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CAPÍTULO 8

Author: Lira Celestial
Heloísa planejava fazer hora extra naquela noite, mas Yara a puxou pela mão, tirando-a da cadeira.

— Vamos, preciso te tirar desse clima pesado.

— Pra onde, exatamente? — Heloísa não parecia animada.

— Fiquei sabendo que vai ter um show de fogos na Avenida Beira-Rio, quero te levar pra ver.

— Não é você quem quer ir?

— Dá no mesmo. Anda logo.

Heloísa arrumava suas coisas enquanto balançava a cabeça, sem saber se ria ou suspirava:

— Agora entendo por que o seu estúdio continua capengando depois de três anos.

— Ah, não fala assim. Trabalho é só um detalhe, o que importa é viver bem. A gente só tem uma vida, tem que aproveitar.

— Tá bom, tá bom, você venceu. — Heloísa assentiu em concordância.

No fundo, Heloísa a invejava um pouco.

Yara podia não ter muito dinheiro, mas tinha pais e um irmão que a amavam, ninguém a pressionava pra nada.

Trabalhava quando queria, descansava quando não.

Ganhava o suficiente pra viver, e isso bastava.

Desde que não se casasse, sua qualidade de vida não mudaria.

Uma vida simples e feliz assim, era algo que Heloísa só podia desejar de longe.

Na vida dela só havia um pai doente, uma mãe egoísta e interesseira, um irmão que pensava apenas em si mesmo, um marido indiferente e um filho que mal a conhecia…

Com tanto peso no coração, nem os fogos pareciam bonitos.

Por mais que Yara insistisse, explicando que aquele show de fogos era combinado com drones, algo nunca visto, realmente grandioso, e apesar dos gritos de admiração por todos os lados…

Heloísa só conseguia pensar que, no fim, eram apenas fogos de artifício, belos, mas passageiros. Por mais deslumbrantes que fossem, logo desapareceriam no ar.

Mesmo assim, esforçou-se pra sorrir, pra não estragar o momento da amiga.

Quando o espetáculo chegou ao auge, ouviu atrás de si uma vozinha familiar:

— Foguinho... bonito... madrinha bonita!

A vozinha se misturava aos gritos e aplausos da multidão, mas Heloísa reconheceu de imediato, era o som do seu filho, Igor.

Sem perceber, virou-se.

E lá estavam, Simão com Igor nos braços, ao lado de Isadora.

Os três juntos, como uma família perfeita, formavam uma cena tão harmoniosa e radiante quanto os fogos no céu.

Isadora segurava a mãozinha do menino, sorrindo:

— Então o Igor gosta mesmo de fogos, é? Vai agradecer o papai por ter trazido a gente pra ver?

— Obrigado... papai! — O garotinho respondeu, animado, dando-lhe um beijo no rosto.

Simão riu.

Depois de uma semana sem vê-lo, o garotinho parecia um pouco mais rechonchudo.

Pelo visto, Isadora realmente vinha cuidando dele com dedicação, e cuidando muito bem.

Heloísa estava a quatro ou cinco fileiras de distância deles.

Eles não a haviam notado.

Ela pretendia fingir que não os tinha visto, mas, ao se virar, acabou cruzando o olhar de Simão.

Um novo clarão iluminou a margem do rio, o céu virou dia.

E, por um instante, nada pôde ser escondido no olhar de um e de outro.

Ele, frio e contido.

Ela, cansada e quebrada.

O tempo pareceu parar.

Os fogos continuavam explodindo no céu, um após o outro.

Igor ria de alegria, e Isadora também, sorria, radiante, de pura felicidade.

Heloísa foi puxada de leve e só então voltou a si.

Virou a cabeça para Yara.

Yara, furiosa, disse:

— Fica aqui e espera por mim, que eu vou cortar a mão daquela mulher pra você.

Heloísa olhou para Isadora.

Isadora segurava a mãozinha de Igor, tão carinhosamente que pareciam mãe e filho.

— Para com isso.

Ela puxou Yara de volta às pressas.

— Não foi você que me mandou largar aquele canalha e trabalhar direito? Agora eu larguei, e é você quem não consegue largar?

Yara ficou sem palavras.

— Já chega, aproveita o show de fogos.

Heloísa forçou o corpo de Yara a se virar.
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