Share

Promessas na Lama
Promessas na Lama
Author: Sardinha Tranquila

CAPÍTULO 1

Author: Sardinha Tranquila
No dia da minha festa de aniversário, meu irmão e meu amigo de infância se uniram para me empurrar escada abaixo, tudo só pra ver a filha adotiva sorrir.

O irmão com quem sempre pude contar olhou pra mim, caída no chão e coberta de sangue, e suspirou:

— Helena, a Isabela já aceitou casar longe por sua causa. É demais eu dividir meu carinho com ela?

O amigo de infância, que já arriscou a própria vida pra me salvar, agora abraçava a adotiva e zombava de mim:

— Helena, foi só um corte na cabeça. A Isabela perdeu a felicidade da vida inteira por sua causa!

Eles me chamaram de cruel, esquecendo totalmente que foram eles que, um dia, imploraram pra eu não ir embora e buscaram a Isabela só pra me substituir.

Enquanto via os dois indo embora, completamente desiludida, liguei para o homem com quem deveria me casar por interesse:

— Sr. Gustavo, quando você vem buscar sua noiva?

— Srta. Helena, você tem certeza? Casamento não é brincadeira.

Do outro lado da linha, a voz grave do Sr. Gustavo trazia uma preocupação sutil.

Fiz de tudo para não deixar minha voz tremer e assenti:

— Tenho sim.

— Então, daqui a cinco dias, vou te buscar.

Desliguei. No celular, apareceu uma notificação com o novo status da Isabela:

“Não importa onde você se esconda, quem te ama sempre vai te trazer de volta pra casa.”

“Hoje eu sou a menina mais feliz do mundo.”

Na foto, Miguel estava levando ela nas costas de volta pra casa e Fernando, de avental, fazia comida pra ela.

Os dois rodeavam Isabela de um jeito cheio de carinho, e aos pés dela tinha uma pilha de presentes que deveriam ser meus.

Soltei um sorriso amargo, sentindo o coração apertar de leve.

Depois que meus pais morreram, fiquei só com o Miguel.

Lembro de quando ele tinha só dezoito anos, segurou o choro e me abraçou forte:

— Helena, não precisa ter medo. Agora você pode contar sempre com o mano. Eu vou cuidar de você pra sempre!

Ele dava conta da empresa e ainda cuidava de mim ao mesmo tempo.

Sabendo que eu era fraca e vivia doente, ele se ajoelhava todos os dias para rezar por mim.

Quando vi o joelho dele todo machucado, chamei ele de bobo, mas ele só ria e dizia que eu era o sentido da vida dele.

E tinha o Fernando, meu amigo de infância.

Desde os sete anos, nas nossas brincadeiras de casinha, ele não aceitava outro papel além de eu ser a noiva dele.

Todo ano, no meu aniversário, ele me dava um anel.

Desde um de capim quando éramos pequenos, até os de diamante que ele manda fazer hoje, ele repete o mesmo juramento de sempre, diz que vai casar comigo.

Fui tratada como uma princesa por eles dois, cheia de mimos, amor e proteção.

Até a chegada da Isabela.

Quando a família do Gustavo sugeriu o casamento arranjado comigo, o Miguel ficou com medo de me ver ir embora e trouxe uma órfã pra ocupar o meu lugar.

Assim, a Isabela, que sempre viveu nas ruas, foi parar na nossa casa.

Miguel e Fernando, sentindo culpa, faziam de tudo pra compensar.

De roupas de luxo a joias, passaram a se preocupar cada vez menos comigo.

Fiquei parada olhando pra foto brilhando na tela, sem reação.

Em só três anos, Isabela tinha tirado de mim todo o carinho que eu já tive.

O vento gelado, misturado com a neve, entrava pelo meu pescoço. Me encolhi mais no casaco, e senti de novo o sangue escorrendo do machucado na cabeça.

O celular vibrou, era uma mensagem do Miguel:

“Helena, ainda está doendo? Foi a Isabela que quis provar que tinha coragem... a gente só...”

“Ela saiu sozinha no frio, a gente ficou preocupado. Não tivemos escolha, sinto muito que você tenha passado por isso.”

“Fica tranquila, quando ela casar com o Gustavo, você vai continuar sendo minha irmã preferida!”

Dei um sorriso forçado e desliguei a tela do celular. A foto dos três juntos, na tela bloqueada, feriu meus olhos de novo.

Naquela foto, eu sorria radiante, Miguel bagunçava meu cabelo, e Fernando segurava algodão-doce ao lado.

