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Capítulo 3

Author: Beatriz Falcão
Quando a Gabriela ouviu aquilo, ela riu sem se importar com quem estava por perto.

— Letícia, a sua fama de maldição se espalhou tão rápido que chegou até o seu marido!

Depois, ela sussurrou em voz baixa: — Uma maldição e um pé-frio? Combinação perfeita!

Eu cerrei os punhos. Meus nós dos dedos estalaram.

O Cláudio foi empurrado para dentro do salão por seus amigos, com uma expressão de total contrariedade.

A Gabriela, quando o viu, se pôs de pé, com os braços cruzados. Ela era alta e sempre chamava a atenção no meio da multidão.

Mas Cláudio a ignorou completamente e só tinha olhos para mim.

Eu fiquei um tempo olhando para o rosto dele.

De perto, seus traços marcados e seus olhos penetrantes eram ainda mais bonitos do que os atores nos pôsteres de cinema.

Não era à toa que a Gabriela sempre fazia questão de mencionar o quanto ele era bonito quando falava dele.

Cláudio percebeu que a flor de lapela no meu peito era idêntica à dele, e na mesma hora soube que a noiva não era quem ele esperava.

Com uma testa franzida, ele perguntou, sem pensar: — Por que é você? Não era a Gabriela quem ia casar comigo?

A Gabriela já não estava gostando de ter a atenção tirada dela.

Quando ouviu aquilo, ela respondeu na lata: — Quem ia querer casar com um soldado raso como você? Veja se você tem condições para me dar uma aliança.

Com um ar de superioridade, ela levantou o queixo e virou o rosto.

A expressão do Cláudio mudou. Ele percebeu que falou demais.

Eu disse, calmamente: — Você disse que ia se casar com a garota que te salvou. Essa garota sou eu.

Cláudio parou, surpreso. O peito dele subia e descia visivelmente. Ele me encarou com um ar sério.

Era como se ele estivesse esperando por esse momento há muito tempo.

— … Eu sei.

Meus olhos se arregalaram. Uma teoria ousada me passou pela cabeça.

— Desculpa. O casamento pode continuar. Eu me caso!

Todos que estavam lá ficaram confusos com a mudança de ideia de Cláudio. A minha sogra, então, resolveu amenizar a situação.

— É a emoção de se casar! Ele não sabe o que está dizendo!

De repente, Cláudio perdeu a pose de rebelde. Um rubor subiu do pescoço até as bochechas dele.

A Gabriela fez uma careta, resmungou e voltou para a sua cadeira.

O resto do casamento transcorreu bem. Mas, no final, Gabriela insistiu que o ambiente da fazenda não era bom para estudar e pediu a Cláudio para arranjar um professor particular para ela na cidade.

Quando ela disse isso, era óbvio que Cláudio não queria se envolver. Ele ficou calado.

Mas a minha sogra respondeu na hora: — Se a família está pedindo, é claro que a gente vai ajudar!

E na mesma hora, ela pediu que a Gabriela ficasse. A minha sogra arranjou uma pensão para ela e para que ela pudesse estudar para a prova.

Quando meus pais estavam indo embora, eles me deram um monte de recados.

— Não se esqueça da sua família agora que você se casou! Pegue as coisas boas da família do Cláudio e leve para a sua irmã para ela não ficar cansada.

— Você tem que levar três refeições por dia para ela. Lave a roupa dela também.

— O vestibular da sua irmã é muito importante, e o seu trabalho mais importante é cuidar dela!

A Gabriela estava deitada na cama, com um sorriso vitorioso no rosto.

— Ouviu? Não pense que você é a rainha da cocada só porque se casou com o filho de um comandante. Onde quer que você vá, você vai ser minha empregada!

Meus pais concordaram com a cabeça e disseram que a minha irmã estava certa e que eu não podia me esquecer das minhas origens.

Eu segurei a minha raiva e não a contradisse.

Por mais de duas semanas, eu ia e vinha da pensão para a casa da minha sogra.

Cláudio sentiu pena de mim e pediu à cozinheira da casa para levar as refeições para a Gabriela.

Mas ela, na frente da cozinheira, jogou a tigela no chão: — Diga à Letícia para não agir como a "senhora comandante"! Se eu não tivesse dado a chance de ela se casar com Cláudio, ela ainda estaria pastoreando gado por aí!

Cláudio, quando soube disso, quis me defender e mandá-la de volta para o vilarejo.

Mas ela o provocou na frente dele.

— Cláudio, se acha esperto, tome cuidado para não ser transferido para alguma fronteira por aí, e não voltar nunca mais.

— Sabe, talvez você morra lá e nem seja enterrado.

Na vida passada, eu soube de algumas coisas sobre Cláudio na cidade.

A floresta na fronteira foi onde ele morreu. O corpo dele nunca foi encontrado.

Cláudio a encarou, com ódio, tremendo de raiva e querendo dizer algo.

Eu o arrastei de volta para casa. E pela primeira vez, ele ficou bravo comigo: — Por que você está do lado dela e não do meu?

Eu fiquei sem palavras. Uma atmosfera estranha se espalhou entre nós.

Não era a hora. Eu só tinha que esperar.

No último dia do vestibular, eu estava mais nervosa que a Gabriela. Se eu me lembrasse bem, a ordem de transferência do Cláudio era para hoje também.

A Gabriela entrou no local da prova, confiante e determinada. A última coisa que ela me disse foi:

— Letícia, depois de hoje, vamos ver de onde você vai tirar a sua arrogância!

Meus pais a observavam, cheios de esperança, como se o sucesso dela pudesse fazer a família toda ter sorte.

O suor escorria pelas minhas mãos de tanto nervosismo.

Quando me virei, o Cláudio estava do outro lado da rua, me chamando.

Ele segurava um envelope de papel pardo e o selo vermelho nele chamou a minha atenção.

Um arrepio percorreu meu peito.
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