Capítulo 4

Os familiares me lançaram um olhar fulminante e, imediatamente, levantei a mão para me defender.

— Não pensem que foi culpa minha. Ontem à noite, não ajudei ela com a infusão. Todos aqui podem confirmar isso.

Outras enfermeiras também se manifestaram rapidamente.

— É verdade que ontem à noite a Natália pediu ajuda para a Bianca, mas a Bianca não aceitou. Foi a própria Natália que fez a infusão.

— Isso não é verdade! No fim, eu pedi de novo e ela aceitou. Por volta das cinco da manhã, vocês não estavam mais lá.

Completamente transtornada e com o sangue banhando o seu rosto, Natália disse num tom estridente:.

— Isso envolve a vida de uma pessoa! Quem aqui tem coragem de afirmar que fui eu quem administrou a infusão? — Tenho certeza de que foi a Bianca que errou na infusão. Admita que você só está jogando a culpa em mim porque está com medo das consequências.

Diante de uma situação de vida ou morte, ninguém mais teve coragem de abrir a boca.

Percebendo o olhar dos familiares se tornando cada vez mais furioso ao me encarar, tratei de esclarecer:

— Eu realmente não fui até lá. Se não acreditam, podem verificar as câmeras de segurança.

— As câmeras do corredor estão quebradas. Você só quer se livrar da responsabilidade.

Um sorriso quase imperceptível surgiu no canto da boca de Natália, como se já tivesse a vitória garantida.

De repente, tudo passou a fazer sentido. Ela já sabia que as câmeras do corredor estavam quebradas e, por isso, esperou até que as enfermeiras estivessem ausentes para entrar no quarto do paciente.

Tudo já havia sido planejado para me incriminar.

O pai de Irineu, ouvindo nossa discussão interminável, perdeu a paciência de vez.

Num acesso de fúria, ele deu um pontapé no computador da enfermaria, fazendo barulho ao bater na mesa.

— Quem foi o responsável, que venha pagar com a vida pelo meu filho!

No meio da multidão, alguém gritou:

— A polícia chegou!

Meu coração disparou, e, por entre as pessoas, vi o rosto familiar de Pedro.

Ele finalmente tinha chegado.

Ao ver que era Natália quem estava caída no chão, seu rosto se encheu de surpresa.

— Como assim, foi você quem apanhou?

Com lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto tentava estancar o ferimento, Natália suplicou:

— Irmão, juro que não fui eu quem fez a infusão. Você precisa me ajudar!

Algo estava errado. O incidente fora tão repentino que ninguém tinha tido tempo de chamar a polícia. Como Pedro chegou tão rápido? Era como se ela já soubesse que algo grave aconteceria ali?

Enquanto eu o encarava, desconfiada, Pedro se aproximou e me deu um tapa no rosto tão forte que fiquei com um zumbido nos ouvidos.

— Bianca, você me decepcionou demais. Se cometeu um erro, precisa ter coragem de assumir.

Sua voz soava distante, como se aquele Pedro à minha frente fosse um completo estranho.

Em seguida, ele se virou para os familiares e adotou uma expressão cordial.

— Em nome de Bianca, peço desculpas a todos vocês. Espero que, considerando que ela ainda é muito jovem, não sejam tão rigorosos com ela.

— Eu mesmo vou levá-la para a prisão e ela responderá pelo erro judicialmente.

Sem apurar nada, o meu próprio irmão se apressou em me condenar diante de todos. Naquele instante, eu senti como se o meu coração gelasse e partisse de vez.