Share

Capítulo 5

Author: Pequeno Monstro
O sol já estava se pondo.

Hana sentava-se em um banco no jardim da frente, ao lado de Renata e de um grupo de mulheres da vila. Enquanto faziam coroas de flores, escutavam a missa fúnebre conduzida pelo padre local.

Onde havia mulheres, havia também as principais notícias da vila. As conversas iam desde casos de traição até quantos filhotes a cadela da esquina havia dado à luz. Nada escapava.

— Por que o enterro do seu avô ainda não aconteceu? — Perguntou uma das mulheres, dirigindo-se a Hana.

Hana balançou a cabeça, dando de ombros:

— Não sei.

Renata inclinou-se discretamente para Hana, abaixando a voz e lançando olhares ao redor, como se temesse que alguém a ouvisse:

— Vinicius Moura ainda não voltou. Ouvi dizer que ele foi escalar alguma montanha e só vai chegar em alguns dias.

— Só daqui a alguns dias? — Comentou outra mulher, franzindo o nariz com desdém. — Aqui na vila, a gente não deixa o corpo do falecido esperando tanto tempo. Que irresponsável.

Vinicius era o meio-irmão de Breno, um jovem rebelde, arrogante e despreocupado, conhecido por levar uma vida desregrada.

De repente, Renata se endireitou, apontando para um carro que acabara de parar na entrada.

— Quem é aquela? — Perguntou ela, curiosa.

Todas as mulheres se viraram ao mesmo tempo na direção indicada, inclusive Hana.

— Meu Deus! — Gritou Renata, batendo na própria coxa em um gesto de indignação.

Os olhares das mulheres se voltaram para Hana, carregados de pena, mas também de curiosidade.

Hana observou a cena à frente e sentiu o peito apertar. Era como se um peso invisível estivesse sufocando sua respiração. Suas mãos começaram a tremer ligeiramente.

Rebeca desceu do carro e correu para os braços de Breno, envolvendo sua cintura em um abraço apertado. Ela escondeu o rosto no peito dele, soluçando:

— Breno, como isso foi acontecer? O vovô se foi... tão de repente... — Chorava ela, a voz trêmula. — Quando recebi a notícia, chorei o caminho todo. Por quê? O vovô sempre foi tão saudável, tão bom para nós, sempre tão carinhoso com os netos...

Hana desviou os olhos da cena e voltou a dobrar os papéis em suas mãos. Em um lugar tão tradicional e cheio de fofocas como aquele, o comportamento de Breno e Rebeca seria o suficiente para alimentar os comentários das mulheres por anos. Talvez até criassem uma novela inteiramente baseada no que haviam testemunhado.

Renata cutucou o joelho de Hana com o próprio, visivelmente irritada. Ela sussurrou entre os dentes, cheia de raiva:

— Hana, você não vai fazer nada? Essa vadia está abraçando o seu marido na sua frente! Se fosse eu, já teria arrancado os cabelos dela e dado uns bons tapas!

Enquanto falava, Renata gesticulava, simulando o ato de esbofetear alguém no ar.

Hana sentia a mesma raiva fervendo dentro de si. Mas, considerando o tipo de relação que ela e Breno tinham, que direito ela tinha de sentir ciúmes? Muito menos de reagir.

— Olhem! — Sussurrou outra mulher, apontando para frente com um misto de indignação e prazer pela fofoca iminente.

Hana se recusou a olhar novamente. A morte do avô de Breno já a deixava suficientemente abalada.

— Meu Deus do céu! — Exclamou Renata, batendo na coxa novamente. — Breno está carregando aquela descarada para dentro de casa!

Renata levantou-se, irritada e curiosa, jogando a coroa de flores que fazia no chão.

— Vou ver o que está acontecendo! — Disse ela, determinada.

Renata sumiu para dentro da casa, enquanto as outras mulheres ficaram em silêncio, observando Hana. Trocaram olhares cúmplices, como se quisessem discutir a situação, mas respeitando a presença de Hana. Se ela não estivesse ali, já teriam começado a tagarelar.

