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Capítulo 6

Author: Peixe Dourado
Margarida soltou uma risada suave:

— Então eu teria que me casar com o seu pai para poder ser sua mãe. Você quer que ele se case comigo?

Diego respondeu sem hesitar, com toda a inocência de uma criança:

— Eu vou pedir para o papai se divorciar da mamãe agora mesmo, assim você pode ser minha mãe!

Sabrina ouviu a conversa do lado de fora e não conseguiu evitar um sorriso frio.

Diego, tão pequeno, ainda não sabia que Margarida era, na verdade, sua mãe biológica. Foi Margarida quem o abandonou, deixando-o nas mãos de Afonso para que ela pudesse focar em sua carreira e em seus estudos.

Sabrina tinha que admitir que Margarida era uma mulher cheia de artimanhas. Ela conseguiu manter sua vida pessoal, seus estudos e ainda garantir que Afonso ficasse ao seu alcance.

— Eu achei que você não viria ao hospital.

A voz masculina, fria e carregada de sarcasmo, soou atrás dela.

Sabrina se virou e viu Afonso. Ele estava impecável, como sempre, vestindo um terno preto que ressaltava sua elegância natural.

Em um passado não tão distante, ela teria ficado feliz em vê-lo, provavelmente até tentaria agradá-lo.

Mas agora, ao olhar para ele, Sabrina sentiu apenas desgosto e mágoa.

Foi ele quem ignorou Cecília por tanto tempo. Na vida passada, sua indiferença havia levado Cecília a esperá-lo em uma noite de nevasca, o que acabou causando a febre alta que evoluiu para uma pneumonia fatal.

E hoje, na escola, ele novamente ignorou a filha com febre, escolhendo levar Diego ao hospital sem sequer verificar como Cecília estava.

Se ele realmente se importasse com Cecília, teria notado que ela também precisava de cuidados.

Afonso a observou da cabeça aos pés, notando suas roupas ensopadas pela chuva. Sua expressão permaneceu indiferente, e ele disse com uma voz tranquila:

— Você saiu da família Barreto, mas ainda consegue se colocar em situações lamentáveis. Diego está no quarto. Se quiser, pode entrar para vê-lo.

Sabrina respirou fundo, tentando se controlar, mas logo respondeu com um sorriso frio:

— Ele não é meu filho. Por que eu deveria vê-lo?

Antes que Afonso pudesse reagir, Sabrina se virou e saiu sem olhar para trás.

Nesta vida, ela não cometeria o erro de esperar que Afonso cuidasse de Cecília. E, mais importante, ela não tinha mais esperanças de que ele um dia olharia para elas com carinho.

Na vida passada, foi a frieza dele que custou a vida de sua filha. Sabrina não deixaria que isso acontecesse novamente.

Margarida saiu do quarto naquele momento e viu Sabrina indo embora. Com um sorriso nos lábios, perguntou:

— Sabrina está chateada comigo de novo? Será que é porque eu estou aqui e ela não gosta?

Afonso desviou o olhar, sem demonstrar nenhuma emoção:

— Não, não é por você. Não é nada demais.

Margarida deu um passo à frente e disse, com uma expressão preocupada.

— O médico disse que o Diego tem intolerância à lactose, o que causou a diarreia e os vômitos. Além disso, ele teve uma reação alérgica aguda por causa de sua sensibilidade a ácaros. Os exames de sangue mostraram que ele parou completamente de usar os banhos terapêuticos para alergias. — Ela fez uma pausa antes de continuar. — Se Sabrina não voltar para casa, eu posso ir lá e preparar os banhos para ele.

Afonso não respondeu, mas também não recusou a sugestão.

...

Quando Sabrina voltou ao quarto onde Cecília estava, a menina levantou a cabeça e perguntou, cheia de expectativa:

— Era o papai? Ele veio me ver?

Sabrina sentiu o coração apertar ao ver o olhar esperançoso da filha. Como ela poderia dizer que Afonso estava ali apenas para cuidar de Diego e não tinha a menor intenção de ver Cecília?

Sabrina sentou-se ao lado da cama e falou com a voz suave:

— Querida, eu sei que você gosta muito do papai, mas ele está muito ocupado com o trabalho. Ele não teve tempo de vir ver você.

Os olhos de Cecília perderam o brilho. Ela abaixou a cabeça e apertou o lençol com as pequenas mãos.

— O papai nunca gostou de mim, né? — Cecília perguntou com a voz trêmula. — Não importa o quanto eu tente agradar o Diego ou o papai, eles nunca gostam de mim. É porque eu não sou boa o suficiente?

Sabrina passou a mão pelos cabelos da filha com delicadeza e respondeu:

— Cecília, você é incrível. Não há nada de errado com você. Mas você precisa entender que não podemos fazer com que todas as pessoas gostem de nós. Ninguém tem a obrigação de gostar de você, nem mesmo o seu pai. Por isso, querida, pare de tentar agradar os outros. Não importa o que os outros pensem de você, você ainda é você. Você não precisa mudar para agradar ninguém.

Essas palavras eram difíceis para uma menina de apenas quatro anos entender completamente, mas Sabrina sabia que precisava dizer isso. Ela não queria que Cecília crescesse tentando buscar o amor de alguém que jamais lhe daria atenção.

Cecília abaixou ainda mais a cabeça, com lágrimas escorrendo dos olhos.

— Mamãe, será que um dia o papai vai voltar? Todas as outras crianças têm um pai...

As lágrimas começaram a cair ainda mais rápido, e ela soluçou:

— Mas, mas o Diego disse que eu não sou filha do papai, que eu sou uma bastarda... É verdade?

O coração de Sabrina parou por um instante.

