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Capítulo 3

Aвтор: Sofia Braga
Valentina respirou fundo, esforçando-se para manter a calma.

Ela olhou para Cecília e perguntou:

— Cecília, você é mesmo a mãe biológica do Gabriel?

Cecília encontrou o olhar de Valentina e sorriu suavemente.

— Cinco anos atrás, por conta da minha carreira e das exigências contratuais da minha empresa, fui obrigada a esconder minha relação de mãe com Gabriel.

Valentina sentiu o ar faltar por um instante.

— E o pai do Gabriel...

— Gabriel é meu e do Lucas.

A voz doce de Cecília soou como uma lâmina afiada, cortando fundo o coração de Valentina.

Ela ficou sem ar, e uma dor sufocante tomou conta de seu peito, deixando seu rosto completamente pálido.

O menino que ela havia tratado como seu próprio filho durante cinco anos, que ela cuidou e amou com todo o coração, era, na verdade, filho de Lucas e Cecília!

Lucas a enganara o tempo todo. Não se tratava de uma traição após o casamento. Desde o início, ele vinha manipulando e usando Valentina.

— Valentina, sinto muito por ter escondido isso de você por tanto tempo. Na verdade, logo no começo, eu sugeri ao Lucas que ele contasse a verdade, mas ele achou que quanto menos pessoas soubessem disso, melhor.

Cada palavra de Cecília ecoava na cabeça de Valentina como um martelar incessante.

Na visão de Lucas, ela era uma estranha.

Ela acreditava que, após cinco anos dividindo uma vida, cuidando e criando um filho juntos, ainda que sem amor, existia ao menos uma relação de confiança entre eles.

Mas, na realidade, o homem que dormia ao seu lado nunca a viu como algo mais do que uma intrusa, uma peça descartável.

Ela não conseguia entender. Por que Lucas a enganara?

Se ele tivesse contado a verdade desde o início, ela jamais teria permitido que seu coração se envolvesse.

— Valentina, sei que esses cinco anos foram difíceis para você. Tanto eu quanto Lucas somos muito gratos por tudo o que você fez pelo Gabriel.

Cecília olhou para Valentina com um semblante aparentemente sincero.

— Você criou Gabriel muito bem. Como mãe biológica dele, agradeço profundamente por isso.

Valentina manteve o olhar fixo em Cecília. Seus lábios pálidos estavam fortemente comprimidos, e sua expressão continuava calma. No entanto, o braço que segurava Gabriel tremia levemente.

— Não é verdade! Você está mentindo! Minha mãe é só uma, e é a mamãe! — Gabriel gritou, encarando Cecília com raiva.

— Você é uma mulher má! Quem te deu o direito de ser minha mãe? Eu não quero você como minha mãe!

Cecília ficou paralisada com a reação do menino. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela cobriu a boca com as mãos, parecendo extremamente magoada.

Joana, que até então estava em silêncio, fechou a cara e levantou-se abruptamente, repreendendo Valentina:

— É assim que você educa uma criança? Que falta de respeito pelos mais velhos!

Valentina, com os pensamentos em desordem, não tinha energia para discutir com Joana. Mas, preocupada com o bem-estar psicológico de Gabriel, respondeu:

— Gabriel ainda é só uma criança. Vocês precisam dar um tempo para ele processar tudo isso.

Joana soltou uma risada sarcástica e lançou um olhar frio para Valentina.

— Acha que não sei o que você está tentando fazer? Valentina, entre mulheres, não pense que seus joguinhos passam despercebidos para mim.

— Pedro!

Atendendo ao chamado de Joana, o mordomo Pedro se aproximou rapidamente.

— Senhora, o que deseja?

— Tire Gabriel dos braços dela agora mesmo! Não vou permitir que a linhagem da família Montenegro seja manipulada por uma mulher astuta como essa!

Pedro hesitou por um momento, mas, incapaz de desobedecer, aproximou-se e começou a puxar Gabriel do colo de Valentina.

— Não! Me solta! Mamãe, eu quero ir para casa com você! — Gabriel gritava e chorava, tentando se agarrar a Valentina.

Valentina franziu a testa, incapaz de suportar o choro desesperado do menino.

— Gabriel tem asma. Será que vocês podem parar com essa abordagem tão agressiva?

As palavras de Valentina fizeram Joana hesitar por um instante.

Cecília levantou-se e segurou o braço de Joana, com os olhos úmidos e a voz embargada.

— Tia, por favor, peça para Pedro soltar Gabriel. Está tudo bem comigo. A culpa é minha por não ter cumprido meu papel de mãe. Se ele não me aceita, eu mereço isso.

Joana suspirou profundamente, preocupada com a possibilidade de Gabriel ter um ataque de asma, e fez um gesto para que Pedro soltasse o menino.

Assim que Pedro o soltou, Gabriel correu para Valentina e se agarrou a ela com força, fazendo-a dar um passo para trás para manter o equilíbrio.

Enquanto o menino a abraçava, ele acabou pressionando sem querer o abdômen de Valentina, fazendo-a sentir uma dor ainda mais intensa. Sua expressão ficou tensa por alguns segundos.

— Mamãe, a vovó está mentindo, não está? Você é minha mãe! Eu não quero outra mãe, só quero você! — Gabriel soluçava, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Valentina sentiu o coração apertar. Ela passou a mão pelos cabelos do menino, tentando consolá-lo.

