Share

capítulo 2

Author: Lua de Junho
Assim que terminou de falar, Valentina se aproximou e agarrou o braço dele.

— Nico, meu pé tá doendo. A gente pode ir logo?

O paletó do Nicolas estava sobre os ombros dela, e aquele corpo frágil se apoiava todo nele.

Ele nem sequer olhou pra mim, mesmo eu estando pálida de dor. Simplesmente a pegou no colo e a acomodou no banco do carona.

— Senta bem, cuidado pra não encostar no machucado.

Só depois de fechar a porta e se preparar pra dar partida é que ele me notou parada ali do lado.

— A gente cresceu junto. Eu só vejo ela como uma irmã. Vai pra casa.

Sorri, curvando um canto da boca.

— Claro... só uma irmã.

Com medo de ele achar que eu estava magoada, acrescentei logo em seguida:

— Você usou uma carta de perdão. Tá tudo bem.

Nicolas hesitou. Quase disse alguma coisa, mas foi interrompido.

Valentina soltou um “ai” baixinho, e ele se virou imediatamente, preocupado.

— Vamos.

E foi isso. Nicolas entrou no carro e partiu com ela, me deixando sozinha na porta do hotel.

Apertei o casaco contra o corpo e fui embora.

...

Em casa, fui até o aparador e peguei as cartas de perdão.

Antes, Nicolas guardava tudo a sete chaves no cofre. Agora, a pilha de cartões ficava largada no armário.

Carimbei a sexagésima quarta.

Depois, peguei o contrato de divórcio que já tinha preparado havia algum tempo.

Como eu não conhecia nenhum advogado de confiança, resolvi mandar uma mensagem pro meu antigo professor.

— Professor, tô pensando em me divorciar. O senhor tem algum advogado pra indicar?

Ele respondeu surpreso:

— Divórcio? Você? Eu lembro como o casamento de vocês causou alvoroço na faculdade. Isso tem o quê, alguns anos só. O que aconteceu?

Ele mesmo tinha assistido ao pedido de casamento naquele dia.

Mas por que tudo chegou a esse ponto, ao ponto de não ter mais volta?

A verdade é que a gente já tinha se perdido há muito tempo.

Desde o momento em que ele começou a me deixar de lado por causa de outras pessoas.

Desde que ele e Valentina só falavam dos velhos tempos deles, de histórias em que eu nunca estive e nem conseguia entrar.

Desde a primeira vez em que passaram a noite na mesma cama, sem nenhum constrangimento.

Num relacionamento, o que mais destrói é a presença de uma terceira pessoa.

A gente já tinha se perdido. E não dava mais pra voltar.

O professor suspirou do outro lado da linha.

— Deixa isso comigo. Vou pedir pra alguém entrar em contato com você. Se precisar de qualquer coisa, é só falar com ele.

Olhei para as duas últimas cartas de perdão nas minhas mãos e respondi baixinho:

— Tá bem. Obrigada, professor.

Foi nessa hora que Nicolas entrou.

— Tá falando com quem? O professor?

Trazia uma sacola nas mãos, que colocou em cima da mesa.

Desliguei a chamada e me virei pra ele.

— Nada demais. Só tirei uma dúvida.

Nicolas franziu a testa, me olhando com estranhamento.

— Que dúvida é essa, a essa hora?

Olhei de volta, sem muita paciência.

— Só um experimento.

Ele enfim se sentou no sofá e empurrou a sacola na minha direção.

— Toma. Trouxe pra você.

Era da confeitaria que eu mais gostava.

Antes, toda vez que o Nicolas vinha me ver, ele trazia doces daquela loja.

O lugar era famoso, com filas enormes todos os dias. Mas só porque eu tinha dito uma vez que queria comer, ele fazia questão de acordar antes do sol nascer e esperar na porta, antes mesmo de abrirem.

Eu nunca quis que ele se esforçasse tanto por minha causa.

Mas ele costumava rir e tocar de leve no meu nariz, dizendo:

— Se você quiser comer, é claro que eu vou dar um jeito. Mesmo que queira uma estrela, vou dar um jeito de arrancar ela do céu.

Pensando bem, a gente teve, sim, muitos momentos doces.

— Como você foi até... — Comecei a perguntar, mas parei ao ver o que havia dentro da sacola. — Isso?

Abri a embalagem esperando ver os meus doces favoritos. Mas lá dentro só tinha um vestido manchado de massa de bolo e um lençol embolado, com marcas visíveis de sangue.

