— Família Fonseca? — Repetiu Ayla, o olhar firme.
— Exatamente. A partir de agora, é também o seu lar. — Respondeu Caio com serenidade.
Ayla ficou em silêncio por alguns segundos. Samuel era seu pai, e o destino que agora se impunha, se tornar herdeira de uma fortuna incalculável, era inevitável. Fugir não fazia sentido.
— Muito bem. — Disse por fim. — Se é a minha casa, devo ver com meus próprios olhos.
O que tinha de acontecer, aconteceria cedo ou tarde.
Durante o trajeto, Caio explicou brevemente a situação atual da família.
O império Fonseca possuía ramificações em diversos setores, e a maior parte dos bens estava sob o controle direto de Samuel. Uma parte menor pertencia ao pai dele, André, e ao irmão mais velho.
Com a morte de Samuel, todo o patrimônio passou para Ayla, o que a tornava a maior acionista do Grupo Fonseca.
Atualmente, André encontrava-se em tratamento médico no exterior.
A administração da casa estava nas mãos da esposa de Samuel, Carolina Almeida, enquanto a empresa era dirigida pelo filho adotivo do casal, Bruno Fonseca.
Uma hora depois, a limusine atravessou os portões do Solar Fonseca.
O terreno, com mais de mil metros quadrados, impunha respeito e grandiosidade.
Do portão principal até o edifício central, o carro levou quase dez minutos para chegar.
A arquitetura da mansão era monumental, de linhas clássicas e austeras, cada detalhe transpirando riqueza e tradição. Até o piso de mármore sob os pés parecia ter valor próprio.
Era a primeira vez que Ayla pisava em um lugar tão opulento. Por dentro, o coração batia rápido, mas o rosto mantinha a serenidade.
Caio a conduziu até o grande salão de visitas.
As portas pesadas se abriram, revelando, diante das janelas de vidro, a silhueta elegante de uma mulher madura, vestida com extremo requinte.
Ao lado dela, dois empregados aguardavam em silêncio. No sofá, um homem jovem de terno escuro observava com expressão neutra.
Assim que Ayla entrou, o olhar da mulher percorreu-a de alto a baixo, sem pressa, avaliando-a.
Depois, deu alguns passos à frente.
— Esta é a senhora Carolina Almeida, esposa do senhor Samuel Fonseca. — Explicou Caio em voz baixa. — E aquele é Bruno Fonseca, o filho adotivo do casal.
Carolina ergueu ligeiramente o queixo.
Com um leve aceno, dispensou o mordomo e os demais empregados.
Em instantes, o imenso salão ficou em silêncio — restaram apenas Ayla e o casal de mãe e filho diante dela.
A mulher a observou por um longo momento antes de perguntar:
— Então, você é Ayla?
Ayla assentiu levemente. A mulher à sua frente sorria, mas o olhar deixava claro que aquele sorriso não era acolhedor.
— Se sente. Está em casa agora, não precisa de formalidades. — Comentou Carolina com doçura ensaiada.
Bruno, ao lado dela, também falou, a voz cortês, porém distante:
— Por favor, fique à vontade.
Ayla se acomodou na ponta do sofá oposto, mantendo a postura ereta.
— Senhora Carolina, a que devo sua convocação?
— Vamos direto ao ponto. — Interrompeu a mulher, sem rodeios. — Chamei você para pedir que abra mão de parte da herança.
Ela lançou um olhar rápido a Bruno, e o homem colocou sobre a mesa uma pasta de couro.
— Senhorita Ayla. — Começou ele, num tom frio e profissional. — Com a morte do meu pai, você herdou todos os bens em nome dele. No entanto, o controle da empresa não pode ficar sob sua responsabilidade. Espero que compreenda. Como compensação, estamos dispostos a pagar uma quantia de cem milhões em dinheiro.
Soava menos como um pedido e mais como uma ordem.
Ayla pegou o contrato e o abriu. Leu as primeiras linhas em voz baixa:
— Renuncia voluntariamente a todas as ações, direitos administrativos e propriedades vinculadas à família Fonseca...
Carolina tomou um gole de café, cruzando as pernas com elegância.
— Já me informei sobre o seu passado. Sua mãe e Samuel tiveram um breve envolvimento, nada além disso. Você foi abandonada num orfanato aos três anos e certamente passou por muita coisa. Cem milhões é uma quantia generosa, levando em conta suas origens. Mas o herdeiro do nome Fonseca não pode ser uma filha ilegítima criada fora da família. Espero que tenha consciência disso.