Eu achava mesmo que ia ser feliz pra sempre. Agora vejo que era só uma piada.

— Moça, seu machucado ainda não sarou. Melhor chamar alguém da sua família pra te buscar.

A enfermeira que cuidou da minha alta parecia desconfortável.

Forcei um sorriso:

— Eu não tenho mais família.

Restam só cinco dias. Vou aproveitar pra me despedir deles do meu jeito.

Quando cheguei em casa, os três estavam sentados assistindo TV, numa alegria só.

Miguel descascava uvas e dava uma por uma na boca da Isabela.

Fernando segurava o suco, preocupado se ela ia sentir sede.

Assim que entrei, as risadas pararam na hora.

Miguel se levantou apressado e pegou o casaco da minha mão:

— Helena, ainda tá doendo? O que o médico falou?

Ele tentou encostar a mão na minha testa, mas desviei sem pensar. A mão dele ficou parada no ar.

— Já estou bem.

Minha voz saiu fria, olhando pro chão.

O sangue que tinha assustado de manhã já tinha sido todo limpo, como se nada tivesse acontecido.

— Que bom.

Miguel recolheu a mão, e o tom dele esfriou junto.

— A Isabela é frágil, não assusta ela.

Fernando, no reflexo, se colocou entre mim e a Isabela, mas travou ao ver o curativo na minha cabeça:

— Helena, o médico não falou que você precisava de repouso? O que você tá aprontando agora?
Patuloy na basahin ang aklat na ito nang libre
I-scan ang code upang i-download ang App

Pinakabagong kabanata

  • Promessas na Lama   CAPÍTULO 8

    A força dela era tanta que as unhas afundaram na minha pele, doendo de verdade. Não consegui segurar e acabei puxando o ar de dor.Arranquei a mão dela com força e falei, fria:— Já deu, Isabela, não acha? Veio pra família há só três anos e já esqueceu seu lugar?— No fim das contas, você é só uma filha adotiva. Que história é essa de “meu irmão”, “meu casamento”? Você acha mesmo que merece?— Mentirosa! — Ela gritou, desfigurada de raiva. — O Fernando já pediu minha mão! O mano prometeu que ia deixar eu usar o sobrenome dele!— Eu tava tão perto… Só mais um pouco e eu ia ter uma família, um irmão, alguém pra amar. Por quê?!— Naquele tempo, eu devia ter acabado com você!Ela chorava de um jeito dramático, mas por trás do choro tinha uma raiva assustadora.Olhando pra ela assim, tão digna de pena quanto de nojo, só consegui sentir asco.— Só mais um pouco? Acabar comigo? Olha só, Isabela, finalmente você admite.Soltei uma risada fria, desmascarando ela sem nenhuma piedade.— Você acha

  • Promessas na Lama   CAPÍTULO 7

    O primeiro a aparecer foi meu irmão, Miguel. Ele surgiu de repente na minha frente, com uma enorme quantidade de tulipas, minhas flores favoritas de antigamente, e os olhos vermelhos de tanto chorar.— Helena, me perdoa, a culpa foi toda minha. Vamos pra casa juntos de novo?Olhei pra ele, naquele estado lamentável, e não senti nada além de repulsa.Peguei as flores da mão dele, dei um sorriso frio e joguei tudo no lixo sem pensar duas vezes:— Agora você fala isso, Miguel? Não acha que é tarde demais?— Você não tem já sua irmã perfeita, a Isabela? Por que vem aqui fingir esse amor todo de irmão?Ele se ajoelhou ali mesmo, agarrando minha saia, chorando como uma criança:— Helena, eu sei que errei! Você é tudo que eu tenho no mundo, me perdoa, por favor!— Os nossos pais tão olhando por nós lá de cima. Eles não iam querer ver a gente desse jeito!Soltei a mão dele com nojo, minha voz saiu gélida:— Miguel, quando você vendeu a casa da família por causa da Isabela, você lembrou dos nos