Poucos minutos depois, Renata voltou apressada, como se fosse uma espiã trazendo informações confidenciais. Ela segurou a mão de Hana e sussurrou:

— Hana, aquela vadia estava de dieta nos últimos dias e não comia quase nada. Disse que chorou tanto no caminho que desmaiou nos braços do seu marido de fraqueza.

Uma das mulheres soltou uma risada amarga, com um sorriso cínico nos lábios:

— Fraqueza? Quem vê pensa que ela é a esposa dele.

— Hana é boazinha demais. — Disse Renata, dando tapinhas no dorso da mão de Hana. — Assim não dá certo. Se você não se impor, seu marido vai acabar sendo levado por outra.

Hana forçou um sorriso e respondeu calmamente:

— Vocês estão enganadas. O Breno e a Rebeca são apenas bons amigos de infância.

Por dentro, Hana sentia como se seu coração estivesse sendo rasgado em pedaços. Mesmo assim, ela fingiu não se importar. Aquela foi a primeira vez que defendeu Breno, mas também seria a última. No entanto, quem acreditaria em suas palavras?

A noite já estava avançada.

Vinicius ainda não havia chegado, e a família decidiu colocar blocos de gelo dentro do caixão do avô para evitar a decomposição do corpo. Os dois filhos do falecido, junto com alguns moradores da vila, planejavam revezar na vigília daquela noite.

Hana, vencida pelo cansaço, arrastou os pés até o quarto, sentindo o peso da exaustão.

Ela fechou a porta atrás de si e, naquele exato momento, Breno saiu do banheiro. Ele estava com uma toalha branca enrolada na cintura, deixando à mostra o torso musculoso e definido. Seus ombros largos, os músculos do peito e o abdômen perfeitamente delineado exalavam força e masculinidade.

O cabelo curto, ainda úmido, destacava ainda mais suas feições marcantes e profundas, com um toque de selvageria.

Por um instante, seus olhares se cruzaram, e ambos ficaram imóveis. Breno parou por um breve momento, surpreso, enquanto Hana, com o coração descompassado, desviou o olhar rapidamente, sem saber onde pousá-lo. Sentindo-se desconfortável, ela permaneceu parada perto da porta, como se seus pés tivessem criado raízes.

Sempre que voltavam à casa da família, tinham que dividir o mesmo quarto. Para Hana, esse era o momento mais constrangedor e desconfortável.

Breno franziu levemente o cenho e caminhou em direção ao guarda-roupa.

— Onde estão as minhas roupas? — Perguntou ele, com a voz baixa e fria.

Hana apontou para o guarda-roupa:

— Estão na mala preta, ainda não tirei.

Breno abriu o armário, puxou a mala preta e a colocou sobre o banco no pé da cama. Ele abriu o zíper e tirou um conjunto de roupa casual. Parecia estar procurando algo específico, provavelmente uma peça íntima, e começou a revirar a mala.

De repente, ele parou. Suas mãos ficaram imóveis por alguns segundos antes de puxar lentamente uma peça de roupa: uma lingerie rosa-clara. Breno ficou visivelmente surpreso, com uma expressão de leve desconcerto.

Hana, ao ver sua roupa íntima nas mãos de Breno, sentiu o rosto esquentar instantaneamente. Suas bochechas ficaram vermelhas, e o coração disparou. Envergonhada e sem saber como reagir, ela correu até ele, arrancou a lingerie de suas mãos e a escondeu atrás de si com pressa e nervosismo.

A proximidade entre os dois era tanta que Hana podia sentir o perfume fresco do sabonete que ele usara, misturado com uma leve sensação de frescor.

— Eu não encontrei sua mala, então coloquei tudo no mesmo lugar. — Hana explicou rapidamente, a voz trêmula.

Breno baixou os olhos para ela. Seu olhar ficou mais intenso ao notar as bochechas de Hana completamente coradas. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, antes de desviar o olhar e voltar a procurar suas roupas na mala.

Sem dizer nada, ele pegou suas roupas e foi para o banheiro se trocar.

Aproveitando que Breno estava fora, Hana rapidamente retirou as roupas da mala e as organizou no guarda-roupa, separando as peças dele das suas.

Quando Breno voltou do banheiro, ele não disse nada e saiu do quarto. Naquela noite, não voltou mais para o quarto, passando o restante do tempo na vigília junto ao avô.

