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Capítulo 2

Author: Álamo
Do outro lado da linha, a voz de Pedro soava ansiosa, interrompendo minhas lembranças.

— Você vai ou não? Diz alguma coisa, vou buscar a Natália e levá-la pra casa.

Na vida passada, eu nem tinha percebido, Pedro estava tão apressado para que eu fizesse esse favor e, depois, tão rápido em me culpar, como se temesse que isso acabasse envolvendo a Natália.

"Será que tudo isso também tinha a ver com Pedro?"

Ao pensar nisso, senti um calafrio percorrer meu corpo.

Pelo canto do olho, observei Natália. Ela não conseguia esconder o nervosismo, seu olhar se desviava constantemente para o quarto 302, como se estivesse escondido um grande segredo ali.

Limpei a garganta, tentando parecer tranquila.

— Não dá, acabei de sair do plantão na emergência ajudando o pessoal, estou exausta. Além disso, tenho pacientes para cuidar, não posso ajudar.

Natália não esperava minha recusa e se virou surpresa, o rosto imediatamente ficou corado.

— Como assim? Aplicar um soro vai te dar tanto trabalho assim? Nem pra isso você serve?

Até Pedro, do outro lado da linha, me repreendeu com aspereza.

— Bianca, até pra um favorzinho desses você foge? E eu achando que você era minha irmã preferida.

Eu não estava disposta a perder tempo discutindo com eles, desliguei o telefone e fui cuidar de outras tarefas.

Natália revirou os olhos, murmurando entre dentes:

— Mão de vaca... nunca dá pra contar com você.

Na vida passada, eu a ajudei sem hesitar, e tudo o que recebi em troca foi sua traição.

Que outra pessoa faça esse favor, se quiser.

Natália foi até a recepção de enfermagem pedir ajuda.

Mas, por ser sempre arrogante e por frequentemente tentar passar o plantão para os outros, quase ninguém ali, além de mim, se dispunha a falar com ela.

No fim, ela nem sentia mais dor na barriga e, reclamando baixinho, foi ao banheiro.

Por que tanta pressa em passar o plantão? Será que Irineu já tinha sofrido o acidente nesse horário?

Para confirmar minha suspeita, assim que Natália saiu, coloquei as luvas e fui até o quarto 302.

À luz da lua, o rosto de Irineu estava pálido como cera.

Levantei o lençol e toquei sua pele fria, que me paralisou.

O corpo já estava rígido, mostrando sinais de morte há pelo menos uma hora.

Era uma da manhã, justamente o horário em que Natália foi aplicar o soro.

“Será que ela percebeu que tinha aplicado o soro errado e causado a morte do paciente? Era por isso que ela estava tão desesperada em passar o plantão para outra pessoa?” Ao pensar nisso, tremi inteira, tomada pelo pânico.

Minha primeira reação foi reportar imediatamente ao hospital.

Mas, ao dar o primeiro passo, rejeitei essa ideia.

Eu estava ali, sem um motivo plausível, em um quarto que não era meu. Natália tinha um péssimo hábito de culpar os outros por seus erros. Quem garantiria que ela não jogaria a culpa em mim como fez da última vez?Não era uma possibilidade, era certeza.

Depois de me certificar de que ninguém tinha notado minha presença, saí rapidamente do quarto.

Fiquei um bom tempo sentada na recepção de enfermagem, tentando me acalmar, até perceber um detalhe importante.

Se o paciente já estava morto por volta da uma da manhã, por que o laudo de Fagner indicava que o óbito ocorreu entre cinco e seis horas?

Ele era considerado um verdadeiro gênio da medicina legal, capaz de estimar a hora da morte com precisão de até uma hora, sem nunca errar.

"Como um legista tão profissional poderia cometer um erro tão grave?"
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