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Capítulo 2

Author: Anônimo
Na manhã seguinte me dirigi ao hospital bem cedo, determinada a resolver aquela situação de uma vez por todas.

Havia acabado de pagar a consulta e aguardava minha vez para a cirurgia quando vi Gustavo saindo da sala de ultrassom com Isadora, amparando-a com o cuidado de quem protegia algo precioso.

Eles se sentaram numa cadeira próxima para examinar o resultado do exame, enquanto Isadora apontava detalhes no papel e explicava algo que fazia Gustavo prestar atenção com toda seriedade, anotando informações no celular como um futuro pai zeloso.

Aquela cena me fez levar a mão ao próprio ventre por reflexo, enquanto uma onda de amargura tomava conta do meu peito.

Decidida a não me torturar assistindo àquele teatro, me virei para ir embora, mas naquele exato momento, Gustavo ergueu a cabeça e nossos olhares se cruzaram.

Ele se levantou num salto, franzindo a testa com desconfiança evidente.

— Você está me seguindo? — Perguntou ele, sem disfarçar a irritação.

Antes que eu conseguisse responder qualquer coisa, Isadora puxou a manga da camisa dele, falando com voz trêmula de nervosismo, tentando se levantar para vir na minha direção:

— Gustavo, será que a Rafaela não está entendendo tudo errado? Deixa eu ir conversar com ela, não podemos deixar isso prejudicar o casamento de vocês.

Gustavo a segurou pelos ombros com firmeza, impedindo qualquer movimento brusco.

— Você está grávida, precisa ficar quieta, aí sentada. Deixa que eu resolvo isso com a Rafaela. — Respondeu ele, assumindo aquele tom protetor que nunca usava comigo.

Sem paciência para assistir mais daquele melodrama, me virei de novo para sair dali, mas Gustavo agarrou meu pulso numa pegada que me fez tropeçar e quase cair.

Quando consegui recuperar o equilíbrio, me vi cara a cara com Gustavo, que me encarava com uma raiva que parecia incendiar seus olhos.

— Rafaela, ontem à noite expliquei tudo nos mínimos detalhes, como você ainda não conseguiu entender a situação? E agora aparece aqui no hospital me perseguindo. — Repreendeu ele, cada palavra carregada de acusação.

Arranquei meu braço da mão dele com força, percebendo que meu pulso já estava vermelho e dolorido.

— Sinto muito te decepcionar, mas não tenho esse tempo livre para ficar seguindo vocês por aí, você está delirando. — Retruquei, tentando manter a voz calma.

Gustavo obviamente não engoliu minha explicação.

— Então me explica o que está fazendo no hospital. — Exigiu ele, cruzando os braços.

Ergui o comprovante de pagamento que estava na minha mão, mostrando para ele com toda tranquilidade.

— Vim me consultar.

Gustavo franziu ainda mais a testa, claramente confuso.

— Você está doente e não me contou nada? — Questionou ele, estendendo a mão para tentar arrancar o papel de mim.

Mas antes que ele conseguisse, Isadora apareceu ao meu lado com lágrimas escorrendo pelo rosto, segurando minha mão numa encenação perfeita.

— Rafaela, depois que o Valentino morreu, me senti tão sozinha no mundo. Só queria ter um bebê para me fazer companhia, por isso pedi ajuda ao Gustavo, jamais tive intenção de destruir o casamento de vocês. — Disse ela, com a voz embargada de emoção.

Pensei comigo mesma que se Isadora realmente quisesse apenas ter um filho, poderia ter recorrido a qualquer banco de esperma da cidade, mas ela fez questão de escolher o esperma do Gustavo.

Sem falar na forma íntima como ela se referia a cada um de nós, como se já fossem uma família.

Quando a pessoa abria finalmente os olhos, conseguia enxergar uma infinidade de detalhes que antes passavam batido.

Contive a ironia que brotava no meu peito e retirei minha mão da dela com delicadeza.

Mas Isadora aproveitou meu movimento para soltar um grito dramático e se deixar cair para trás, sendo prontamente amparada por Gustavo, que a envolveu nos braços como se ela fosse se quebrar.

— Isadora, você está bem? Machucou alguma coisa? — Perguntou ele, com o coração disparado de susto.

Isadora se agarrou ao pescoço dele, permitindo que as lágrimas brotassem nos seus olhos.

— Estou bem, Gustavo, só não esperava que a Rafaela fosse capaz de... — Murmurou ela, deixando a frase no ar.

Gustavo explodiu na mesma hora, me encarando com uma fúria que eu nunca havia visto antes.

— Rafaela! A Isadora está grávida, você tem noção disso ou não? Como você pode ser tão cruel assim!

Eu jamais imaginaria que Isadora fosse capaz de usar aquele tipo de golpe baixo, muito menos que Gustavo fosse acreditar nela sem questionar nada.

Olhei para os dois com toda frieza que consegui reunir.

— Eu não encostei um dedo nela. — Declarei, mantendo a voz firme.

Minha resposta só serviu para deixar Gustavo ainda mais furioso.

— Eu vi tudo com meus próprios olhos e você ainda tem coragem de negar? Ainda bem que consegui segurar ela a tempo, porque se alguma coisa acontecesse com a Isadora ou o bebê, eu jamais ia te perdoar! Pensei em esperar você terminar sua consulta para voltarmos juntos para casa, mas agora pode ir sozinha mesmo. Vou levar a Isadora para casa e cuidar para que ela descanse! — Anunciou ele, se afastou carregando Isadora.

Quando vi toda aquela preocupação estampada no rosto dele, uma preocupação que ele nunca demonstrava por mim, resolvi fazer uma última pergunta.

— Gustavo. — Chamei ele, fazendo-o parar e se virar. — Se eu te dissesse que estou grávida e vim aqui hoje para fazer um aborto, você largaria tudo e ficaria comigo?
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