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Três Anos Depois, Ele Voltou de Joelhos
Três Anos Depois, Ele Voltou de Joelhos
Author: Lira Celestial

CAPÍTULO 1

Author: Lira Celestial
Hospital.

Heloísa Valente estava parada diante de uma tela de TV, segurando com força o exame que acabara de pegar.

O resultado mostrava que...

Seu problema de audição não só não melhorara, como ainda havia piorado.

Em contraste com sua expressão vazia, na tela, uma mulher estava sentada no palco iluminado por luzes deslumbrantes, tocando piano com fluidez, e cada gesto seu revelava inteligência, elegância e beleza.

Na plateia, sentado com sua habitual elegância reservada, estava o marido de Heloísa, Simão Franco.

Casados havia três anos.

E era a primeira vez que Heloísa o via olhar para uma mulher com tanta ternura.

Seu coração... despencou.

Ao lado, a mãe, Fabiana Lopes, não parava de reclamar:

— Como pode ter piorado? Você não está tomando os remédios direito? Está faltando às sessões de reabilitação, é isso?

— A mulher que o Simão ama já tá te passando por cima, e você ainda nem percebeu o perigo? Se continuar surda desse jeito, a família Franco vai te colocar pra fora!

— E se você e o Simão se separarem, o que vai ser da família Valente? Do seu pai?

— Fala alguma coisa!

Heloísa foi empurrada pela mãe.

Mas só conseguiu pedir desculpas, apática:

— Desculpa, mãe. Eu te decepcionei.

— Eu não quero ouvir desculpas! Quero que você melhore dessa audição e segure o posto de Sra. Franco!

— Mas eu já me esforcei tanto...

Ela seguia todas as orientações médicas, tomava punhados de remédios todos os dias, fazia as terapias direitinho...

Mesmo assim, sua audição só piorava.

Ela se tornava cada vez mais cruel, enquanto a mulher amada por Simão ficava cada vez melhor.

O que Heloísa podia fazer?

Na TV, o programa já mostrava os bastidores do evento.

Os repórteres cercavam Isadora Chaves para uma entrevista.

— Srta. Isadora, qual o motivo da sua volta ao país?

Sob o clarão dos flashes, Isadora sorria com um charme doce e provocante:

— Por alguém... e pra não ficar com nenhum arrependimento.

As duas, mãe e filha, sabiam muito bem de quem ela falava.

Fabiana explodiu, xingando a mulher de sonsa e falsa.

Depois, ainda virou para Heloísa e disparou:

— Essa vadiazinha acha que engana quem? Vou pedir pro médico aumentar sua dose, pra ver se você melhora logo essa audição!

Heloísa quis dizer que não adiantava.

O coração de Simão nunca estivera com ela, não era por causa da surdez.

Ele simplesmente nunca quis se casar com ela.

Mas no fim, ela ficou em silêncio.

Heloísa jamais esqueceu o que aconteceu três anos atrás, quando foi pega por jornalistas na cama de Simão.

O som dos cliques das câmeras ecoava pelo quarto. As perguntas dos repórteres vinham uma atrás da outra, e ela, atordoada, sem saber como reagir, encolhia-se sob o lençol, tomada pelo pânico e pela vergonha.

Simão, apoiado no cabeceiro, tragava o cigarro com calma e frieza.

Esperou pacientemente até que os repórteres tivessem fotos suficientes,

então apagou o cigarro e puxou-a para o colo.

— Já que estão tão curiosos sobre a minha vida de casal, que tal eu fazer uma demonstração ao vivo?

— Alguém aí quer assistir?

A voz dele era calma, quase preguiçosa, mas o olhar carregava uma pressão sufocante.

Os jornalistas trocaram olhares e, percebendo o risco, bateram em retirada.

Meia hora depois.

A notícia de que o herdeiro dos Franco foi flagrado em hotel com a filha doente da família Valente já estava em todos os portais.

Enquanto os internautas comentavam o gosto peculiar do Simão Franco, ele arrancava o aparelho auditivo de Heloísa e a empurrava para dentro do banheiro gelado.

A água fria caía sobre sua cabeça.

Ela tremia.

Não conseguia ouvir o que ele dizia, mas o ódio em seu rosto bastava para entender que eram insultos cruéis.

No fim, ele a jogou de volta na casa dos Valente, como se estivesse se livrando de um lixo.