Olhei para o Nicolas. Ele ficou visivelmente desconcertado com o meu olhar.

— A roupa da Valentina sujou... e o lençol também, ela tá naqueles dias e se machucou, disse que tá se sentindo muito mal. Não tinha como ela lavar. Aí eu pensei que você podia ajudar.

Quanto mais falava, mais seguro ele parecia de que estava certo. A expressão endureceu.

— Não precisa fazer essa cara. Vocês são mulheres, você devia entender. E se não quiser ajudar, usa outra carta de perdão.

A resposta me subiu à garganta, pronta pra explodir mas não saiu.

Eu também tinha acabado de passar por uma cirurgia. Não podia encostar em água fria. Mas pra ele, parecia que isso já tinha virado pó.

E mais uma carta de perdão?

Era a última.

Olhei de novo pra ele, tão tranquilo, como se tudo fosse normal. Engoli seco e fiquei quieta.

As roupas do Nicolas sempre foram ternos caros, feitos sob medida. Cada peça precisava de lavagem à mão, depois vinha o ferro, o cuidado.

Pensando agora... que tola eu fui.

Achando que estava sendo carinhosa, atenciosa. Mas no fim, teria sido melhor mandar tudo pra lavanderia.
Patuloy na basahin ang aklat na ito nang libre
I-scan ang code upang i-download ang App

Pinakabagong kabanata

  • Casei com Ele. Dividi com Ela.   capítulo 7

    Ele me conhecia muito bem.Sabia que, uma vez que eu tomasse uma decisão, não haveria volta.Por um tempo depois da separação, Nicolas ficou lá embaixo do prédio, me esperando.Ignorava os comentários maldosos, insistia em me pedir para não seguir com o divórcio.Mas agora, nada disso fazia diferença.Quem escolhe trair precisa estar pronto para lidar com as consequências.Eu tinha dado muitas chances.Agora, não havia mais perdão.Durante um mês inteiro, ele ficou ali, me vigiando.Todo dia vinha atrás de mim, repetindo arrependido que queria consertar tudo, pedindo que eu voltasse.Virou uma sombra, feito mosca insistente, e isso acabou chamando a atenção de todo mundo.Até o Matteo notou. Imprimiu uma pilha de cópias do acordo de divórcio.Cada vez que alguém via o Nicolas, entregava uma.O professor até tentou manter o foco do grupo e não deixar que aquilo atrapalhasse o andamento do projeto, mas no fim, Nicolas era como um chiclete grudado no sapato.A solução foi mudar. Levou a g

  • Casei com Ele. Dividi com Ela.   capítulo 6

    Ele nunca deixou o trabalho de lado. Nem mesmo quando eu precisei fazer uma cirurgia por gravidez ectópica, fui sozinha.Justo nesse momento, Leo ligou para ele.— A negociação está em cima da hora. Onde você pensa que vai?Nicolas estacionou o carro no aeroporto, com o rosto carregado.— A Olívia foi embora. Saiu do país.— Foi pra fechar algum acordo? — Leo perguntou, desconfiado, mas com uma sensação ruim crescendo no peito.— Aquelas coisas que vocês me disseram antes... era por causa da Valentina, não era? Pela forma como eu trato ela. Pela falta de limites.Do outro lado da linha, Leo apenas respondeu com um murmúrio.— Exato.Era tudo o que ele precisava ouvir.Estava claro. Todo mundo tinha percebido, menos ele.— A culpa é toda minha. Desde que a Valentina voltou, eu não consegui parar de cuidar dela como fazia na infância. Ela se apoia demais em mim, sempre precisa de ajuda até nas coisas mais simples. Eu devia ter me afastado dela há muito tempo. Eu não quero me divorciar, m

  • Casei com Ele. Dividi com Ela.   capítulo 5

    Valentina fez um biquinho.— Fui eu que escrevi. Passei a noite nisso.Nicolas abriu a boca, quis dizer alguma coisa, mas não soube como começar.Afinal, tinha sido ele quem arranjou o estágio dela na empresa. Achava que, com alguma experiência, ela teria mais chances se quisesse mudar depois.Valentina mordeu o lábio, os olhos marejados.— Nico, eu vou refazer. Se não fosse a Olívia insistindo que tinha que ser entregue hoje, eu nem teria corrido tanto. Talvez eu nunca devesse ter vindo trabalhar com você...Ela abraçou os papéis e se virou para sair.Nicolas levantou a mão, pedindo que parasse. Mas, na mente dele, outra imagem surgiu.A de Olívia.Ela nunca foi de fazer esse tipo de drama. Sempre foi segura de si.Por mais complicado que fosse o problema, dava um jeito de resolver.Nunca se fazia de vítima. Quando discordavam de alguma coisa, ela apresentava seus argumentos com calma e firmeza.Mesmo quando ele decidiu, por conta própria, que Valentina deveria entrar na empresa, Olív