— Gabriel, meu amor, eu nunca te abandonaria. Por favor, não chore mais, está bem?

Ela queria apenas acalmar Gabriel e aliviar seu sofrimento.

Mas, para Joana, aquelas palavras tinham outro significado.

— Valentina, você não tem vergonha? Gabriel nem é seu filho! Como tem coragem de dizer essas coisas?

A arrogância habitual de Joana, sempre disfarçada sob sua pose de dama refinada, deu lugar a um desprezo escancarado. Sua voz carregava um tom venenoso.

— Agora entendo por que Gabriel nunca se aproximou de mim e insiste em chamá-la de mãe. Você claramente encheu a cabeça dele com essas ideias!

A acusação, tão grave e cruel, fez com que Valentina, mesmo preocupada com o menino, perdesse a paciência. Sua expressão endureceu, fria como nunca antes.

— Dona Joana, quando me casei com Lucas, não pedi sua aprovação. Você nunca me aceitou como nora, e eu nunca insisti nisso. Mas diante de uma criança de cinco anos, a senhora deveria refletir se está dando um bom exemplo. Quem aqui está desrespeitando quem? Sou eu quem não tem respeito ou é a senhora que está abusando da sua posição?

— Você! — Joana ficou vermelha de raiva, sem acreditar que Valentina ousava enfrentá-la. — Está me desafiando, é isso?

— Não vejo necessidade. — Valentina a encarou diretamente, sem medo, mas sem perder a compostura. — Se vamos nos divorciar ou não, essa é uma questão entre mim e Lucas. Vocês podem ficar com Gabriel. Eu não vou disputar isso com vocês.

— Não! Não! — Gabriel, ouvindo que poderia ser deixado para trás, agarrou-se ainda mais forte a Valentina e começou a chorar ainda mais alto.

— Mamãe, por favor, não me deixe! Eu não gosto da casa da vovó! Eu não gosto daquela mulher má! Eu quero ir para casa com você! Me leva para casa, por favor!

Os gritos de Gabriel, roucos pelo choro, cortaram o coração de Valentina. Durante cinco anos, ela havia cuidado dele com tanto carinho que nunca o deixara chorar dessa forma.

Ela suspirou, exausta, e olhou para Joana.

— Ele está muito agitado agora e não vai ouvir. Eu vou levá-lo para casa. Quando ele estiver mais calmo, eu explico tudo a ele.

Dizendo isso, Valentina segurou a mão de Gabriel e começou a sair.

Gabriel, ansioso por sair daquele lugar, apressou os passos com suas perninhas pequenas, temendo que, se fosse devagar, Valentina pudesse deixá-lo para trás.

— Gabriel! — Cecília chamou o menino, correndo atrás deles.

No jardim, Cecília alcançou Gabriel e segurou seu braço.

— Gabriel, por favor, não vá. A mamãe errou, mas eu tinha meus motivos. Eu amo você, meu filho!

— Mulher má! Me solta! — Gabriel gritou, tentando se desvencilhar das mãos de Cecília, mas ela o segurava com força, a ponto de machucar o braço do menino.

— Mamãe! Mamãe, me ajuda! Essa mulher má quer me levar embora! — Gabriel gritou desesperado.

Valentina observava a cena, o olhar fixo em Cecília, que segurava Gabriel com tanta força que o menino estava claramente assustado. Sua expressão era um misto de cansaço e incredulidade.

Quando percebeu que Gabriel não cederia, Cecília voltou sua atenção para Valentina.

Com lágrimas escorrendo pelo rosto, sua beleza parecia ainda mais delicada e comovente. Ela se aproximou e, com a voz trêmula, implorou:

— Valentina, por favor. Gabriel é meu filho, o filho que eu carreguei por nove meses e quase morri para dar à luz. Sei que você cuidou dele e sou grata por isso, mas ele não é um instrumento para você prender o Lucas. Por favor, não o use dessa forma.

Valentina a encarou, incrédula.

Ela não conseguia entender de onde Joana e Cecília tiravam essas acusações absurdas. Em nenhum momento ela havia tentado usar Gabriel para qualquer coisa.

Enquanto Valentina processava as palavras, Joana saiu da casa e, ao ver Valentina ainda segurando Gabriel, ordenou aos empregados:

— Tirem Gabriel dela agora! Não vou permitir que alguém como Valentina use um Montenegro para se beneficiar!

Os empregados hesitaram, mas, obedecendo à ordem de Joana, aproximaram-se. Um deles, mais ousado, empurrou Valentina, que cambaleou para trás, quase caindo.

Ela levou a mão ao abdômen, onde a dor parecia aumentar a cada segundo. Com o olhar cheio de preocupação, ela viu Gabriel sendo puxado pelos empregados e levado de volta para perto de Cecília e Joana.

— Me soltem! Quero ir para casa com minha mamãe! Mamãe! — Gabriel gritava e chorava de forma desesperadora, sua voz ecoando pelo jardim.

Valentina, assistindo a tudo, sentiu uma sensação de impotência tomar conta dela.

De um lado, a avó biológica de Gabriel. De outro, a mãe biológica.

E ela? Ela não passava de uma mulher prestes a se divorciar, uma completa estranha naquele mundo.

Nesse momento, o som de um motor chamou sua atenção. Um Bentley preto entrou no jardim da mansão.

Valentina virou-se para olhar.

A porta traseira do carro se abriu, e Lucas desceu calmamente do veículo.
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