  • Promessas na Lama   CAPÍTULO 6

    Eu peguei todas aquelas mensagens absurdas que a Isabela tinha mandado, encaminhei de uma vez só e, palavra por palavra, questionei:— Olha só o que ela escreveu. Isso parece coisa de uma pessoa frágil e inocente pra você?— Para de inventar coisa, Helena! A Isabela nunca foi assim! — O Fernando, irritado, já gritava.Soltei uma risada fria:— Não é assim? Então o que ela é? Uma santa falsa que rouba o noivo e o irmão dos outros?Parei um instante, e o tom da minha voz ficou ainda mais gelado:— Fernando, eu devia estar cega mesmo pra ter gostado de um cara como você, que não sabe a diferença entre certo e errado, que não entende nada da vida!— Do que você tá falando? — A voz dele já tinha mudado, ficou aflita. — Helena, deixa eu explicar, eu e a Isabela...— Não precisa, eu já entendi tudo.Cortei ele na hora:— Nossa, o pedido de casamento na beira do rio foi tão romântico... Desejo toda felicidade do mundo pra você e pra sua santinha.— Não é isso, Helena, me escuta...Ele ainda in

  • Promessas na Lama   CAPÍTULO 5

    Depois de um breve silêncio, a voz do Miguel voltou pelo telefone, em choque:— O quê? Você disse que vai ser esposa do Gustavo? Como assim?! Não era a Isabela quem ia casar com ele?!A voz do Fernando também saiu trêmula, sem acreditar no que ouvia.— Helena, você... você tá brincando, né?— E você acha mesmo que eu tô brincando? — Respondi, gelada.— Seu… seu corpo ainda não está bom, fica em casa quietinha!O Fernando mudou de tom, tentando me dar ordens.— Eu tô ótima, não precisa se preocupar.Respondi na mesma moeda, sem esconder a frieza.— Helena Ribeiro! Volta pra casa agora, para com essa maluquice!O Miguel começou a gritar junto.Dessa vez, desliguei o telefone na cara deles e desliguei o aparelho. O silêncio finalmente tomou conta do mundo.O Maybach preto seguia suave pela estrada para Cidade P. Do lado de fora, tudo passava rápido, mas por dentro eu estava estranhamente calma.Ao chegar, já tinha uma equipe esperando, todos me receberam com respeito e me levaram para a C

  • Promessas na Lama   CAPÍTULO 4

    A voz do Miguel veio pelo telefone, já impaciente.Drama?Apertei o celular com mais força, repetindo essa palavra na cabeça. Que gosto amargo.Esses dias todos deitada no hospital, parecia que todos os ossos do meu corpo tinham sido triturados, a dor era insuportável.Mas o meu irmão, meu único parente, diz que eu tô fazendo drama?Talvez percebendo que exagerou, o Miguel amoleceu um pouco:— Eu sei que você passou por muita coisa, mas a Isabela não fez por mal. Você precisa ter mais paciência com a mana.— Eu não consegui voltar pra casa esses dias... sei que você ficou mal...Ele parou, ficou pensando no que ia dizer, e soltou um suspiro pesado:— Ai, Helena, quando é que você vai crescer, hein?— A Isabela já vai casar. Como irmão, só quero ficar com ela mais esse tempo, não posso?Não respondi. Tirei o fone do ouvido, entrei no carro sem olhar pra trás.Assim que fechei a porta, tudo lá fora ficou pra trás, inclusive a voz do Miguel ainda tagarelando.Fechei os olhos, respirei fun

  • Promessas na Lama   CAPÍTULO 3

    Miguel falou com um tom duro, misturando autoridade de irmão mais velho e um nervosismo que talvez nem ele percebesse.— Desde quando você tem amigo homem e eu não sei?Fernando, cheio de ciúmes, não escondia que nunca gostou de me ver perto de outros caras.— Um colega do trabalho, só estávamos falando de serviço.Falei só pra enrolar mesmo, e os dois ficaram visivelmente aliviados.— Se estiver muito cansada, para de trabalhar. Eu posso te sustentar.Miguel passou a mão no meu cabelo, do jeito carinhoso de sempre.— É, não é muito melhor ficar com a gente do que com esses estranhos por aí?Fernando entrou na onda, já animado falando com o Miguel sobre me levar pra passear fora da cidade.Assim que os dois se afastaram, a Isabela largou de vez o papel de frágil e sorriu com deboche:— Acha mesmo que com esse tipo de truque você vai chamar a atenção deles?— Advinha, se eu me machucar agora, você acha que eles vão acreditar em você ou em mim?Antes que eu pudesse reagir, Isabela levant

Higit pang Kabanata
Galugarin at basahin ang magagandang nobela
Libreng basahin ang magagandang nobela sa GoodNovel app. I-download ang mga librong gusto mo at basahin kahit saan at anumang oras.
Libreng basahin ang mga aklat sa app
I-scan ang code para mabasa sa App
DMCA.com Protection Status