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Amor em Cinzas, Promessas Queimadas
Amor em Cinzas, Promessas Queimadas
Author: NaMedida

capítulo 1

Author: NaMedida
Ao despertar sufocada pela fumaça espessa, percebi no mesmo instante que havia renascido.

Corri os olhos pelo ambiente em busca de Fabrício, lá estava ele, tentando atravessar as chamas para salvar a sobrinha sem laços de sangue.

— Fabrício.

Chamei seu nome.

Fabrício Siqueira lançou-me um olhar irritado, mas não interrompeu o movimento de arrombar a porta.

— Não precisa tentar me convencer. Mesmo sem laços de sangue, ela me chama de tio e eu tenho obrigação de cuidar dela.

— Se quiser sair, saia. Eu não vou. Se não vai ajudar, então não atrapalhe.

Nesta vida, não o impedi. Respondi, firme:

— Está bem.

Um instante de surpresa cruzou o rosto de Fabrício, o corpo dele hesitou, mas logo retomou o gesto de arrombar a porta.

Sem hesitar, corri para fora.

Meia hora depois, Fabrício saiu do incêndio carregando Mafalda Siqueira nos braços.

Reparei de imediato que ele mancava, o joelho da calça, à esquerda, estava encharcado de sangue.

Sem sequer me olhar, entrou na ambulância com Mafalda.

Na vida passada, no dia do nosso casamento, o hotel incendiou.

O fogo era feroz e Fabrício insistia em voltar para salvar Mafalda. Eu o segurei com todas as forças e consegui impedir.

Mafalda acabou morrendo nas chamas.

Fabrício passou a me odiar profundamente e também ao filho que dei à luz.

No nosso terceiro aniversário de casamento, que era também o terceiro aniversário da morte de Mafalda, ele fingiu convidar a mim e ao nosso filho para mergulhar. Nas profundezas, arrancou silenciosamente nossos tubos de oxigênio.

Supliquei que poupasse nosso filho, ofereci minha vida em troca, mas ele permaneceu imóvel, assistindo enquanto nós dois morríamos sufocados.

Só naquele dia compreendi que ele sempre amara, em segredo, aquela sobrinha sem laços de sangue.

Nesta vida, quando o vi se arriscar para salvar a Mafalda, deixei que ele o fizesse.

Naquele mesmo dia, apresentei à escola onde trabalhava o pedido oficial para atuar como professora voluntária no interior.

A voz do diretor soou tomada por surpresa e entusiasmo:

— Valentina, você acabou de se casar, o período mínimo dessa missão é de três anos. Tem certeza de que quer ir?

Respondi sem a menor hesitação:

— Tenho sim! Daqui a sete dias, estarei na nova escola, pontualmente.

Nesta vida, decidi partir e os deixar com esse "amor" que tanto defendem.
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