— Não ouça as bobagens que ele diz.

Mas, por dentro, Sabrina estava furiosa. Diego era apenas uma criança, mas para dizer algo assim, alguém precisava estar enchendo sua cabeça com essas ideias.

Ela passou anos fazendo de tudo pela família Barreto, sacrificando sua própria dignidade e felicidade. Mas, no final, tudo o que ganhou foi humilhação e difamação. Isso mostrava o quão miseráveis haviam sido aqueles anos de casamento e convivência.

Cecília passou uma noite internada no hospital. Sua febre havia cedido e seu estado estava estável.

Na manhã seguinte, ela saiu da cama para dar uma volta e, enquanto caminhava pelo corredor, encontrou Diego brincando com um avião de controle remoto.

Cecília parou e ficou olhando o brinquedo, pensando: "Então esse é o presente que a tia Margarida deu para o Diego? Parece tão legal e impressionante."

Diego percebeu Cecília no corredor, ainda vestindo a roupa de paciente, e imediatamente soltou uma exclamação:

— Cecília, você é mesmo uma imitadora! Até para ficar doente precisa me copiar!

— Eu não estou te imitando! — Cecília respondeu, tentando se defender.

Diego soltou uma risada fria:

— Que pena que o papai nem se deu ao trabalho de vir te ver.

Com essas palavras, ele abaixou a cabeça e começou a pilotar o avião em direção a Cecília, tentando acertá-la.

Quando o avião estava prestes a atingi-la, Sabrina apareceu carregando o café da manhã e puxou Cecília para fora do caminho. O avião caiu com força no chão e quebrou.

Cecília, assustada, olhou para Sabrina com os olhos arregalados:

— Mamãe...

Na família Barreto, Afonso sempre deixou claro que não gostava de Cecília e até mesmo proibiu a menina de chamá-lo de pai. Diego era o único que recebia carinho e atenção. Isso fez com que Cecília crescesse acostumada a andar na ponta dos pés, sempre tentando agradar a todos para evitar problemas.

Ela sabia que, naquela casa, além de sua mãe, ninguém gostava dela. Também sabia que não tinha como competir com Diego, então, desde muito cedo, aprendeu a ser obediente e discreta.

No entanto, Sabrina finalmente percebeu que havia falhado na forma como educou a filha. Antes, ela achava que Cecília era apenas tímida, já que sempre parecia alegre e falante quando estavam sozinhas.

Sabrina se ajoelhou na frente da filha e segurou suas mãozinhas:

— Cecília, de agora em diante, se alguém te machucar, você tem que revidar. Eu estarei aqui para te proteger.

Diego viu Sabrina e apertou o controle remoto em suas mãos. O olhar severo que a mãe lançou para ele o deixou desconfortável.

Sabrina olhou diretamente para Diego e ordenou:

— Diego! Peça desculpas à Cecília.

— Eu... Eu nem fiz por querer! Foi ela que ficou no caminho!

Sem Afonso e Margarida por perto, Diego não tinha tanta coragem de enfrentar Sabrina. Ele sempre achou a mãe chata, porque ela vivia o repreendendo e colocando limites em suas atitudes.

Mas, ao lembrar que o pai já havia decidido deixá-la e que agora ele tinha Margarida ao seu lado, Diego sentiu uma coragem momentânea crescer. Ele ergueu a cabeça e respondeu em tom desafiador:

— Se ela tivesse quebrado o avião que a tia Margarida fez para mim, vocês não teriam dinheiro para pagar!

Sabrina abaixou os olhos para o avião quebrado no chão. O brinquedo, que Diego parecia valorizar tanto, não passava de algo simples, fácil de fazer seguindo um tutorial.

Ela não queria discutir com uma criança, mas, naquele dia, decidiu que precisava dar uma lição em Diego para que Cecília não fosse sempre ignorada ou desrespeitada.

— Cecília, o Diego não vai se desculpar com você. — Sabrina se virou para Cecília e disse com firmeza. — Então faça o que você quiser com ele, não tenha medo.

Cecília arregalou os olhos, surpresa com as palavras da mãe.

Desde pequena, Sabrina sempre a ensinou que bater ou brigar era errado e que ela deveria ser educada e gentil com todos. Mas agora, sua mãe estava dizendo o oposto. Cecília sentiu uma mistura de nervosismo e empolgação.

Ela hesitou. Se ela realmente brigasse ou xingasse Diego, o papai ficaria ainda mais bravo com ela?

Mas então, Cecília se lembrou do que sua mãe havia lhe dito na noite anterior: "pare de tentar agradar os outros."

Com isso em mente, Cecília deu alguns passos em direção a Diego.

Diego, vendo a determinação nos olhos da irmã, começou a se sentir intimidado.

Nesse momento, Margarida apareceu no corredor carregando uma jarra de água. Ela viu o que estava acontecendo e imediatamente se colocou entre as crianças, protegendo Diego atrás de si.

— Sabrina, por que você está sendo tão dura com o Diego? Que tipo de mãe age assim? — Margarida disse, com uma expressão de falsa indignação. — Crianças brigam o tempo todo. Não precisa transformar isso em algo tão sério. Olha só, você assustou o Diego!

Enquanto Margarida falava, Afonso apareceu no corredor, carregando uma sacola de café da manhã. Ele ouviu tudo o que Margarida disse.

Seus olhos se voltaram para Diego, que agora estava escondido atrás de Margarida, tremendo levemente. Afonso franziu a testa, claramente incomodado com a situação.

Sabrina soltou uma risada fria e abriu a boca para responder, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, uma voz fria e autoritária soou atrás dela:

— O hospital não precisa de você aqui. Leve Cecília para casa agora.
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