Deixou a xícara sobre a mesa e completou, com um sorriso sereno:
— Ainda assim, você carrega o sangue dos Fonseca. Aos olhos de todos, continuará sendo apresentada como a senhorita da família. Se precisar de algo, basta me procurar.
Ayla fechou lentamente a pasta e ergueu o olhar.
A mulher diante dela era bela, refinada, o rosto quase sem marcas do tempo.
Bruno empurrou uma caneta em sua direção.
— Se estiver de acordo, por favor, assine.
Ayla olhou para os dois, respirou fundo e respondeu, sem hesitar:
— Eu me recuso.
Ayla já esperava por isso. Sabia que a família Fonseca jamais aceitaria de bom grado uma "filha ilegítima". Toda aquela "conversa" não passava de uma encenação, uma tentativa de impor poder e tomar à força o que era dela.
Ela manteve o olhar firme e, após alguns segundos de silêncio, respondeu com voz calma:
— Senhora Carolina me chama de filha ilegítima, mas a lei reconhece o sangue, não o preconceito. Meu pai deixou um testamento, procurou pessoalmente um advogado e assinou comigo o acordo de sucessão. O testamento e o exame de DNA bastam para comprovar que sou a herdeira legítima. O rosto de Carolina escureceu. Observou Ayla com novo interesse, como se tivesse visto algo novo.
Não imaginava que aquela mulher teria coragem de a enfrentar.
— Ayla, você deveria entender que é apenas uma filha bastarda. — Retrucou com um sorriso frio. — Mesmo que herdasse os bens, não teria capacidade para administrar.
Bruno franziu o cenho, surpreso. Em toda San Elívar, ninguém jamais ousara contrariar sua mãe.
— Senhorita Ayla. — Disse, num tom controlado. — Talvez tenha entendido mal. Isto não é uma negociação. A família Fonseca é um clã poderoso, muito mais complexo do que você imagina. Sua escolha afeta todos nós. E, sozinha, a senhora não tem como enfrentar a família inteira.
As palavras de Bruno foram diretas demais, como se temesse que Ayla não compreendesse.
Mas Ayla entendeu perfeitamente: aqueles dois apenas tentavam exercer pressão sobre ela.
Esses poderosos acostumados a mandar sempre agiam do mesmo modo, certos de que podiam comprar tudo. Achavam que cem milhões bastariam para se livrar dela.
Mas Ayla não era alguém que se curvava.
— Então isto não é uma conversa, é uma notificação? Que pena. O direito à herança não desaparece por palavras. — A voz dela permaneceu firme e tranquila. — Eu analisei o patrimônio e a estrutura do Grupo Fonseca. Os imóveis principais estão avaliados em centenas de bilhões, e a receita anual ultrapassa 80 bilhões. A senhora me oferece cem milhões como "compensação"? Isso mal seria suficiente para comprar uma loja do grupo. Cem milhões diante de centenas de bilhões... isso não é compensação, é roubo.
Um sorriso leve surgiu em seus lábios. Ayla fechou o contrato e devolveu o documento a Bruno, intacto.
Carolina e Bruno se entreolharam em silêncio, pegos de surpresa pela firmeza dela.
— Se não há mais nada, eu vou embora. — Disse Ayla com calma. — Podemos resolver tudo conforme a lei ou conversar de maneira adequada. Mas, senhor Bruno, o senhor é apenas o filho adotivo do meu pai. Pela lei, o meu direito sucessório vem antes do seu. Ou será que a família Fonseca pretende deixar a herança de Samuel para alguém sem laços de sangue?
Quando terminou de falar, Ayla se virou para sair.
Ao empurrar as portas do salão, Carolina trocou um olhar rápido com o filho.
— Pare. — Ordenou Bruno, em tom frio. Do lado de fora, duas fileiras de seguranças já estavam posicionadas.
Ayla olhou em volta e entendeu que sair dali não seria fácil.
Ela permaneceu imóvel, erguendo o olhar para Carolina.
— Senhora Carolina, pretende usar a força para me obrigar a desistir?
Carolina soltou um riso breve, a voz calma e carregada de desdém:
— Ayla, você ainda não conhece o meu temperamento. Eu aconselho que aproveite enquanto ainda tenho paciência... e saiba negociar enquanto é tempo.
Bruno se levantou e se aproximou dela. A sombra de seu corpo alto se projetou sobre Ayla, carregada de ameaça. O canto dos lábios se contraiu quando falou, em voz baixa e tensa:
— Senhorita Ayla, se não estiver satisfeita, pode dizer o valor que deseja.
Ayla o encarou sem recuar nem um passo.
