intensidade. A legenda era curta, mas certeira: [Ele disse que é um presente único, como uma estrela, feita só para brilhar em mim.]

Poucas palavras, mas cada uma espetava Rafaela como uma agulha fina, despertando nervos que ela já acreditava entorpecidos.

Cada palavra daquela legenda perfurava Rafaela como agulhas, atingindo nervos que ela já nem sabia que ainda podiam doer.

Diante da tela, todo o sentimento que vinha sufocando por anos encontrou, enfim, uma brecha para escapar.

Ela riu devagar, um riso sem alegria, que não alcançou os olhos. Havia nele apenas frieza, decisão e uma força implacável.

Pegou o celular novamente, rolou a agenda e encontrou o contato de Pedro, responsável por todas as festas luxuosas da família Amaral.

Ele atendeu quase de imediato, a voz carregada de formalidade:

— Senhora Rafaela, bom dia.

— Sr. Pedro, amanhã à tarde quero que providencie um lanche completo e lembranças para todos os funcionários da sede do Grupo Amaral, em comemoração ao último projeto. Capriche, quero o melhor padrão possível. A fatura pode ser enviada direto para a mansão.

— Entendido, senhora.

Rafaela acrescentou com calma, mas sem margem para dúvida:

— Também preciso da lista completa de funcionários. Quero revisar pessoalmente, para ter certeza de que ninguém será esquecido.

Pouco depois, a lista completa de funcionários chegou à sua caixa de e-mails. Rafaela abriu o arquivo no tablet e foi deslizando o dedo lentamente pela tela, nome por nome, até que parou em um ponto específico: Clara Alencar.

Ficou alguns segundos encarando aquelas letras, os olhos frios, inalterados, como se olhasse apenas mais um dado irrelevante. Então, com um movimento leve e implacável do dedo, traçou uma linha sobre o nome e o apagou da lista.

Na tarde seguinte, a sede do Grupo Amaral foi tomada por uma surpresa. Centenas de caixas de doces finos e lembranças personalizadas chegaram ao prédio, espalhando pelo ar o perfume de manteiga e açúcar. Em poucos minutos, o clima mudou. O entusiasmo correu pelos corredores e o burburinho animado contagiou todos os funcionários.

— Meu Deus, é da Doce Encanto! Só um doce deles já custa uma fortuna!

— A senhora Amaral é incrível, olha esse presente!

— Isso mostra o quanto ela valoriza a gente. O projeto deu certo e ela já quis comemorar com todos.

O escritório inteiro parecia em clima de comemoração, risadas e comentários empolgados ecoavam por todos os lados. Mas a alegria coletiva parou de repente quando o entregador conferiu a lista e deixou a última caixa na mesa de uma colega ao lado da Clara.

Foi naquele instante que todos perceberam que só Clara havia ficado de fora.

O burburinho desapareceu de imediato, como se alguém tivesse cortado o som do ambiente. Restou apenas um silêncio carregado, pesado, que se espalhou pelo andar. Olhares disfarçados, curiosos e cheios de malícia se voltaram para ela, e aquela atenção muda era ainda mais cruel do que qualquer comentário direto.

— Como assim? A Clara não recebeu? — Alguém sussurrou.

Clara sentiu o chão sumir sob seus pés. O calor subiu para o rosto, o coração disparou, e a sensação era de estar completamente exposta diante de todos aqueles olhares. O simples fato de não ter recebido uma caixa a fazia parecer nua, julgada, humilhada.

Sem conseguir suportar mais um segundo naquela cadeira, agarrou o celular com força e saiu quase correndo para o corredor. Os dedos tremiam ao discar o número de Rafaela. Quando a chamada foi atendida, sua voz já vinha embargada, carregada de falsa inocência e um tom de quem se dizia injustiçada:

— Senhora, só pode ter havido um engano. Todo mundo recebeu o lanche, menos eu. Por que justamente fui esquecida?