Mesmo assim, apesar de todo o desprezo, Simão não conseguiu escapar do destino de ter que se casar com ela.

A família Franco tinha reputação impecável, não podia permitir que um escândalo envolvendo uma moça com deficiência manchasse seu nome.

Um mês depois.

O casamento dos dois foi realizado diante dos olhos de todos.

Heloísa sabia muito bem que tudo aquilo era uma armação da própria mãe.

Achava tudo aquilo absurdo.

Ela até tentou recusar o casamento com os Franco.

Mas, quando as coisas chegaram a esse ponto, nem mesmo Simão tinha escolha, quanto mais ela?

Assim começou essa união amaldiçoada.

Durante os três anos seguintes, Heloísa se esforçou ao máximo para ser uma boa esposa.

Cuidava dele com atenção, pensava em cada detalhe, tentando compensar com seu carinho a dívida que a família Valente tinha com Simão.

Mas, em troca, só ouviu dele uma frase fria:

— Eu não preciso de uma empregada.

Mesmo assim, ela não desistiu.

Saindo do hospital, passou pelo mercado como de costume, comprou ingredientes frescos e preparou o jantar que ele mais gostava.

O sol se despediu, e o último raio da tarde pousou sobre a mesa já posta para o jantar.

Mas Simão não voltava.

Ela enviou uma mensagem perguntando a que horas ele chegaria.

Demorou um tempo até ele responder, seco:

"Não volto hoje."

Heloísa já devia estar acostumada.

Mas, ainda assim, o coração afundou em uma pontada de decepção.

Jantou sozinha, em silêncio, depois lavou toda a louça com calma.

De volta ao quarto, tomou banho, pegou na bolsa os comprimidos com dose reforçada que o médico havia prescrito, engoliu dois, deitou-se no sofá e mandou uma mensagem para a babá da mansão da família, Regina:

— O Igor se comportou bem hoje?

Regina era a única da família Franco que ainda tratava Heloísa com um pouco de gentileza.

Sempre que ela perguntava pelo filho, a mulher enviava um pequeno vídeo para ela ver.

Na tela, o pequeno Igor Franco, de pouco mais de dois anos, aparecia lindo, mas magro demais.

Ao ver o corpinho frágil do filho, Heloísa sentiu as lágrimas brotarem.

Igor era fruto de nove meses de gestação, mas, logo após nascer, foi levado pela Senhora Denise para ser criado na mansão da família.

O motivo era simples, diziam que uma mulher surda não tinha capacidade nem direito de criar uma criança.

A Senhora Denise não apenas tomou o menino, como também proibiu que mãe e filho se vissem.

Toda vez que Heloísa morria de saudade, tinha que implorar a Simão para levá-la até a mansão da família e vê-lo por um instante.

Por isso, mesmo humilhada, ela ainda tentava agradar Simão, por causa do filho.

O vídeo era curtinho.

Ela o assistiu repetidas vezes, no fim, acabou adormecendo no sofá, com o celular nos braços.

Sonhou um sonho pequeno e doce.

Ela corria num campo verde, de mãos dadas com Igor, o menino sorria como um pequeno sol, se jogava em seu colo e chamava, entre risadinhas:

— Mamãe!

Uma cena comum para qualquer mãe.

Mas, para ela, era um sonho inalcançável.

Quando acordou, a bochecha já estava úmida de lágrimas.

Sentou-se confusa, percebendo que o céu já clareava.

Ouviu o som do chuveiro vindo do banheiro, Simão havia voltado.

Ele nunca tomava café fora, nem gostava de se atrasar para o trabalho.

Ela olhou as horas, levantou, foi ao quarto de hóspedes se arrumar e depois desceu para preparar o café.

Simão tinha o paladar exigente.

Mas Heloísa o conhecia bem.

Fez um caldo de camarão simples e nutritivo, que logo encheu a casa com um aroma suave.

O tempo foi cronometrado com perfeição.

Às sete em ponto, Simão desceu as escadas.

De terno impecável, postura firme e traços elegantes, a luz dourada do lustre desenhava suas feições com precisão, como se cada linha de seu rosto tivesse sido moldada à mão.

Havia em torno dele uma aura de autoridade, impossível de confrontar.

O olhar que lançou para Heloísa era ainda mais frio e distante que o gelo.
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