Hana acordou no meio da madrugada. Sentindo-se culpada por Breno não ter descansado, ela decidiu ir até a sala para sugerir que ele trocasse com ela e voltasse ao quarto para dormir.

No entanto, ao chegar ao salão principal, ela parou no meio do caminho, incapaz de dar mais um passo.

Havia apenas duas pessoas no salão: Breno e Rebeca. Todos os outros haviam cedido ao cansaço e ido dormir.

Rebeca estava sentada muito próxima a Breno, a cabeça descansando em seu ombro, como se estivesse dormindo. Breno, por outro lado, permanecia imóvel, com uma expressão sombria e os olhos fixos no caixão do avô. Ele não fez nenhum movimento para afastá-la.

Hana sentiu como se algo dentro dela tivesse se quebrado para sempre. "O que resta do meu coração já não consegue mais lutar", pensou. Era como se um peso imenso a estivesse esmagando por dentro, tornando impossível qualquer reação.

Ela sentiu as mãos e os pés ficarem gelados, enquanto uma dor fria tomava conta de seu peito.

Não importava o quanto amasse Breno, ela sabia que não podia suportar mais aquilo. Ele a estava destruindo lentamente.

Com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas que não mais caíam, Hana virou-se em silêncio e voltou para o quarto, deixando para trás qualquer esperança que pudesse ter restado.
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • A Tentativa de Reconciliação no Divórcio   Capítulo 100

    Na movimentada avenida, os carros deslizavam suavemente pela estrada.Rebeca ainda estava chorando, a voz carregada de mágoa enquanto continuava a se queixar:— Somos todas mulheres. Eu realmente não esperava que elas fossem me difamar desse jeito. Se tinham algo contra mim, por que não falaram diretamente comigo? Na frente, uma atitude; por trás, outra completamente diferente...As veias na mão de Breno, que segurava o volante, ficaram salientes de tensão. Ele finalmente explodiu:— Rebeca, não vai parar nunca?Rebeca arregalou os olhos, ainda mais indignada:— Como assim "não vai parar nunca"? Eu passei por tudo isso, fui humilhada, e agora você ainda está brigando comigo?Breno estava furioso e disse com a voz grave:— Se eu não tivesse te tirado de lá, você teria continuado o seu show no estande da Hana até fazer todo o pavilhão acreditar que elas estavam te maltratando. É isso que você queria? Que elas não conseguissem continuar com a feira?Rebeca ergueu o queixo, cheia de razão:

  • A Tentativa de Reconciliação no Divórcio   Capítulo 99

    — Se você se importa, por que não diz logo? Quer que eu me desculpe? Tudo bem, eu peço desculpas! Mas por que você não fala diretamente comigo? Por que sua amiga tem que ficar sendo irônica assim? — Rebeca falou, chorando com um tom de extrema mágoa. Ela enxugou as lágrimas enquanto soluçava. — Eu realmente não esperava isso. Foi só um engano! Eu bebi a água de outra pessoa sem querer. Por que você tem que ser tão maldosa comigo? E esse negócio de "beijo indireto", que coisa horrível de se dizer! Eu e o Breno somos apenas bons amigos. Não tem nada de sujo nisso, como vocês estão insinuando.As pessoas ao redor no pavilhão começaram a se aproximar, atraídas pela confusão. Todos os olhares estavam fixos nelas.Larissa ficou paralisada, sem palavras, completamente incrédula. De repente, ela parecia ser a vilã da história, uma pessoa cruel que estava intimidando uma pobre e inocente garota.A raiva subiu à cabeça de Larissa, que quase perdeu o controle. Ela queria gritar, mas já não sabia

