Tous les chapitres de : Chapitre 1 - Chapitre 10

No escritório, Alexandre Montenegro fitava com paixão a foto de Letícia Cardoso, os olhos carregados de amor profundo e arrependimento.— Vendo Letí tão feliz, fiquei satisfeito.O secretário, sem jeito, perguntou:— Você nunca teve medo de que a senhora descobrisse que foi você quem mandou causar o acidente? Na época, as pernas dela estavam boas. Foi você quem a envenenou só pra que a Srta. Letícia ganhasse o prêmio de dança, e por isso ela ficou inválida.— Tudo isso já ficou pra trás. E eu vou passar o resto da vida cuidando da Selene. — Alexandre sorriu com amargura, depois de um breve silêncio.— Mas o senhor entregou a Srta. Letícia de bandeja pra outro homem, ainda assumiu a culpa pela morte do motorista. Valeu mesmo a pena? E esses dias são o aniversário de morte da mãe da senhora, não seria bom o senhor...— Chega! Pare com isso! — Interrompeu Alexandre, irritado.Eu tremia. A xícara escorregou das minhas mãos, e o café se espatifou no chão com um estrondo seco.Ao ouvir o bar

Os olhos de Alexandre estavam vermelhos, visivelmente marejados de tanto chorar.— Me perdoa, Lene... Eu não consegui proteger nosso bebê. O médico disse que foi um problema genético, que o bebê tinha uma má-formação... Foi por isso que aconteceu tão de repente. Não fica assim, meu amor. A gente ainda vai ter outro filho. — Disse, com a voz embargada.Assim que me viu acordar, me abraçou apertado, com um cuidado que parecia real.Ele me afagava as costas com delicadeza. Logo senti algo úmido no ombro — suas lágrimas molhando a minha roupa.Fiquei em choque, atordoada com tudo.Em apenas um dia, descobri que ele foi o responsável pelo meu acidente, o mesmo que destruiu meus sonhos com a dança. E agora... foi ele quem, friamente, arrancou o nosso filho de dentro de mim.Quem é esse homem, afinal?Meu grande amor ou o carrasco que vem tirando tudo de mim?A dor era tanta que mal conseguia respirar.— Lene, você tá bem? — Perguntou, assustado.Correu para chamar o médico.Depois de me exam

Depois de resolver tudo, fui até um hospital especializado em ortopedia.Durante todos esses anos, Alexandre sempre fez questão de manter médicos particulares ao meu redor. Quando fui diagnosticada com uma deficiência permanente, nunca passou pela minha cabeça que ele poderia estar por trás disso.Mas agora, lembrando de tudo. Sempre que eu dizia estar sentindo algo nas pernas, ele ficava radiante — dizia que era um bom sinal, e imediatamente chamava seu médico particular.Hoje eu percebo: toda vez que ele fazia isso, era só pra garantir que meu quadro piorasse.No hospital, o novo médico fez uma série de exames, analisou com atenção e, depois de um tempo, me chamou para conversar:— Suas pernas estão debilitadas, sim, mas tem algo estranho aqui. Aparentemente, seu corpo foi mantido sob efeito de medicação por muito tempo. Isso pode ter causado ou agravado o quadro. Mas, se você estiver disposta a encarar um processo intenso de fisioterapia e muita dor, talvez exista uma pequena chance

Enquanto isso, eu já havia desembarcado e finalmente cheguei até meu mentor.Meu número de celular fora cancelado há tempos, então, eu não fazia ideia das dezenas de ligações desesperadas que Alexandre vinha fazendo.Meu mentor, sabendo da minha condição física, me esperava no aeroporto desde cedo.Ao me ver depois de tantos anos, seus olhos pousaram nas minhas pernas — e ele soltou um suspiro profundo.Pude ver com clareza que seus olhos estavam úmidos.Era dor. Era cuidado.Respirei fundo, deixando o ar novo invadir meus pulmões. Pela primeira vez em muito tempo, senti que minha vida estava sob meu controle.Sem amarras, sem olhos me vigiando, sem ninguém me dizendo o que eu deveria ou não ser.Agora, finalmente, eu podia viver por mim.Abracei meu mentor com força, e ele retribuiu, batendo firme em meu ombro.— Selene, agora que voltou... viva. Trabalhe. Mas, acima de tudo, viva. — Disse ele, com seriedade.Olhei em seus olhos e assenti com firmeza.Ele me levou de volta ao nosso in

Letícia sentiu um calor úmido escorrer sob o corpo. Naquele instante, ela soube, a vida do seu filho estava escapando lentamente.— Por favor... salva o meu filho... — Implorou, a voz tremendo de desespero.Mas Alexandre permaneceu calado. Durante todos esses anos, Letícia usou do sentimento que ele tinha por ela para fazer exigências sem fim. E ele, por amor, sempre cedeu. Mas dessa vez não mais.Ela o encarava com ódio, vendo nele alguém que agora jogava toda a culpa em cima dela, como se ele nunca tivesse feito nada errado.— Você se acha tão apaixonado, tão justo, não é? Acha que tudo isso foi culpa minha? Fui eu que te mandei atropelar a Selene e a mãe dela? A Selene sobreviveu, mas passou o resto da vida aleijada. Você sempre dizia que fazia tudo por mim, mas quando foi que eu pedi pra você matar alguém? — Nunca! Você se faz de nobre, de sofredor, mas nunca teve coragem de encarar os próprios erros. Teve todas as chances de consertar as coisas, de lutar por ela, por nós... Mas n