A resposta veio calma, mas tão cortante que parecia gelar o ar:

— Srta. Clara, engano nenhum. A sua parte o senhor Henrique já fez questão de entregar pessoalmente, não foi?

A frase caiu como um golpe. Em segundos, toda a imagem que Clara vinha cultivando desmoronou. A garganta se fechou e ela não encontrou palavras; desligou o telefone com raiva e correu direto para a sala do presidente.

Entrou chorando, os ombros trêmulos, as lágrimas escorrendo em silêncio. Henrique levantou os olhos do documento que revisava e franziu a testa diante da cena.

— O que aconteceu? Quem foi que te fez chorar?

Clara mordeu o lábio, dizendo com a voz embargada:

— A senhora... ela mandou lanche para todos os funcionários, menos para mim. Acho que ela não gosta de mim. Mas não tem problema, eu entendo. Não faz mal.

As palavras saíam como se não ligasse, mas o rosto molhado de lágrimas desmentia cada sílaba. Era impossível não perceber que Clara implorava para ser vista como a injustiçada, e cada gesto seu gritava o papel de vítima que queria interpretar.

Henrique sentiu o sangue subir de uma vez, como se todo o corpo pegasse fogo. Não era pelo lanche, nem pelas lembrancinhas, e sim pela afronta. Rafaela ousava ridicularizá-lo diante da empresa inteira, como se desafiasse sua autoridade sem medo das consequências.

Cego de raiva, largou tudo, entrou no carro e voltou em disparada para a mansão. Escancarou a porta com brutalidade. Ao atravessar o hall, a visão que teve fez o ódio crescer ainda mais. Rafaela estava de pé, junto à entrada, com uma mala já pronta, como se cada segundo que passava ali fosse apenas a contagem regressiva para abandoná-lo de vez.

Ele avançou até a bloquear, repreendendo com a voz explodindo:

— Rafaela! O que você pensa que está fazendo? Mandar presentes para todo mundo e humilhar a Clara de propósito... está tentando me desafiar?

Rafaela ergueu os olhos para ele. Não havia mais amor, nem submissão, apenas frieza. A explicação não valia a pena. Com a calma de quem já tinha certeza da decisão, disse com clareza:

— Henrique, vamos nos divorciar.

A palavra o atingiu como um choque.

Henrique riu, incrédulo, tomado pela ira, e deu um passo à frente, os olhos cheios de desprezo.

— Você acha que pode decidir isso? Está enganada. O início e o fim deste casamento sempre dependeram de mim. Quem é você para pedir o divórcio?

Na cabeça dele, era só um capricho passageiro. Cinco anos de silêncio e obediência não poderiam acabar com uma cena dramática. Achava ridículo.

Ele a encarou de cima, rindo com desprezo.

— Terminou o teatrinho? Não se rebaixe a essa encenação barata de quem finge que vai embora. É patético. — Henrique ergueu o queixo em arrogância e completou. — Vou te dar uma chance. Guarde essa mala e podemos fingir que nada aconteceu.

Rafaela ergueu o rosto e encarou Henrique com uma calma cortante. O olhar dela o atravessou como se ele não passasse de um desconhecido incômodo, alguém sem a menor importância em sua vida.

Ela segurou firme a mala, desviou do corpo dele e continuou em direção à porta.

Aquela indiferença doía mais do que qualquer ofensa, mais do que qualquer briga. Para Henrique, era como se sua existência tivesse sido reduzida a nada. Sentiu a própria autoridade desmoronar diante de um simples gesto de desprezo.

Tomado pelo impulso, avançou de repente e agarrou o braço dela com violência, os dedos enterrando-se na pele como se quisesse esmagar os ossos. A voz explodiu em um grito:

— Mandei você parar! Acha que pode sair por essa porta e encontrar alguém melhor do que eu? Rafaela, não me desafie!

Rafaela o afastou com um movimento seco. No olhar, não havia tristeza nem hesitação, só repulsa.

Sem pronunciar mais uma palavra, Rafaela abriu a porta e saiu sem olhar para trás.
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