  • A Tentativa de Reconciliação no Divórcio   Capítulo 98

    Rebeca demonstrou um leve espanto e respondeu:— Ah? Essa água era do Breno? Achei que fosse a que eu tinha deixado aqui agora há pouco. Acabei bebendo sem querer.Ela colocou a garrafa de volta no lugar com uma expressão inocente, mas logo abriu um sorriso despreocupado e acrescentou:— Mas, na verdade, não tem nada demais. Nós sempre dividimos a mesma garrafa d’água. Desde pequenos, nunca fizemos questão de separar essas coisas. Já virou costume.Larissa arregalou os olhos, deu uma risada irônica e retrucou:— Nojento!Rebeca olhou para Hana com os olhos aparentemente puros, como os de uma criança no jardim de infância. Com uma voz doce, perguntou:— Cunhada, você não vai se importar com isso, né?Hana ficou paralisada, sua expressão travada. Por dentro, sentiu um gosto amargo tomar conta de si, mas não sabia o que responder."Como eu não me importaria?", ela pensou. "Estamos casados há dois anos e eu, como esposa, nunca usei o copo do Breno, muito menos tive coragem de dividir uma b

  • A Tentativa de Reconciliação no Divórcio   Capítulo 97

    Hana esboçou um leve sorriso e não respondeu. Pelo canto do olho, ela olhou para Breno, que parecia muito interessado na descrição na parede.Ela pegou uma caixa de vacinas e, reunindo coragem, caminhou até ele, estendendo-a.Breno abaixou os olhos para o medicamento em suas mãos e, em seguida, ergueu o olhar, fixando-o no rosto dela com uma expressão levemente confusa.— Esta vacina tem um bom efeito, mas muitas clínicas e hospitais já possuem seus próprios fornecedores. Minha empresa só tem uma vendedora, a Lily, que mal consegue gerar resultados... — Hana começou a explicar, mas a segunda metade da frase ficou presa na garganta.Ela queria pedir ajuda para Breno, mas hesitou. Era constrangedor não colaborar com ele nos novos medicamentos e, ainda assim, pedir que ele ajudasse a abrir mercado para os antigos. Sentindo-se envergonhada, Hana baixou os olhos e ficou em silêncio.Quando Breno estendeu a mão para pegar a caixa, ela recuou rapidamente, segurando-a de volta. Sua expressão f

  • A Tentativa de Reconciliação no Divórcio   Capítulo 96

    Os funcionários presentes não ficaram surpresos com a dinâmica da conversa entre Breno e Rebeca.Rebeca já havia deixado claro para toda a empresa, incluindo até mesmo as senhoras da limpeza, que ela e Breno eram amigos de infância, inseparáveis, criados como irmãos devido à amizade de longa data entre suas famílias.Rebeca era conhecida por seu comportamento autoritário e confiante. Exceto por Breno, ninguém na empresa ousava contrariá-la.De repente, uma voz ao longe chamou a atenção:— Hana, deixa que eu levo.— Não precisa, eu consigo carregar.Breno levantou-se bruscamente e saiu do estande. Todos os funcionários se levantaram imediatamente, seus olhares seguindo as costas dele enquanto ele caminhava para fora.Rebeca também percebeu Hana ao longe, carregando uma caixa, e imediatamente entendeu o que estava acontecendo. Ela mordeu o lábio inferior, enquanto um sorriso frio e insatisfeito surgia em seus lábios.Breno caminhou rapidamente até Hana. Quando ela o viu se aproximar, par

  • A Tentativa de Reconciliação no Divórcio   Capítulo 95

    — Desculpa. — Hana pediu desculpas.— Tudo bem. — Rui respondeu, dando espaço para que Larissa e Hana pudessem enxergar melhor.Larissa exclamou surpresa:— É mesmo o Breno! Mas o Grupo Mifin não desenvolve seus próprios equipamentos médicos. Por que ele veio para a feira de medicamentos?— É a Gailoer Lda, não o Grupo Mifin. — Hana respondeu, sem demonstrar muita surpresa.Larissa suspirou, impressionada:— Uau! A Gailoer Lda é uma empresa grande, hein? Olha aquele estande... É um dos mais luxuosos da feira!Hana pressionou os lábios, sentindo uma pontada de inveja. Ela desejava secretamente alcançar o mesmo nível de sucesso, sonhando com o dia em que poderia estar à altura dele, tanto profissionalmente quanto pessoalmente.Perdida em pensamentos, ela se virou e, mais uma vez, esbarrou em Rui, que riu da situação. Ele segurou seus ombros para ajudá-la a recuperar o equilíbrio.— Você consegue ficar tão distraída assim só de olhar para o seu próprio marido? — Rui brincou, divertido.Ha

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status