— O meu preço, vocês não podem pagar. A herança de centenas de bilhões que meu pai deixou é minha por direito, e eu não abrirei mão de um centavo. — A voz dela cortou o ar como uma lâmina.
— Nesse caso, não nos deixa escolha. — Respondeu Bruno, o olhar endurecendo, a hostilidade evidente.
No mesmo instante, os seguranças atrás de Ayla avançaram meio passo, formando um muro de força e intimidação. Carolina se virou calmamente em direção à janela, enquanto as portas do salão se fechavam lentamente.
Ayla manteve a postura ereta, os ombros firmes, os olhos frios e atentos diante dos homens que se aproximavam.
De repente, passos apressados ecoaram pelo corredor. Dez, talvez doze homens de terno preto entraram de uma vez, abrindo caminho com presença imponente.
Atrás deles vinha Caio.
Bruno se virou, surpreso. Quando reconheceu o corte dos ternos e os distintivos discretos, o olhar dele vacilou, e procurou Carolina, confuso.
— Senhora... — Caio correu até ela e se inclinou para falar algo em voz baixa.
Carolina empalideceu de imediato.
— O que disse? — Perguntou, incrédula.
— O patriarca acabou de telefonar. Confirmou tudo. A família Cardoso escolheu a senhorita Ayla. — Explicou Caio, ainda ofegante.
Assim que ele terminou de falar, um dos homens recém-chegados caminhou até Ayla.
— Com licença, a senhora é a senhorita Ayla? — Perguntou com respeito.
Ayla, ainda um pouco atônita, assentiu, sem entender o que estava acontecendo.
— O meu patrão gostaria muito de jantar com a senhora amanhã à noite. — Disse o homem, entregando a ela um cartão preto com detalhes dourados. — Este é o cartão dele.
Ayla o pegou, confusa, sem tempo de responder antes que o grupo se retirasse em silêncio.
Olhou para o cartão nas mãos: nele havia apenas um nome e um número de celular.
Daniel Cardoso.
Quando os homens de terno deixaram o salão, os seguranças diante de Ayla voltaram os olhos para Bruno, aguardando ordens. Ele hesitou por um instante. Carolina levantou uma das mãos num gesto contido.
Bruno entendeu e acenou, liberando passagem.
Sem saber exatamente o que estava acontecendo, Ayla preferiu não esperar. Saiu dali imediatamente.
Mal ela atravessou as portas, Bruno se voltou para a Carolina, o tom contido mas tenso:
— Mãe, vai deixar ela sair assim?
Carolina soltou um suspiro breve, o olhar sombrio.
— E o que você queria que eu fizesse? — Respondeu com frieza. — Você viu quem era. Aqueles homens eram da família Cardoso.
Carolina cravou as unhas na palma da mão.
Ayla saiu apressada. Assim que cruzou o portão principal, viu uma fileira de carros pretos deixando o solar em silêncio.
Os vidros escuros refletiam a luz fria da tarde, e, por um instante, uma sensação estranha percorreu sua espinha, como se alguém a observasse de dentro de um daqueles veículos.
— Ayla. — Uma voz masculina a chamou.
Ela se virou.
Um Bentley branco havia parado ao seu lado, sem que percebesse.
O vidro desceu lentamente, revelando um homem de meia-idade em roupas esportivas, expressão tranquila, o semblante vagamente parecido com o dela.
— Me deixe apresentar. Sou o seu tio, Felipe Fonseca. Suba, eu levo você. — Disse ele, sorrindo.
Ayla o observou por um momento.
De fato, havia traços semelhantes, o mesmo olhar, o mesmo contorno do rosto.
Mas, lembrando-se do que acabara de viver dentro da mansão, manteve o tom frio:
— Obrigada. Eu posso voltar sozinha.
— Não tenha medo. — Respondeu o homem, com um sorriso paciente. — Sou diferente daqueles lá de dentro. Vim justamente para ajudar você.
Ayla continuou andando, e o carro seguiu devagar ao lado dela.
Vendo que não conquistava a confiança da sobrinha, Felipe insistiu:
— Uma filha fora do casamento, de repente herdando uma fortuna dessas, é claro que a família não vai deixar barato.
Fez uma pausa e completou, em voz mais baixa:
— Mas você teve sorte. A família Cardoso se interessou por você. Se esse casamento acontecer, sua posição entre os Fonseca será intocável. Carolina e o filho dela não poderão fazer nada contra você.
As palavras o fizeram finalmente captar a atenção de Ayla.
Ela parou e o olhou, confusa.
— Casamento? Que casamento?