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Capítulo 7

Autor: Ginse
— Você acha mesmo que sou cego? — Daniel disparou, a voz carregada de irritação e um olhar que não escondia o rancor. — Vi perfeitamente vocês dois se abraçando, como se ninguém ali estivesse olhando.

Só de recordar a cena, uma onda de calor fervia dentro dele. Era impossível evitar que a imagem de Tiago envolvendo Elisa com os braços se misturasse, no seu pensamento, com as lembranças da noite passada, quando ele ainda conseguia sentir a pele dela, o calor daquele toque e o perfume que parecia permanecer no ar. Daniel sentiu o corpo inteiro reagir, o pescoço ficando quente de repente. Tentou disfarçar, afrouxando a gravata diante do desconforto que já não cabia mais dentro dele.

— Abraçando? Aquilo foi só porque um carro quase me atropelou! — Elisa arregalou os olhos, surpresa com a acusação. De repente, parou e encarou Daniel, desconfiada. — Não vai me dizer que aquele carro era seu, né?

Daniel se calou.

O silêncio foi resposta suficiente.

Um arrepio percorreu a espinha de Elisa, como se a sala tivesse ficado mais gelada. Três anos cuidando de Daniel, salvando a pele dele tantas vezes, e era assim que ele retribuía, jogando sua vida naquele perigo? Tentando machucá-la em vez de protegê-la?

Ela soltou uma risada amarga, carregada de decepção.

— Já que você viu tudo, não tem sentido fingir. — Elisa falou, quase num deboche, sem desviar o olhar. — Sim, Tiago é o meu próximo alvo. Então, faz esse favor, Daniel, agiliza logo esse divórcio. Quero correr para ele o mais rápido possível.

Daniel levou um susto. Esperava que ela fosse se defender, gritar, talvez jogar alguma coisa na sua direção. Mas Elisa simplesmente admitiu, como quem já não tinha forças para brigar ou sequer mais se importar.

Aquele gesto de rendição desarmou Daniel por um instante, mas logo acendeu o pavio da raiva de novo.

— Quando podia se aproveitar do meu dinheiro, você fazia questão de ser a esposa perfeita. Agora que acabou a moleza, me joga fora como se eu fosse lixo? É isso que represento para você, Elisa? Uma máquina de dinheiro?

— Exatamente, Daniel. — Ela respondeu com firmeza, sem sequer piscar.

Daniel ficou em silêncio, surpreso pelo ataque direto. Sentiu o sangue subir. Elisa sabia como irritá-lo e, como sempre, acertou na mosca.

A intenção dela era clara, queria atiçar Daniel até o limite e obrigá-lo a ir ao cartório ainda naquele dia.

Ela já tinha conferido com o funcionário responsável. Se não assinassem naquele dia, o pedido seria automaticamente cancelado e teria que esperar mais um mês para tentar de novo.

Imagina passar mais um mês naquele inferno? Nem pensar.

Dessa vez, Daniel realmente se irritou e, ao invés de ceder, fez justamente o contrário. Ele avançou de repente, segurou o queixo de Elisa com força e a obrigou a olhar nos seus olhos.

— Esquece. — Murmurou Daniel, frio, a palavra saindo pelos dentes cerrados.

— Como assim? — Elisa piscou, confusa com a atitude.

— Esquece o divórcio. — Completou ele, com o olhar duro. — Esse casamento foi empurrado para mim por vocês. Agora, se quiser sair, vai ter que esperar o tempo que eu quiser. Quanto mais você sonhar em ir embora, menos vou deixar você sair.

Elisa ficou sem reação. Pela primeira vez, achou que tinha ouvido errado.

"Engraçado, né? Quando era para casar, nem vi essa valentia toda.", pensou ela, mordendo a língua para não responder com mais raiva.

Respirou fundo e encarou Daniel, decidida:

— Então você está me dizendo que não vai assinar?

— Não vou, Elisa. — Daniel afirmou, sem nenhum traço de dúvida.

— Tudo bem. — Ela disse, estendendo a mão diante dele, séria. — Então paga pelo menos o que me deve. Dois meses de pensão. Dois milhões.

Daniel rebateu com um tapa na mão dela, o som foi seco, mas não tinha força.

— Nem 20 mil você vai receber. Agora dá licença, tenho trabalho para fazer.

Elisa cruzou os braços, recusando-se a sair da sala. Mas Daniel já tinha perdido a paciência e apertou o interfone:

— André, pode acompanhar a senhora Carvalho até a saída.

Instantes depois, o assistente apareceu à porta, formal e respeitoso.

— Senhora Carvalho, por aqui, por favor. — Disse André, sem levantar os olhos para ela, mantendo o tom educado.

Elisa respirou fundo, lançou um último olhar de desprezo para Daniel e saiu, sem olhar para trás.

André a acompanhou até o térreo, tratando a situação com toda a gentileza que conseguia reunir. Chamou um táxi, abriu a porta e só recuou quando o carro começou a seguir. Parecia que só ficaria tranquilo ao ver Elisa ir embora de verdade.

Antes que o táxi arrancasse, Elisa baixou o vidro.

— André.

Ele se aproximou, preocupado, inclinando-se para ouvir melhor.

— Pois não, senhora Carvalho?

— Me faz um favor, marca uma consulta com um psiquiatra para o seu chefe. Ele está precisando urgente. — Disse Elisa, oferecendo um meio sorriso, e mandou o motorista seguir viagem.

André ficou parado na calçada, atônito, observando o táxi desaparecer.

Por alguns segundos, o silêncio foi completo, só o vento animava a rua.

Ele coçou a cabeça, sem entender: "Mas por que isso agora? Sempre tratei ela com respeito. Será que fiz alguma coisa errada? Pedir uma consulta para o chefe... será que ela quer que eu acabe demitido?"
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