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Capítulo 4

Author: Pequeno Monstro
Os avós de Breno, ambos professores universitários, nunca gostaram da vida na cidade. Após a aposentadoria, escolheram morar no interior. Tinham uma saúde excelente e costumavam viajar com frequência, explorando montanhas e conhecendo novos lugares.

Se foi. Mas foi para viajar ou...

— Estou a vinte minutos da entrada do condomínio. Arrume algumas roupas para mim. — A voz de Breno estava séria, com uma melancolia que Hana nunca havia ouvido antes.

Se ele fazia tanta questão de que ela fosse junto, certamente não era algo trivial.

— Tudo bem. — Hana respondeu rapidamente, desligou o telefone e saiu da cama para começar a arrumar as coisas.

Ela vestiu-se o mais rápido que pôde e pegou uma bolsa de viagem, onde colocou algumas roupas. Logo depois, correu até o quarto de Breno.

Sem encontrar a mala dele, e com o tempo apertado, ela decidiu não se preocupar se Breno se importaria ou não. Pegou algumas roupas dele e as colocou junto com as dela na mesma bolsa.

Poucos minutos depois, Hana já estava na entrada do condomínio, esperando ao lado da guarita. Ela havia esquecido o guarda-chuva, e a garoa fina começava a engrossar, acompanhada de um vento frio que fazia seu corpo tremer.

O carro luxuoso e familiar de Breno estacionou na calçada. Hana correu até ele, segurando a bolsa de viagem com força.

Breno desceu do carro, contornou a frente do veículo e foi ao encontro dela.

— Eu não encontrei sua mala. Coloquei suas roupas junto com as minhas... — Hana começou a explicar, mas antes que pudesse terminar, Breno pegou a bolsa de suas mãos e a jogou no porta-malas.

Ele fechou a porta do porta-malas com força e abriu a do passageiro.

— Entra. — Ordenou ele, sem rodeios.

Hana hesitou por um segundo, mas logo obedeceu e sentou-se no banco da frente. O interior do carro era espaçoso, confortável e exalava um leve perfume. No entanto, o ar-condicionado estava frio, e o vento gelado aumentava a sensação de desconforto. Seu cabelo e suas roupas estavam molhados, e ela não fazia ideia de onde encontrar um lenço ou toalha no carro.

Breno entrou rapidamente, ligou o motor e colocou o cinto de segurança.

— Coloque o cinto. — Disse ele, enquanto ajustava o retrovisor.

Hana puxou o cinto e o encaixou apressadamente. O carro avançava em alta velocidade, e os faróis iluminavam a fina garoa à frente, fazendo parecer que milhares de pontos brancos flutuavam na escuridão. O limpador de para-brisa movia-se lentamente, enquanto o silêncio preenchia o interior do carro.

Hana encostou-se no banco, cruzando os braços e esfregando-os levemente para se aquecer.

Breno, com os olhos fixos na estrada, estendeu a mão e pressionou um botão no painel à sua frente. Um compartimento secreto se abriu, revelando lenços de papel, máscaras e um pequeno frasco de álcool em gel.

Hana ficou surpresa. Ela virou a cabeça para olhar Breno. No ambiente escuro, o perfil dele parecia ainda mais austero e inatingível. Ele sabia que ela precisava de lenços?

— Obrigada. — Disse Hana, em um tom baixo e suave, enquanto pegava um lenço para secar o cabelo e a roupa.

Depois de usar o lenço, ela o guardou no bolso para não sujar o carro e fechou o compartimento. Encostou-se na janela, olhando as gotas de chuva que escorriam pelo vidro.

Breno ajustou o controle de temperatura, aumentando o calor no carro. Aos poucos, o ar frio deu lugar a um ambiente mais aconchegante.

Quatro horas de viagem. Para duas pessoas que mal conversavam, o trajeto parecia interminável.

Hana, acostumada a dormir cedo, não conseguiu resistir ao cansaço e acabou adormecendo sem perceber. Foi despertada por um toque leve em sua mão e pela voz de Breno:

— Chegamos.

Hana abriu os olhos imediatamente e percebeu que seu banco havia sido ajustado para uma posição quase deitada. Sem saber quando isso aconteceu, ela se sentou apressadamente.

Breno já havia descido do carro e fechado a porta. Hana soltou o cinto de segurança, desceu rapidamente e o seguiu.

Eram três da manhã.

A casa da família Moura, uma grande propriedade no estilo de uma villa rural, estava completamente iluminada. Na entrada, vários moradores da vila estavam sentados, ajudando com os preparativos da cerimônia.

Hana nunca havia participado de um funeral na família de Breno antes. Desconhecendo as tradições e os costumes locais, ela se aproximou instintivamente de Breno, temendo cometer algum erro.

Uma mulher de meia-idade, um pouco acima do peso, veio correndo até eles.

— O neto mais velho da família Moura e a esposa dele chegaram!

— Sra. Renata. — Breno cumprimentou-a respeitosamente.

