Capítulo 2

Instintivamente, tentei fechar a porta, sem vontade de me envolver com ele.

Mas Wilson foi mais rápido, bloqueando a porta com o pé e me encarando com a testa franzida.

— Você está me evitando? Por quê? — Ele se aproximou um pouco, examinando-me com atenção. — Está com raiva? Por causa da Sófia?

Balancei a cabeça apressadamente para negar.

— Não estou com raiva. Fico feliz pelo tio. Vocês finalmente ficaram juntos.

A emoção em seus olhos era indecifrável, como se estivesse insatisfeito com a minha resposta.

— Está falando sério? Tem certeza de que não está sendo sarcástica? — Em seguida, ele zombou. — Carla, não me diga que você ainda não me esqueceu. Na sua festa de dezoito anos, você aproveitou que estava bêbada para me beijar às escondidas. Acha que eu não sei?

— E todas aquelas cartas de amor que você me escreveu secretamente ao longo dos anos, eu li todas. Você pensa que se disfarçou bem, mas o amor em seus olhos era tão óbvio. Quem nesta casa não percebeu que você gosta de mim?

— Não ter se declarado para mim foi a decisão mais correta da sua vida, porque eu realmente teria rido de você!

— Rido da sua pretensão.

Depois de dizer isso, ele começou a rir sozinho. Em seguida, contornou-me, foi até a escrivaninha e abriu com um puxão a gaveta de baixo.

Wilson pegou um grosso maço de cartas de amor e as jogou pelo chão, pisando em cima delas.

— Carla, eu te criei desde os sete anos de idade, e você, tão jovem, nutriu sentimentos inadequados por mim, seu tio!

— Você sabia muito bem que meu coração pertencia apenas à Sófia e ainda assim me escreveu cartas de amor às escondidas. Sabe de uma coisa? Você me dá nojo!

Ele então se inclinou e sussurrou em meu ouvido:

— Eu vim aqui para te dizer uma coisa: ontem, quando eu estava sob o efeito daquele veneno, vi o desejo nos seus olhos. Eu sei que você queria se oferecer como antídoto! Mas, felizmente, você não o fez. Caso contrário, eu sentiria nojo pelo resto da minha vida, porque você não é digna de me servir!

Meu coração se contraiu subitamente, doendo com intensidade.

Embora nesta vida eu não o amasse mais, ouvir aquelas palavras cruéis ainda me causava dor.

Depois de falar, Wilson me advertiu mais uma vez para manter distância dele e não deixar que Sófia tivesse ideias erradas.

Em seguida, bateu a porta e saiu.

Eu não queria ser um incômodo para eles e, de qualquer forma, precisava sair para resolver os documentos da minha viagem ao exterior. Arrumei minhas coisas e saí.

À noite, esperei propositalmente até quase as dez horas para voltar.

Assim que entrei no meu quarto, percebi que algo estava errado.

Minha cama havia sido mexida.

Então, vi que Sófia havia atualizado suas redes sociais com uma selfie deitada na cama.

A legenda dizia: "Um colchão de um milhão de reais é realmente confortável. Eu apenas mencionei que não estava dormindo bem, e ele imediatamente trocou meu colchão. Por isso é tão importante encontrar um homem que te ame!"

Ela havia levado o colchão que Wilson comprara para mim. Era um colchão feito sob medida, que ele havia encomendado no início do ano, quando tive uma recaída de uma lesão na lombar. Custou mais de um milhão.

Ele costumava ser muito bom para mim. Ele sabia o que significava tratar uma jovem que ele mesmo criou daquela maneira, mas ainda assim permitiu que eu me apaixonasse por ele.

No entanto, ele se colocava em um pedestal moral, dizendo que eu não deveria ter violado a ética ao me apaixonar por ele, meu tio.

E agora, bastou uma simples frase de Sófia para que Wilson, sem nem mesmo me avisar, mandasse trocarem o colchão.

Ao ouvir o barulho da minha chegada, Wilson apareceu na porta do meu quarto e disse, com um tom leviano:

— A Sófia tem o sono leve, então dei o seu colchão para ela. De qualquer forma, sua lesão na lombar já melhorou, tanto faz em qual colchão você dorme.

Sem levantar a cabeça, murmurei um "sim" como resposta.

Wilson franziu a testa, olhando-me fixamente.

— Carla, confesso que não estou acostumado a ver você tão compreensiva de repente. O que aconteceu com você nos últimos dias? Você não era a que mais odiava quando eu era bom com os outros? Por que não está fazendo birra desta vez? Por acaso está tramando alguma coisa?

— Estou te avisando, se você se atrever a provocar a Sófia, eu não vou te perdoar!

Só então levantei a cabeça e respondi em voz baixa:

— Eu não quero provocar ninguém. Pelo contrário, gostaria que ninguém me provocasse.

— Além disso, o tio não sempre quis que eu fosse mais ajuizada? Você deveria estar feliz com o meu comportamento agora, não é?

Wilson apertou os lábios e, parecendo contrariado, disse repetidamente:

— Ótimo, ótimo, ótimo! Carla, você está ótima!

Ele bateu a porta e desceu as escadas. Sempre que ele falava assim, significava que estava com raiva.

Mas, desta vez, eu não tinha mais a intenção de agradá-lo.

Para mim, se ele estava com raiva ou não, já não importava mais.

Porque em breve, eu iria embora.