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Capítulo 0003

Autor: Ren
Diante do mau humor de Eloá, Samuel pediu ao assistente que comprasse um diamante rosa e encomendou um buquê de flores.

Sabia que mulheres precisam ser agradadas. Sempre que ela ficava irritada, ele recorria aos mesmos gestos, e até então, sempre funcionava.

Dessa vez, no entanto, não recebeu o habitual charme em troca, nem o sorriso doce depois da birra. Quando perguntou ao assistente qual tinha sido a reação de Eloá, ouviu apenas um comentário indiferente.

Antes que pudesse refletir sobre aquilo, foi interrompido por uma reunião na empresa.

Enquanto isso, Eloá entregou os documentos de solicitação à universidade. Só precisava escrever uma monografia para concluir a graduação.

Escrever, para ela, nunca foi difícil. Bastava respeitar o prazo da defesa. Difícil mesmo era estudar italiano ao mesmo tempo.

Depois de anos de surdez, sua capacidade de linguagem ainda estava se reorganizando. A fala, então, era um caos.

Ligou para a amiga Serena Lacerda. Do outro lado, a voz atendeu com estranheza:

— Alô? Quem fala?

— Ué, não troquei de número. Você não salvou meu contato? — Disse Eloá, achando graça.

— Meu Deus, garota! Faz quanto tempo que eu não recebo uma ligação sua?! Espera... você... voltou a ouvir?! — Gritou Serena, em choque.

Como havia muita coisa para contar, combinaram de se encontrar em uma cafeteria.

Enquanto esperava Serena, o celular tocou. Era Samuel.

— Qual é mesmo a proporção do açúcar mascavo? — Perguntou ele, aflito.

— O quê? — Eloá nem entendeu a pergunta.

Antes que dissesse mais alguma coisa, reconheceu a voz de Mariana ao fundo:

— Fogo baixo! Assim vai queimar! Melhor deixar comigo, senhor, sério!

— Não precisa, eu faço... Elô, qual é a proporção do açúcar mascavo? Eu tentei duas vezes e o gosto ficou estranho. — Insistiu Samuel.

— A Mirela está com febre. Chegou a 38 graus. Está meio desacordada... o remédio não está fazendo efeito... — Acrescentou ele, ofegante.

Só pela confusão no celular, Eloá já conseguia imaginar o caos do outro lado. Samuel, sempre tão contido, só perdia o equilíbrio por causa de Mirela.

Ele que, normalmente, nem entrava na cozinha. Era exigente para comer, seletivo com temperos, cheio de manias.

Eloá, depois de abandonar a faculdade, passou a se dedicar totalmente a ele.

Cuidava de tudo: alimentação, saúde, casa, rotina. Chegou a estudar culinária medicinal só para preparar refeições específicas, pensadas para o corpo dele.

A única pessoa capaz de levar ele para a cozinha era mesmo Mirela.

Eloá se lembrou da vez em que ficou com febre depois de um dia inteiro esquiando ao lado dele. A temperatura chegou a 40 graus.

Na época, Samuel ainda não a aceitava. Achava que ela exagerava.

Sozinha, em outro país, sem assistência médica imediata, ela se virou como pôde.

Agora, Mirela mal chegou a 38 graus e ele já estava perdendo a compostura.

Sim, aquilo era o poder de uma verdadeira amada intocável.

Eloá tomou um gole do café sem açúcar. Não sentiu nenhum amargor.

Mal tinha desligado o celular, Serena chegou às pressas.

Assim que se sentou, começou a desabafar sem parar:

— Você não faz ideia do quão doido é esse Samuel! Me ligou no meio da madrugada mandando encontrar um conjunto de joias de jade, como se fosse o fim do mundo! Jogou uma fortuna, como se dinheiro comprasse tudo! Só porque é rico, acha que todo mundo é escravo dele! Disse que era emergência de vida ou morte! Quem é ele? O rei? — Bufou. — Sorte que sou competente e tenho contatos.

Enquanto falava, virou o celular para mostrar uma foto do conjunto.

Eloá, vendo-a tão indignada, sorriu com leveza. Era bom voltar a ouvir. Por mais barulhento que o mundo fosse, cada som agora parecia precioso. Ela havia se reconectado ao mundo.

Depois que Serena terminou seu desabafo, Eloá compartilhou o próprio dilema — queria estudar fora, mas a fluência no idioma ainda era uma barreira.

Serena fez uma cara séria e respondeu como se desse o conselho mais racional do mundo:

— Querida, você parou no tempo! O mundo lá fora tá girando. Hoje em dia, é só jogar umas moedas de ouro que você arranja um universitário com tanquinho que ensina você a falar italiano... e talvez também em outras situações mais íntimas.

Riram. Mas logo depois, Serena ficou mais séria.

— Mas falando sério agora... Você decidiu mesmo? Vai sair de Auristela? Vai deixar o Samuel? — Perguntou, encarando a amiga.

Eloá assentiu.

— Tem outra coisa. Você entende de joias... dá uma olhada nisso, queria ter uma noção de valor. — Disse, mostrando uma peça.

— Isso aí é diamante, não é muito minha praia. Mas, gata, olha isso aqui. — Disse Serena, tirando da bolsa um convite.

Era um convite para um leilão de joias exclusivo. Eloá entendeu na hora: Serena era confiável. Sabia que ela trabalhava mais com jade e peças específicas, e que diamantes não eram sua especialidade. Mas aquele leilão reuniria verdadeiros conhecedores. Se conseguisse bons contatos por lá, pelo menos evitaria ser passada para trás.

Dias depois, Eloá decidiu que era hora de sair da Residência Enseada Azul.

Pensou em avisar. Pegou o celular, mas quem atendeu foi Isadora:

— Meu irmão tá com a Mirela escolhendo vestido de gala. Você acha que é o quê? A esposa dele? Agora quer até fiscalizar? Poupa esse trabalho ridículo! — Disse, com desprezo.

A ligação foi encerrada abruptamente.

Eloá olhou para a tela e soltou um sorriso amargo. Tanto fazia. Estando presente ou não, para Samuel não fazia diferença.

Naquela noite, chegou apressada ao leilão de joias.

Usava um vestido simples. Não fazia ideia de que o evento teria tamanha pompa.

Lá dentro, ficou evidente que todos estavam vestidos para impressionar.

Mas ao lembrar da quantia que carregava na bolsa, endireitou a postura.

Sim, as peças eram caríssimas. Mas ela podia pagar.

Logo o salão começou a se mover em direção ao palco central.

Luzes se acenderam. Sob os holofotes, apareceu Samuel Albuquerque.

Ao lado dele, Mirela Antunes.

E no corpo de Mirela, o mesmo conjunto de jade raríssimo que Serena tinha mostrado dias atrás... vidro de gelo de grau imperial, caríssimo.

Aquilo era valor. Era intenção.

Eloá se lembrou dos presentes que ganhava de Samuel. Sempre escolhidos por assistentes. Nunca por ele.

Rápidos. Frios. Automáticos.

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