Hana seguiu o exemplo dele e inclinou levemente a cabeça:

— Sra. Renata, boa noite.

Renata, que era vizinha da família, tirou uma flor branca e a prendeu no braço de Breno enquanto falava com a voz embargada:

— Breno, foi tão repentino. Seu avô nem conseguiu se despedir. Mas agora você está aqui, pronto para prestar uma última homenagem a ele.

Depois de ajustar a flor no braço de Breno, Renata prendeu outra flor branca no cabelo de Hana.

— Hana, quando entrar, fique ao lado do seu marido para oferecer flores ao seu avô.

Hana sentiu um aperto no peito. Sua voz saiu trêmula:

— O vovô...

Ela não conseguiu terminar a frase. Durante os dois anos em que esteve casada com Breno, os avós dele haviam sido as únicas pessoas que a trataram com carinho e afeição genuína. Eles sempre a acolhiam calorosamente, especialmente durante as visitas nas festas de final de ano.

Embora não os visse com frequência, Hana tinha um afeto sincero por eles.

— Foi uma morte súbita. — Explicou Renata, com tristeza. — Ele estava sentado na sala, assistindo ao noticiário. Fechou os olhos para um cochilo e não acordou mais.

Renata, ainda emocionada, segurou a mão de Hana e a guiou para dentro da casa.

Hana sentiu o coração pesado, como se cada passo que dava a levasse mais fundo em sua tristeza.

A mansão estava repleta de objetos relacionados ao funeral. Flores de todos os tipos decoravam o ambiente, enquanto o caixão ocupava o centro da sala. A tampa estava aberta, e o avô de Breno repousava ali, com o corpo coberto por diversos panos brancos e pétalas de flores sobre eles.

De acordo com os costumes locais, era proibido retirar os tecidos que cobriam o corpo do falecido. Acreditava-se que isso poderia interferir na próxima vida.

Sob o caixão, estavam dispostos os objetos favoritos do avô em vida. Próximo ao caixão, um padre, em trajes religiosos, permanecia com uma expressão de tristeza profunda.

Renata, uma das tias de Breno, os guiou até o caixão. Hana e Breno prestaram suas homenagens, colocando flores e fazendo uma reverência ao avô.

Eles cumpriram todos os rituais, mas Hana sentia um vazio no peito por não poder ver o rosto do avô pela última vez.

Renata apontou para um grupo de cadeiras próximas:

— Breno, você e Hana podem sentar ali para a vigília. Se ficarem cansados, podem ir para o quarto descansar. Seu avô só poderá ser enterrado quando todos os membros da família estiverem reunidos.

Hana olhou ao redor, procurando por alguém.

— E a vovó? — Perguntou ela, sem ver a avó de Breno entre os presentes.

Renata suspirou profundamente antes de responder:

— De acordo com nossos costumes, quando o companheiro falece, o cônjuge não pode acompanhar o funeral. Levamos sua avó ao hospital para descansar por alguns dias. Só poderemos trazê-la de volta para casa após o enterro do seu avô.

Hana sentiu uma pontada no coração. Seus olhos ficaram marejados. "Como pode ser tão cruel?", pensou. O avô e a avó de Breno haviam passado a vida inteira juntos, profundamente apaixonados, e agora, nem mesmo após a morte poderiam se despedir um do outro.

Ela seguiu Breno até as cadeiras indicadas por Renata. Eles se sentaram com uma cadeira vazia entre os dois.

O ar estava impregnado pelo cheiro forte das flores. O som baixo e monótono do padre recitando suas preces misturava-se com as conversas sussurradas dos moradores da vila que estavam de vigília na porta. O ambiente era pesado, carregado de tristeza.

Hana não conseguiu evitar olhar para Breno. Ele estava sentado com as costas apoiadas na cadeira, as pernas ligeiramente abertas e as mãos entrelaçadas à frente do corpo. Seus ombros largos pareciam suportar uma montanha de dor, e seu olhar fixo no caixão do avô revelava olhos vermelhos e cheios de sofrimento.

Eles permaneceram em silêncio, sem fazer nada, apenas sentados, sentindo o peso da perda.

Quando o dia amanheceu, os moradores da vila começaram a chegar para prestar suas homenagens, oferecendo flores e orações ao falecido.

Hana conseguiu comer um pouco no café da manhã e no almoço, mas Breno não tocou em nada.

Já era tarde quando os pais e o tio de Breno, junto com sua família, finalmente chegaram, sem pressa alguma.

A prima de Breno, Jenny Moura, que havia crescido na cidade grande, parecia fascinada com os costumes funerários do interior. Segurando o celular, ela começou a transmitir o funeral ao vivo. Sua animação era visível, quase deslocada, enquanto descrevia cada detalhe com entusiasmo.

Os moradores da vila observavam com desagrado, mas ninguém ousava interferir. Jenny parecia alheia às críticas silenciosas, até que sua transmissão foi interrompida pelo TikTok, que suspendeu sua conta. Só então ela parou.
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