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Capítulo 0004

Autor: Ren
Antes, Eloá sempre arrumava desculpas para o comportamento de Samuel. Agora, via com clareza: ele simplesmente não se importava.

— Agradecemos ao Grupo Albuquerque pelo patrocínio deste evento. Agora, damos início oficial ao nosso leilão. — Anunciou o apresentador.

Mirela chegou de braço dado com Samuel e se acomodou ao lado dele.

A primeira peça do leilão era uma pulseira de jade.

Eloá observou quando Mirela se inclinou para sussurrar algo no ouvido de Samuel. Em seguida, ele levantou a placa e pulou de cem mil para um milhão de reais com um único lance.

— Que generoso! Sr. Samuel realmente não mede esforços. — Comentou alguém. — Dizem que a Srta. Mirela foi o primeiro amor dele... aquele tipo de amor impossível. Aposto que agora ele vai tentar reconquistar ela.

— Mas ele não tem noiva? Então a Mirela é o quê, amante? — Cochichou outra.

— Amante nada! A Mirela é a original, querida! A outra foi só empurrada pela família. E mais: ouvi dizer que ela é surda! Que tipo de mulher assim combina com um homem como Samuel?

Comentários como esses se espalhavam pelo salão, disfarçados de fofoca inocente, mas carregados de veneno.

Cada palavra feria Eloá como uma agulha.

Sem aguentar mais, deixou o auditório e foi até o salão de exposição.

Embora fosse um leilão, também havia joias com preço fixo, que podiam ser adquiridas diretamente.

Mesmo em meio a tantos colecionadores, ninguém ali parecia a conhecer.

Mais uma decepção.

Parou diante de um anel com diamante rosa.

Lembrou-se da joia que Samuel havia lhe dado... um broche com diamante rosa, de qualidade ainda superior à daquele anel. Talvez, com sorte, valesse até mais.

— A senhorita gostou dessa peça? — Perguntou um homem elegante que se aproximou.

Eloá balançou a cabeça rapidamente:

— Não... só estava olhando. — Disse, sem jeito.

Diante da resposta, ele chamou um dos organizadores e disse que queria dar um lance.

— Vi que ficou muito tempo ali parada. Pensei que eu fosse tirar algo que você queria.

Eloá reagiu rápido:

— Imagina! O senhor parece ser um grande apreciador... Por acaso teria interesse em ver um broche com diamante rosa que está comigo?

Trocavam contatos pelo WhatsApp em menos de um minuto. Marcaram horário para avaliar a peça.

Depois, Eloá soube por Serena que o homem se chamava Matheo Tavares, um colecionador bastante conhecido no meio.

Sabendo que sua roupa simples não combinava com o ambiente, Eloá se afastou dos expositores e foi até o buffet para descansar e observar.

Procurava o próximo interessado em diamantes.

A torre de champanhe brilhava sob a luz.

— Srta. Eloá. Mesmo que o Samuel não goste de você, não precisava vir vestida como uma caipira, né? — Disse uma voz familiar.

Virou-se e deu de cara com Mirela, que a observava de cima a baixo.

— Isso não é da sua conta, Srta. Mirela. — Disse Eloá, com frieza contida.

— Realmente não é. Só queria lembrar que o mundo tem classes bem definidas. Tem gente que nasce com sorte, mas continua sendo pato. Por mais que queira, nunca vai virar cisne. — Respondeu Mirela, com um sorriso doce.

Depois, com outra entonação:

— Elô. Você vem pra um evento desses e nem me avisa?

Eloá sabia. Se nada saísse do script, Samuel estava por perto. Do contrário, Mirela não mudaria tão bruscamente de expressão.

Ela não respondeu. Apenas ficou ali, imóvel, assistindo à encenação.

Mirela, percebendo que Eloá se recusava a entrar no jogo, deu um passo à frente e se atirou sobre ela.

A saia ampla balançou com violência e arrastou a mesa ao lado.

Pratos, taças e até parte da torre de champanhe desabaram com estrondo.

As duas caíram no chão, presas sob os estilhaços.

O vestido branco de Mirela logo se manchou com vinho. A sujeira era visível.

Já o de Eloá, de cor escura, escondia melhor os danos, mas não a dor.

Pedaços de vidro fincaram-se em seu joelho, sangrando.

Mirela, por outro lado, tinha apenas um arranhão no braço.

Ao longe, Samuel viu a confusão e correu para perto.

O homem elegante e sempre contido perdeu o controle:

— O que vocês estavam pensando? Como deixam uma estrutura dessas nesse canto escuro?! — Gritou com os garçons.

Em seguida, ajoelhou-se ao lado de Mirela, aflito:

— Está doendo? Você machucou muito? — Perguntou, com os olhos arregalados.

Mirela, com lágrimas nos olhos e a voz suave, parecia frágil e tocante. Segurou a manga da camisa dele com delicadeza e disse:

— Estou bem... Não foi culpa deles.

Uma santa, diria qualquer um.

Eloá, ao fundo, segurava o riso. Um riso amargo.

Só quando Samuel virou-se e a viu caída no chão, ensanguentada, perguntou:

— Você também está aqui?

É... Aquela noite não era para ela. Aquele evento fora planejado por Samuel para agradar Mirela. Ela nunca deveria ter aparecido.

Antes que dissesse qualquer coisa, Mirela soltou um gemido de dor.

Samuel se virou imediatamente e a tomou nos braços.

Só então olhou para Eloá de novo. Por um breve segundo.

— Leva aquela moça ao hospital. — Disse ao garçom que ainda estava sendo repreendido.

E desapareceu. Nem olhou para trás. Seguiu adiante, com Mirela recostada no ombro, sorrindo com o canto dos lábios, um sorriso que só Eloá viu.

Eloá viu Samuel escolher sem vacilar. Aquilo só tornava a decisão dela ainda mais certa.

A ordem para o funcionário era apenas educação. O cuidado verdadeiro... era para Mirela.

O amor se mede pelo peso. E Eloá… foi aquela amada com leveza demais.

Nesse instante, um casaco caiu sobre os ombros dela.

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Último capítulo

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    — Dois anos atrás, atuei na Croácia como arquiteta voluntária num projeto comunitário. O hotel que vocês estão mencionando como alvo de plágio é exatamente esse. Cathy, o nome da suposta vítima, era o nome que eu usava quando cheguei ao exterior.— Este aqui — Disse, erguendo o papel. — é o documento oficial fornecido pelos responsáveis do hotel, atestando minha autoria. Já foi publicado no site oficial do Grupo Albuquerque. Qualquer um pode conferir.Assim que terminou de falar, um burburinho tomou conta da sala.A imprensa, claro, não gosta de sair sem escândalo. Como o caso de plágio havia ruído, começaram a atacar por outro flanco — fofoca.— Sr. Samuel, dizem que a Vivian foi sua noiva. Essa contratação teve motivação pessoal?— Sr. Samuel, há rumores de que o senhor e a Srta. Mirela já oficializaram união em segredo. Ela compareceu ao funeral do Sr. Adrian... estaria lá como nora?— Vivian? Sr. Samuel? Algum comentário?Diante do bombardeio de flashes, Eloá mal conseguia manter o

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