  • Casei com Ele. Dividi com Ela.   capítulo 4

    Eu não quis atender. Nem responder.Ativei o modo silencioso e deixei o celular ali, piscando sem parar ao meu lado.Nosso relacionamento tinha acabado de vez....Na casa da Valentina, Nicolas viu a mensagem e entrou em pânico.Começou a me ligar, mandando mensagem atrás de mensagem.[O que você tá dizendo? Não tinha mais de sessenta cartas? Para com essa birra!][É porque eu não fiquei com você? Espera aí, vou voltar e explicar.][Por que você não atende o telefone? Olívia, mesmo brava, você não pode agir assim!][Atende! Eu tô falando com você!]Ele não conseguia acreditar que eu realmente não responderia. Continuava insistindo, em looping.Depois de dezenas de chamadas e mensagens, o coração dele apertou de verdade.[Como assim… a gente tinha combinado que você não ia ficar brava. Por que você não tá atendendo?]Foi então que começou a lembrar…Cada vez que eu mencionava as cartas de perdão, parecia distante.Mesmo quando ele pisava na bola, mesmo quando a mágoa era evidente, eu co

  • Casei com Ele. Dividi com Ela.   capítulo 3

    Levei as roupas até a entrada, larguei tudo ali mesmo, ia mandar direto pra lavanderia no dia seguinte, e voltei pro quarto.Quando me viu entrar, Nicolas abriu um sorriso satisfeito.— Isso que é minha esposa! Rápida como sempre. Aquela é a saia preferida da Valentina, hein. Capricha na lavagem.Assenti em silêncio, coloquei uma máscara facial e me joguei na cama, pegando o tablet pra assistir uma série.Do lado, Nicolas mexia no celular sem parar, os dedos deslizando na tela como se trocasse mensagens com alguém.De repente, uma notificação apareceu no meu tablet: o WhatsApp dele tinha sido conectado por ali.Cliquei por instinto.[Nico, você é demais! Faz séculos que não como um doce tão bom. Aquela loja é sempre lotada, deve ter dado um trabalho.]Nicolas me lançou um olhar rápido, mas seguiu digitando sem parar.[Se você gostou, já valeu a pena. Na próxima eu trago mais. Afinal, você é minha querida 'irmãzinha', né?']Valentina respondeu de novo:[E os meus lençóis? Estão cheios d

  • Casei com Ele. Dividi com Ela.   capítulo 2

    Assim que terminou de falar, Valentina se aproximou e agarrou o braço dele.— Nico, meu pé tá doendo. A gente pode ir logo?O paletó do Nicolas estava sobre os ombros dela, e aquele corpo frágil se apoiava todo nele.Ele nem sequer olhou pra mim, mesmo eu estando pálida de dor. Simplesmente a pegou no colo e a acomodou no banco do carona.— Senta bem, cuidado pra não encostar no machucado.Só depois de fechar a porta e se preparar pra dar partida é que ele me notou parada ali do lado.— A gente cresceu junto. Eu só vejo ela como uma irmã. Vai pra casa.Sorri, curvando um canto da boca.— Claro... só uma irmã.Com medo de ele achar que eu estava magoada, acrescentei logo em seguida:— Você usou uma carta de perdão. Tá tudo bem.Nicolas hesitou. Quase disse alguma coisa, mas foi interrompido.Valentina soltou um “ai” baixinho, e ele se virou imediatamente, preocupado.— Vamos.E foi isso. Nicolas entrou no carro e partiu com ela, me deixando sozinha na porta do hotel.Apertei o casaco co

Higit pang Kabanata
Galugarin at basahin ang magagandang nobela
Libreng basahin ang magagandang nobela sa GoodNovel app. I-download ang mga librong gusto mo at basahin kahit saan at anumang oras.
Libreng basahin ang mga aklat sa app
I-scan ang code para mabasa sa App
DMCA.com Protection Status